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manejo sustentável sistemas agroflorestais parque nacional da serra do divisor
2008-09-12
Programa Arpa apóia iniciativa no entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor.

Os conhecimentos e a experiência dos índios Ashaninka no manejo sustentável da floresta podem criar uma nova perspectiva para as comunidades não-indígenas do entorno do Parque Nacional da Serra do Divisor. Extrativistas da Resex do Alto Juruá, localizados às margens do Rio Amônia, são os principais beneficiários do Projeto Implantação de Sistemas Agroflorestais (Safs) e Manejo da Meliponicultura, coordenado por Benki Piyanko, liderança indígena da Comunidade Apiwtxa do Rio Amônia, e Sheyla Sant’Anna, gestora técnica e parceira da comunidade. Apoiado pelo Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), por intermédio do Funbio, o projeto é uma das atividades do Centro Yorenka Ãtame, iniciativa cultural e pedagógica inédita dos Ashaninka para levar seus conhecimentos para além dos limites da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia.

Por meio da realização de cursos, o Centro Yorenka Ãtame, localizado no município de Marechal Thaumaturgo, promove a troca de saberes índios e não-índios, e neste projeto  valoriza a implantação de sistemas agroflorestais e a produção de mel com abelhas nativas como opções mais saudáveis e sustentáveis para a manutenção das comunidades e da floresta. Os cursistas recebem casa, alimentação, pouquíssimas aulas teóricas e muitas práticas, e ainda podem visitar a aldeia Ashaninka para ver o que já está dando certo: fartura de comida nas casas, crianças saudáveis, cestos cheios de alimentos e caixas de abelhas espalhadas pelos quintais. A criação de abelhas nativas é um dos principais módulos do curso porque elas aumentam a polinização e trazem alimento suplementar à dieta das famílias.

O apoio do Arpa para o projeto, iniciado em julho de 2008 e com previsão de término no início de 2010, está vinculado ao subcomponente Participação Comunitária, que incentiva o fortalecimento das populações vizinhas às unidades de conservação de proteção integral apoiadas pelo programa. No caso do Parque Nacional da Serra do Divisor, o projeto tem como objetivo principal mostrar às famílias não-indígenas desalojadas pela criação do parque uma alternativa à derrubada de floresta no assentamento criado para recebê-las às margens do Rio Amônia. O desmatamento é incentivado pelo Incra, por meio de crédito, sendo considerado benfeitoria no processo de titulação definitiva das terras.

O projeto é realizado em sintonia com as atividades da Comissão Pró-Índio (CPI-AC), que também está recebendo apoio do Arpa dentro do subcomponente de participação comunitária. Alguns módulos de formação oferecidos pela CPI vão ocorrer no Centro Yorenka Ãtame e os Ashaninka poderão incluir seus bolsistas e alunos nessas capacitações. Essa ONG acreana foi pioneira no trabalho de formação de agentes agroflorestais indígenas e certamente plantou a semente do empreendedorismo entre os Ashaninka.

Mais sobre o Centro Yorenka Ãtame

Criado há um ano e meio, o Centro Yorenka Ãtame foi idealizado por sete irmãos para realizar um sonho do avô, Samuel Piyanko: promover a união de índios e brancos para perpetuar a principal fonte de abastecimento de suas famílias e vizinhos – a floresta viva, em pé.

O início dos trabalhos se deu em 2007, com a capacitação de jovens índios e não-índios (ainda em curso), e contou com financiamento da empresa Neutralize, voltada para projetos de  neutralização de carbono. Índios Ashaninka do Peru, da Comunidade Tamaya, são presença nas capacitações. Todos os jovens, homens e mulheres, sejam índios ou não, recebem bolsas para trabalhar e aprender no Centro, que foi construído em uma área de pasto que está sendo totalmente reflorestada.

Os Ashaninka já trabalharam com madeira e caucho e convivem há cinco gerações com a população de não-índios, hoje ocupantes da Reserva Extrativista do Alto Juruá. Eles vêm observando as alterações aceleradas na paisagem que circunda suas terras, causadas, sobretudo pela conversão da floresta em pastagens. Foi este contexto que motivou as lideranças da comunidade a instalar o Centro Yorenka Ãtame, em Marechal Thaumaturgo, a referência urbana mais próxima das unidades de conservação da região. Construído na outra margem do rio Juruá, onde se localiza a cidade.

Na aldeia, os Ashaninka criam peixes e tracajás em açudes que já estão com capacidade de produção para extrativismo. Além disso, estão redefinindo uma área de criação de jabutis, já que a anterior foi destruída por uma imensa inundação, ocorrida este ano, que causou muitos prejuízos aos ribeirinhos amazônicos de modo geral. A formação de açudes para essa finalidade também está na agenda do Centro Yorenka Ãtame, que já tem seu viveiro em formação.

Outra inovação do Centro foi sua inserção na era digital, realizada por meio da Rede Povos da Floresta, iniciativa de uma Ong carioca, a Associação de Cultura e Meio Ambiente, e viabilizada com o apoio dos ministérios das Comunicações, da Cultura e do Meio Ambiente. Hoje eles possuem antenas parabólicas instaladas e computadores que permitem a comunicação entre as comunidades da floresta e um constante trabalho de denúncia contra a ação de madeireiras peruanas na região. São nove pontos de internet no Alto Juruá.

(Por Márcia Soares — Colaboraram Marina Kahn - Funbio e Sheyla e Sant’Anna - Associação Apiwtxa. FUNBIO Informa - Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, 11/09/2008)

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