Quem causa mais problemas, uma usina termelétrica a carvão que provoca inúmeros danos ao meio ambiente ou ambientalistas que tentam fechá-la? A Justiça inglesa não teve dúvidas: a defesa do meio ambiente é mais importante. Numa decisão inédita, o júri composto por representantes do público inglês absolveu nesta quarta-feira seis ativistas do Greenpeace que interromperam os trabalhos da usina de Kingsnorth, em Kent (condado situado no sudoeste da Inglaterra), sob a alegação de que com a ação eles estavam defendendo o meio ambiente dos impactos das mudanças climáticas.
É a primeira que a alegação de prevenção de danos provocados pelas alterações climáticas foi usada em um tribunal. Com o resultado, os planos do governo inglês de aumentar a participação do carvão na matriz energética do país sofreu um duro golpe.
No julgamento, que teve a duração de cinco dias, foram ouvidos vários especialistas, como o professor James Hansen, diretor da Nasa que aconselhou Al Gore no trabalho que deu ao ex-vice presidente dos Estados Unidos o prêmio Nobel da Paz. Hansen explicou à corte que mais de um milhão de espécies serão extintas por causa das mudanças climáticas e que só a usina de Kingsnorth seria responsável pelo fim de aproximadamente 400 delas.
O professor disse também que concorda com Al Gore quando o ex-presidente afirma que todos deveriam se acorrentar às usinas de carvão para impedir o seu funcionamento. "Alguém tem que começar a dizer basta às centrais elétricas de carvão", afirmou o professor.
O Greenpece Brasil também contribuiu para a absolvição dos ativistas ingleses. O professor Geoff Meaden, outro especialista em clima, estava no Brasil nos dias do julgamento e foi ouvido por vídeo-conferência, ao vivo do escritório da organização em São Paulo.
Os especialistas disseram que a usina de Kingsnorth emite 20 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por dia, o equivalente à soma das emissões dos 30 países menos poluentes no mundo. A defesa também falou sobre os planos do governo inglês de construir novas centrais a carvão, ao lado da usina já existente. "Não éramos os únicos na cadeira dos réus, as usinas a carvão também estavam sendo julgadas e elas foram condenadas", disse Emily Hall, uma das voluntárias que participaram da ação em Kingsnorth.
(Greenpeace, 11/09/2008)