Não são só as ruas e as avenidas que andam congestionadas. O fluxo de carros, caminhões e motos nas 21 rodovias que contornam ou cruzam a região metropolitana de São Paulo aumentou 34% nos últimos dez anos. De acordo com a Pesquisa Origem-Destino divulgada na semana passada pelo Metrô, 389 500 veículos circularam diariamente nessas estradas em 2007. “A economia aquecida e o aumento da frota são alguns dos fatores que podem explicar o crescimento”, afirma o diretor de planejamento e expansão dos transportes metropolitanos Marcos Kassab, irmão do prefeito Gilberto Kassab. Em rodovias como a federal Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte, o tráfego mais que dobrou na altura da cidade de Atibaia. “Em 2000 foi concluída a duplicação do trecho que passa por São Paulo, daí o maior fluxo”, justifica Tibério Freitas, inspetor do núcleo de comunicação da Polícia Rodoviária Federal. Apesar de mais gente na estrada, os acidentes caíram 28% com o aumento da fiscalização eletrônica.
Famosa por seus intermináveis congestionamentos que se formam na entrada da capital, a Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio de Janeiro, também teve o movimento dobrado nos últimos dez anos. “Com a privatização, em 1996, a estrada recebeu melhorias, e muitos motoristas passaram a usá-la como alternativa à Ayrton Senna”, diz o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria. Na segunda-feira passada, o governador José Serra anunciou que pretende construir, em parceria com o governo do Rio, uma rodovia com traçado paralelo à Dutra.
Orçada em 3,1 bilhões de reais, com previsão de cinco anos de obras, a nova via partiria de um prolongamento da Carvalho Pinto, em Taubaté, e seguiria até o Rio de Janeiro. “A gente tem de pensar no futuro. Aqui em São Paulo tinha a Anhangüera e fizeram a Bandeirantes. Hoje, as duas estão lotadas”, afirma Serra. “Será uma opção mais moderna, de traçado menos tortuoso na serra, e que passará em uma área de alto desenvolvimento econômico”, prevê o secretário estadual dos Transportes, Mauro Arce.
Segundo os especialistas, a preferência dos motoristas pela Dutra é um dos motivos da diminuição do tráfego de sua paralela no trecho paulista, a Ayrton Senna, que hoje recebe diariamente 36% menos veículos em relação a 1997. Castello Branco e Anchieta também podem ter perdido tráfego para vias alternativas, como o Rodoanel e a Imigrantes, respectivamente. “Como a Castello e a Anchieta engarrafam diariamente, os motoristas tendem a procurar outras rotas”, aponta o engenheiro Leonardo Lorenzo, diretor da Geomética, consultoria especializada em projetos viários.
A expansão dos condomínios fechados de classe média alta no entorno da capital, nos últimos dez anos, também influiu no aumento do trânsito nas estradas que ligam São Paulo a esses loteamentos. É o caso da Raposo Tavares. O início das obras do Rodoanel, em 1998, desencadeou um boom imobiliário na região. De lá para cá, o número de lançamentos em Cotia aumentou quatro vezes, Segundo dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). Em 22 anos, o antigo reduto agrícola de chácaras e pequenas propriedades ganhou 1,2 milhão de metros quadrados construídos e 9 135 unidades residenciais. “Como os moradores desses bairros dependem do carro para tudo, o trecho da Raposo até Cotia se transformou numa grande avenida urbana”, diz a urbanista Regina Meyer.
Além de medir o movimento das estradas, a Pesquisa Origem-Destino ouviu 92000 pessoas em 30 000 domicílios para saber como se locomovem os 19,3 milhões de habitantes da Grande São Paulo. Todos os dias, a população faz 37,6 milhões de viagens — 25 milhões motorizadas, 12,3 milhões a pé e 300 000 de bicicleta. O transporte coletivo é usado em 55% dos percursos, enquanto o automóvel, em outros 45%. É a primeira vez desde 1967 que cresce a participação de ônibus, trens e metrô no total de viagens motorizadas. Eis uma boa notícia, que mostra como o trânsito paulistano poderia fluir com a melhoria do transporte público.
(Por Fábio Brisolla e Maria Paola de Salvo,
Revista Veja São Paulo, 10/09/2008)