A primeira coisa que os moradores de Tabaí e Triunfo viram foi uma parede negra misturada com nuvens de poeira amarela no horizonte, a Sudeste.
Em instantes, um vento de violência raras vezes registrada varreu áreas dos municípios do Vale do Taquari e da Região Carbonífera, fazendo caminhões rolarem como gravetos, destruindo construções, arrancando dezenas de árvores e ferindo pessoas. A meteorologia acredita que pode ter se tratado de um tornado, fenômeno em que o vento atinge mais de 100 km/h. Em função da ventania, 30 pessoas buscaram atendimento em hospitais da região.
O evento destruidor ocorreu em um dia marcado por reviravoltas no tempo e estragos provocados por temporais e pedras de gelo em diferentes pontos do Estado. A área mais atingida foi a localidade de Coxilha Velha, entre Triunfo e Tabaí. O vendaval arrasador ocorreu às 16h30min, durou 20 minutos e foi acompanhado por uma tempestade de granizo. Derrubou o que encontrou pelo caminho.
O centro de compras Coxilha Velha, uma loja de vestuário na BR-386, ficou como se tivesse sido atingido por uma bomba. O teto desabou, nenhuma vitrine sobrou inteira e estilhaços de vidro transformaram o local em armadilha para quem se atrevesse a entrar. Manequins e roupas ficaram espalhados pelo que restou do prédio.
– Vi tudo escuro e veio um vento forte. Falei para um colega: “Ainda bem que o teto não caiu”. Terminei a frase e tudo desabou – contou Cleto Paulo Sitowski, um dos funcionários mais antigos da empresa.
Ele diz que a chuva de granizo vinha inclinada. Dois funcionários foram machucados pelas pedras de gelo. Precisaram buscar atendimento hospitalar. Ao lado do centro de compras, carros foram arrastados por até 50 metros. O motorista Mario Anschau, 38 anos, deslocava-se de Osório para Lajeado com uma carreta carregada de garrafas de refrigerante. Na altura do km 385, ele parou o veículo por causa do congestionamento. Foi quando o vento levantou o caminhão e o fez tombar de lado junto à rodovia. Anschau estava dentro do veículo.
– Foi a coisa mais horrível que já passei na vida – descreveu.
No km 390 da BR-386, no sentido Capital-Lajeado, uma carreta, uma Fiorino e um caminhão tombaram com o vento. Na área urbana de Tabaí, o teto de um posto de gasolina desabou sobre um caminhão. Em visita à mãe na cidade, o morador da Capital Luiz Fernando Braga Silveira viu o telhado da residência ser arrancado. Dentro de casa, as pessoas se esconderam para buscar proteção. Dezenas de casas foram destelhadas.
Segundo a Brigada Militar de Triunfo e a Defesa Civil, mais de cem casas foram destelhadas, a maior parte no bairro Coxilha Velha. O telhado de uma usina de reciclagem caiu. A estrutura de zinco foi arrancada com o vento e era possível ver garrafas plásticas espalhadas pelo pátio. Duas pessoas foram socorridas pela Samu e tiveram escoriações leves.
Na frente da usina, um caminhão da própria empresa foi arrastado por cerca de 20 metros pelo vento, bateu em um poste e caiu em um barranco. Segundo a enfermeira Patrícia Turossi, do Hospital Montenegro, no total, 30 pessoas deram entrada em razão do temporal, sendo que três delas estavam em estado grave e foram encaminhadas ao HPS de Canoas com fraturas. Uma delas era uma mulher que teria caído de uma altura de cinco metros. Dez pacientes continuam ontem a noite no hospital.
Em Paverama, entre Tabaí e Lajeado, garçons de um restaurante perderam a conta dos carros que passaram parecendo ter sido metralhados. Os veículos tinham vidros quebrados e lataria amassada por pedras de gelo do tamanho de ovos de galinha.
(Zero Hora, 11/09/2008)