Os conflitos entre grupos civis de apoio ao governo de Evo Morales e de apoio ao autonomista Conalde (Conselho Nacional Democrático) chegam ao terceiro dia, com pelo menos três mortos e 12 feridos, de acordo com o Ministério do Interior. Informações divulgadas pela imprensa local elevam esses números para quatro mortos e pelo menos 70 feridos. Ontem (10), o presidente Evo Morales decidiu declarar o embaixador estadunidense, Philip Goldberg, persona non grata na Bolívia e pediu que o diplomata deixasse o país.
Nesta quinta-feira (11/09), o embaixador da Bolívia no Brasil, René Maurício Dorfler, afirmou, em coletiva de imprensa, em Brasília, afirmou que o governo boliviano estuda a possibilidade de decretar Estado de Sítio no país, situação respaldada pela constituição boliviana. O ministro da Fazenda da Bolívia, Luis Alberto Arce, disse que as Forças Armadas bolivianas devem ser convocadas para resguardar os campos de petróleo. Para Arce, houve uma tentativa de golpe no país, combinada com atos de vandalismo e de terrorismo.
O presidente boliviano acusou Goldberg de incitar os protestos dos separatistas bolivianos. Goldberg se mostrou surpreso com a decisão de Morales de expulsá-lo do país. O porta-voz do Departamento de Estado estadunidense, Gordon Duguid, disse que as acusações de Morales não tinham fundamento e afirmou que a embaixada dos Estados Unidos em La Paz não recebeu nenhum comunicado do governo local para que o diplomata abandonasse o país.
Com a declaração de persona non grata, culmina uma série de acusações por parte do governo boliviano contra Goldberg, sobre a utilização da ajuda dos EUA para financiar a oposição política boliviana com o dinheiro da Agência para o Desenvolvimento Internacional. Para o Departamento de Estado dos EUA, a expulsão foi "erro grave" e coloca em risco as relações diplomáticas entre os dois Estados.
Já o ministro da Presidência boliviano, Juan Ramon Quitana, afirmou que essa declaração de Morales não significa necessariamente uma ruptura das relações diplomáticas entre Bolívia e EUA. De acordo com o ministro, Morales assegurou em várias ocasiões que o país não iria suspender suas relações com Washington, mesmo utilizando meios necessários para garantir sua soberania.
Hoje à tarde, a empresa Transierra informou que retomou o envio de gás natural da Bolívia ao Brasil, após sete horas de interrupção. Segundo a companhia, uma válvula que havia sido fechada por opositores ao governo foi reaberta. Com isso, a empresa conseguiu retomar o envio dos 14 milhões de metros cúbicos de gás que haviam sido interrompidos na madrugada de hoje e que representam cerca de 50% de todo o gás natural boliviano exportado ao Brasil.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil enviou nota oficial, nesta quarta-feira, em apoio ao governo boliviano, lamentando o "recrudescimento da violência e dos atos de desacato às instituições e à ordem legal" no país vizinho. "O Governo brasileiro se solidariza com o Governo constitucional da Bolívia e espera que cessem imediatamente as ações dos grupos que lançam mão da violência e da intimidação", afirma a nota.
Em relação ao abastecimento de gás, o Itamaraty disse que "o governo brasileiro está tomando todas as medidas necessárias para garantir o abastecimento de gás no País". A Petrobrás também divulgou nota sobre a situação boliviana explicando que os acontecimentos bolivianos afetariam o fornecimento de gás natural para o Brasil, não havendo ainda impacto para o abastecimento interno.
(Adital, 11/09/2008)