Aquecimento global, efeito estufa e desmatamento na Amazônia são problemas corriqueiros tratados por qualquer veículo de comunicação. Também pudera. Por interferirem no clima mundial, influenciam a rotina de todas as pessoas. Entretanto, existem problemas tão preocupantes quanto essas demandas e que atingem diretamente o Vale do Taquari. Por isso, foi com foco na região que o seminário "A importância da informação ambiental na educação" atraiu dezenas de alunos e professores de escolas de ensinos Médio e Técnico ao auditório do prédio 3 da Univates. Organizado pelo projeto Meio Ambiente na Escola, que circula todos os meses no jornal O Informativo do Vale, o evento revelou realidades preocupantes e que estão mais próximas do que se imagina.
Quem abriu a sessão de alertas foi a bióloga e funcionária da Secretaria de Meio Ambiente e Saneamento Básico de Estrela, Jaqueline Spellmeier. Ela demonstrou que apesar dos aparentes transtornos que podem causar, os banhados são insubstituíveis para a manutenção da qualidade de vida na região. "Se fala muito na preservação de florestas, mas esquecemos dessas unidades úmidas, consideradas as mais produtivas do mundo", revela. "Em algumas delas, encontramos oito vezes mais matéria orgânica que em outros campos de cultivo", acrescenta. Prova dessa biodiversidade foi encontrada em um único banhado, localizado em Estrela, que serviu de estudo para a bióloga. Nele, a especialista contabilizou 145 espécies.
Mas além da diversidade de vida, os famigerados banhados carregam consigo outras utilidades nem sempre perceptíveis à visão limitada do ser humano. Entre suas funções estão melhorar o clima local, armazenar água, abastecer aqüíferos subterrâneos e até controlar os efeitos de enchentes, uma vez que funcionam como esponjas. Outro argumento forte a favor dessas áreas é que, sozinhas, são responsáveis por "segurar" um quinto de todo o gás carbônico existente no planeta. Ou seja, sem banhados, mais CO2 na atmosfera e, por conseqüência, aumento do efeito estufa e do aquecimento global. Mas todas essas características acabam soterradas pelo uso dessas áreas para abastecer lavouras de arroz ou cada vez que uma delas é aterrada pelo concreto.
Aqüífero Guarani
A água também foi tema da palestra do mestre em Geociência e coordenador técnico do programa Pró-Rio Uruguai - Aqüífero Guarani, da Secretaria da Irrigação e Usos Múltiplos da Água do Estado, Henrique Carlos Fensterseifer. O professor da Univates afirma que o uso racional dessa fonte de vida bastaria para manter com folga toda a população mundial. "A humanidade não tem o suficiente por questões políticas, geográficas e relacionadas a desigualdades sociais", comenta. Exemplo dessa falta de foco, segundo ele, é que 82% da água utilizada no mundo serve para irrigação.
E é a própria agricultura que pode contaminar um tesouro que a região guarda debaixo da terra. "O uso de agrotóxicos, agroquímicos e o desmatamento afeta os recursos hídricos superficiais e subterrâneos", explica Fensterseifer. E nessa reação em cadeia quem pode perder é o tão alardeado Aqüífero Guarani, que repousa abaixo do solo do Vale do Taquari. "A água contaminada vai, de um jeito ou de outro, para cima das fendas e, por conseqüência, alimenta o aqüífero", alerta.
Parceria
Os parceiros do seminário foram Conpasul, Univates, Faros, Olicenter e Charrua. Presentes na abertura, o diretor-presidente da Rede Vale de Comunicação, Oswaldo Carlos van Leeuwen; a coordenadora do Meio Ambiente na Escola, Miriam Volkmer Destefani; a coordenadora regional de Educação, Rosana Schneider Rührwiem; e a secretária do Meio Ambiente de Lajeado, Simone Schneider; e a coordenadora do curso de Biologia da Univates, Claudete Rempel.
No campo e na cidade
As discussões em torno do meio ambiente não se restringiram à água. O campo e a cidade também serviram de pano de fundo para abordar o tema. O engenheiro agrícola e professor da Univates, Glauco Schultz, sugere uma alternativa viável para desenvolver de maneira sustentável um dos segmentos mais importantes da economia brasileira. "A grande alavanca do crescimento no país é o agronegócio, responsável por um terço das riquezas geradas aqui. O número é bonito, rende capas em jornais e revistas, mas a realidade não é bem assim", alerta. "A forma de produção, que se caracteriza pelo uso de tecnologias, melhoramento genético, intensificação do uso de fertilizantes, de irrigação e de equipamentos nas propriedades, é insustentável", completa.
Para Schultz, o problema desse modelo é que ele tenta adaptar a natureza à sua necessidade, quando o correto seria o contrário. Por isso, a sugestão do especialista é apostar na agroecologia como saída. "Hoje, o agricultor não dita o preço, a forma de produção, nem a semente que vai usar. No sistema proposto, ele volta a ter autonomia e se torna praticamente um cientista, já que não existe uma receita pronta para isso", argumenta. Apesar dos fatos favoráveis, Schultz admite que a iniciativa ainda engatinha no Brasil. Entretanto, a adesão a esse modelo agrícola por produtores de 15 municípios do Vale do Taquari é um indicativo de mudança.
E mudar o cenário é um desafio também das cidades. O tema "Uma visão da biologia sobre o meio urbano", abordado pelo mestre em Botânica Emerson Musskopf, encerrou o seminário. Questões como o alto grau de impermeabilização do solo, o destino de efluentes domésticos e industriais, poluição do ar, drenagem de banhados e concentração de moradias em áreas de risco são desafios dos centros urbanos espalhados pela região rumo à qualidade de vida.
Para Musskopf, todas as questões estão relacionadas ao crescimento desordenado das cidades. Como forma de minimizar os problemas ambientais nas zonas urbanas, as alternativas vão desde rigor nos licenciamentos ambientais até execução de ações de recuperação de matas nativas. "O que precisamos é gerenciar melhor o planeta", resume.
(O Informativo do Vale, 11/09/2008)