O ministro da Fazenda da Bolívia, Luis Alberto Arce, informou nesta quinta-feira que as Forças Armadas bolivianas devem ser convocadas para proteger os campos de petróleo dos protestos realizados pela oposição ao governo do presidente Evo Morales.
Nesta quarta-feira, uma explosão causou danos em parte de uma das válvulas do gasoduto de Yacuíba que abastece o Brasil. Segundo estimativas, os 31 milhões de metros cúbicos de gás natural que a Bolívia envia diariamente irão diminuir em aproximadamente 10% nas próximas 48 horas.
"Atos de vandalismo e terrorismo foram verificados especialmente em dutos que transportam gás ao mercado externo e interno", confirmou Arce, em entrevista coletiva concedida hoje em Brasília. "O governo está tomando as medidas necessárias para que as Forças Armadas passem a resguardar os campos petroleiros do país. A polícia está realizando as investigações necessárias para processar os culpados", completou o ministro.
Em nota divulgada na noite desta quarta-feira, a Petrobras admitiu que os protestos na Bolívia afetaram parcialmente o fornecimento de gás natural ao Brasil, mas garantiu que até aquele momento não havia "nenhum impacto para o abastecimento de gás natural no país".
A Petrobras disse ainda que adotou "medidas operacionais previstas em seu plano de contingência" para reduzir o impacto no abastecimento brasileiro. A empresa ressaltou que tenta recuperar o mais rápido possível os danos causados na válvula de segurança em Yacuíba. Os técnicos da empresa estatal boliviana YPFB (Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos) já trabalham no conserto, que pode durar 15 a 20 dias.
Racionamento
Para especialistas, o Brasil pode evitar um racionamento de gás caso se o governo efetivamente colocar em ação um plano emergencial de contingência. "Acredito que um corte de 10% no abastecimento de gás possa ser administrado, sem haver racionamento. Dá para desligar as térmicas à gás, desabastecer as indústrias e os automóveis e gerar energia elétrica com a água, além de usar mais óleo diesel", afirmou Adriano Pires, especialista do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
Para a a especialista em Petróleo e Gás do escritório L.O.Baptista Advogados, Daniela Santos, a restrição de gás não deve afetar, a princípio, o consumidor final que usa gás residencial ou veicular. "As indústrias (como as de vidro e cerâmica), sobretudo de São Paulo e do Sul do país devem ser as maiores prejudicadas", afirmou. "Quando a restrição é pequena, dá pra entregar menos gás para algumas indústrias e criar uma estrutura de fornecimento que afete o mínimo possível o consumidor. O governo precisa pensar quem poderia receber menos gás", acrescentou Santos.
(Agência Brasil, colaboração para a Folha Online, 11/09/2008)