Especialistas no assunto discutiram a viabilidade de fontes complementares de energia, como a de biomassa e a eólica, em evento realizado pela revista Exame, no dia 8 de setembroO 1º Seminário Exame de Energias Renováveis – que aconteceu no dia 8 de setembro e foi realizado pela revista Exame e pela EDP Energias do Brasil e patrocinado pela KPMG Corporate Finance – reuniu profissionais ligados ao setor de energia para que eles acompanhassem as discussões entre especialistas da área sobre o atual contexto energético do país e os desafios para o futuro.
Alexandre Caldini, diretor superintendente da revista Exame, abriu o seminário falando sobre a importância de o Brasil ter começado seus investimentos na produção e no uso de álcool, em detrimento à gasolina, nos anos 80, se ser bastante competitivo no setor, atualmente.
Segundo Caldini, a energia eólica – que hoje corresponde a apenas 1% da produção total de energia nas Américas e 0,24%, no Brasil – também é uma fonte promissora, que deve chegar a 20% da produção nos próximos 30 anos. Só o potencial eólico brasileiro equivale à produção de dez usinas de Itaipu. Nosso potencial solar também não deve ser dispensado e já é duas vezes maior do que o da Alemanha, país que mais investe nessa fonte.
As previsões indicam que o consumo de energia no mundo deve dobrar até 2030, o que torna imprescindível a discussão sobre outras fontes energéticas e o desenvolvimento de novas tecnologias que possam viabilizá-las. Caldini apresentou dados que mostram como a distribuição de energia ainda é desigual no mundo: os 5% mais ricos da população consomem cerca de 58% da energia total produzida e os 50% mais pobres utilizam apenas 4%. Se quisermos um crescimento econômico mais equiparado e IDHs mais altos no mundo, será necessário suprir a carência de energia dos cerca de 2 bilhões de habitantes que ainda não possuem acesso a ela.
O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, lembrou que o Brasil possui a matriz energética mais limpa do mundo, com 46% de fontes renováveis – bem mais que a média mundial, de 13 a 14%, e que a porcentagem dos países desenvolvidos, que é de apenas 7%. De acordo com Zimmermann, a intenção do governo é de, no mínimo, manter essa expressividade, investindo em hidroeletricidade – desde 2005, 49% dos leilões se destinaram à concessão de hidrelétricas – e ampliando a participação do Brasil na produção de etanol e biomassa, além de dar mais atenção à energia eólica e solar como fontes complementares.
Sobre a competição entre a produção de biocombustíveis e a de alimentos, o secretário disse que esse pode ser um problema para os países europeus, mas a preocupação não se aplica ao Brasil, que tem enorme disponibilidade de terras e vem aumentando a produtividade do etanol.
Ele ainda comentou que o potencial energético brasileiro atual gira em torno de 260 mil Megawatts. Atualmente, utilizamos 104 mil Megawatts e, até 2030, devemos ter uma capacidade de 225 mil Megawatts instalada. Entretanto, Zimmermann disse que o Brasil também vai investir em termelétricas a carvão como, aliás, também tem feito a Inglaterra. Hoje, 40% da energia produzida no mundo vêm das termelétricas e, nos Estados Unidos, essa quantidade chega a 50%. O presidente mundial da EDP, Antônio Mexia, também defendeu a expansão das termelétricas e a utilização de gás natural e carvão e disse que deve haver um aumento de 55% de produção de energia termelétrica no Brasil até 2012.
Para o secretário, também não deveríamos desperdiçar o potencial brasileiro em produzir energia nuclear, já que possuímos uma das maiores reservas de urânio do mundo e poderíamos ser o segundo maior produtor desse tipo de energia.
Durante o seminário, diversos palestrantes abordaram a necessidade de se aumentar a eficiência energética no país e reforçaram a idéia de que energias renováveis como eólica, solar e de biomassa não devem ser entendidas como fontes alternativas e, sim, como fontes complementares. Uma das vantagens dessas três matrizes limpas é que seus potenciais aumentam no período de secas – justamente quando as hidrelétricas diminuem a sua capacidade de produção.
Por enquanto, o etanol e a biomassa são a promessa de sucesso mais imediato, inclusive com possibilidade de exportação de parte desse potencial. Hoje, a frota de carros no Brasil consome mais álcool do que gasolina devido à chegada do carro flex, em 2003 – tecnologia presente em 90% dos veículos leves vendidos no país.
A produção brasileira de cana-de-açúcar tem crescido 50 milhões de toneladas por ano e as usinas sucroalcooleiras têm conseguido manter sua produção estável, mesmo nos períodos de entressafra, e já são energeticamente auto-suficientes, em função do aproveitamento da energia do bagaço de cana. O objetivo agora é produzir cada vez mais excedentes que possam ser destinados à rede nacional, pois a energia potencial do aproveitamento do bagaço pode suprir 15% da demanda energética do país.
José Carlos Toledo, presidente da UDOP – União dos Produtores de Bioenergia, ainda ressaltou a oportunidade de também se aproveitar as folhas e pontas da cana. Ele também esclareceu sobre o equívoco em se pensar que o etanol brasileiro quer competir com o etanol produzido nos Estados Unidos, por exemplo. Para Toledo, o etanol compete com o petróleo - cada vez mais caro e escasso e com emissões de CO2 90% maiores.
Alan Riddell, sócio da KPMG, disse que essa matriz se torna cada vez mais viável devido ao processo de retrofit, que vem substituindo as caldeiras antigas por outras mais modernas. No entanto, pode ser que, em alguns anos, com a produção de etanol celulósico, o preço da biomassa aumente. Pelo menos, foi o que alertou Mário Veiga, presidente da PSR Consultoria.
Os especialistas se dividiram sobre a viabilidade econômica da energia eólica, que, por enquanto, é considerada cara se comparada à biomassa, por exemplo. Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, devemos investir em energia eólica não porque ela é competitiva, mas por se tratar de uma tendência mundial. Mas, com a futura queda do ciclo da biomassa, provavelmente a energia eólica terá sua vez. Lauro Fiúza, presidente da Abeeólica – Associação Brasileira de Energia Eólica, é a favor da energia eólica como uma boa maneira de evitar o uso das térmicas, que são mais caras.
A partir de 2009, está previsto que a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica regulamente os leilões para concessão de 2.370 Megawatts de energia de biomassa e eólica.
Além das fontes renováveis mais conhecidas, existem outras que podem ser exploradas com sucesso daqui pra frente. Jerson Kelman, presidente da ANEEL, falou sobre incentivos para a produção de energia de biogás, a partir de dejetos suínos e da queima de lixo, já que essas práticas são consideradas de interesse público.
Laura Porto, diretora de desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, salientou a importância de se valorizar os potencias regionais e locais de produção energética e citou a Política Nacional de Resíduos Sólidos Urbanos, que prevê o reaproveitamento de cascas, madeira e outros resíduos para a geração de energia.
Hoje, o Brasil é o país que mais recebe investimentos privados no setor elétrico. Para Márcio Zimmermann, falta incrementar os investimentos do Estado, a motricidade tarifária, por meio de leilões, e a segurança energética. Ele também lembrou que o setor energético é o único que ainda não foi transformado em agência e precisa, urgentemente, de um marco regulatório. Leontina Maria Pinto, diretora executiva da Engenho Pesquisa, Desenvolvimento e Consultoria, também defendeu a necessidade de regras para o setor.
Sobre as questões relacionadas a financiamento de energia, foi consenso entre os especialistas de que ainda não há opção mais barata do que o BNDES.
O 1º Seminário Exame de Energias Renováveis – que aconteceu no dia 8 de setembro e foi realizado pela revista Exame e pela EDP Energias do Brasil e patrocinado pela KPMG Corporate Finance – reuniu profissionais ligados ao setor de energia para que eles acompanhassem as discussões entre especialistas da área sobre o atual contexto energético do país e os desafios para o futuro.
Alexandre Caldini, diretor superintendente da revista Exame, abriu o seminário falando sobre a importância de o Brasil ter começado seus investimentos na produção e no uso de álcool, em detrimento à gasolina, nos anos 80, se ser bastante competitivo no setor, atualmente.
Segundo Caldini, a energia eólica – que hoje corresponde a apenas 1% da produção total de energia nas Américas e 0,24%, no Brasil – também é uma fonte promissora, que deve chegar a 20% da produção nos próximos 30 anos. Só o potencial eólico brasileiro equivale à produção de dez usinas de Itaipu. Nosso potencial solar também não deve ser dispensado e já é duas vezes maior do que o da Alemanha, país que mais investe nessa fonte.
As previsões indicam que o consumo de energia no mundo deve dobrar até 2030, o que torna imprescindível a discussão sobre outras fontes energéticas e o desenvolvimento de novas tecnologias que possam viabilizá-las. Caldini apresentou dados que mostram como a distribuição de energia ainda é desigual no mundo: os 5% mais ricos da população consomem cerca de 58% da energia total produzida e os 50% mais pobres utilizam apenas 4%. Se quisermos um crescimento econômico mais equiparado e IDHs mais altos no mundo, será necessário suprir a carência de energia dos cerca de 2 bilhões de habitantes que ainda não possuem acesso a ela.
O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, lembrou que o Brasil possui a matriz energética mais limpa do mundo, com 46% de fontes renováveis – bem mais que a média mundial, de 13 a 14%, e que a porcentagem dos países desenvolvidos, que é de apenas 7%. De acordo com Zimmermann, a intenção do governo é de, no mínimo, manter essa expressividade, investindo em hidroeletricidade – desde 2005, 49% dos leilões se destinaram à concessão de hidrelétricas – e ampliando a participação do Brasil na produção de etanol e biomassa, além de dar mais atenção à energia eólica e solar como fontes complementares.
Sobre a competição entre a produção de biocombustíveis e a de alimentos, o secretário disse que esse pode ser um problema para os países europeus, mas a preocupação não se aplica ao Brasil, que tem enorme disponibilidade de terras e vem aumentando a produtividade do etanol.
Ele ainda comentou que o potencial energético brasileiro atual gira em torno de 260 mil Megawatts. Atualmente, utilizamos 104 mil Megawatts e, até 2030, devemos ter uma capacidade de 225 mil Megawatts instalada. Entretanto, Zimmermann disse que o Brasil também vai investir em termelétricas a carvão como, aliás, também tem feito a Inglaterra. Hoje, 40% da energia produzida no mundo vêm das termelétricas e, nos Estados Unidos, essa quantidade chega a 50%. O presidente mundial da EDP, Antônio Mexia, também defendeu a expansão das termelétricas e a utilização de gás natural e carvão e disse que deve haver um aumento de 55% de produção de energia termelétrica no Brasil até 2012.
Para o secretário, também não deveríamos desperdiçar o potencial brasileiro em produzir energia nuclear, já que possuímos uma das maiores reservas de urânio do mundo e poderíamos ser o segundo maior produtor desse tipo de energia.
Durante o seminário, diversos palestrantes abordaram a necessidade de se aumentar a eficiência energética no país e reforçaram a idéia de que energias renováveis como eólica, solar e de biomassa não devem ser entendidas como fontes alternativas e, sim, como fontes complementares. Uma das vantagens dessas três matrizes limpas é que seus potenciais aumentam no período de secas – justamente quando as hidrelétricas diminuem a sua capacidade de produção.
Por enquanto, o etanol e a biomassa são a promessa de sucesso mais imediato, inclusive com possibilidade de exportação de parte desse potencial. Hoje, a frota de carros no Brasil consome mais álcool do que gasolina devido à chegada do carro flex, em 2003 – tecnologia presente em 90% dos veículos leves vendidos no país.
A produção brasileira de cana-de-açúcar tem crescido 50 milhões de toneladas por ano e as usinas sucroalcooleiras têm conseguido manter sua produção estável, mesmo nos períodos de entressafra, e já são energeticamente auto-suficientes, em função do aproveitamento da energia do bagaço de cana. O objetivo agora é produzir cada vez mais excedentes que possam ser destinados à rede nacional, pois a energia potencial do aproveitamento do bagaço pode suprir 15% da demanda energética do país.
José Carlos Toledo, presidente da UDOP – União dos Produtores de Bioenergia, ainda ressaltou a oportunidade de também se aproveitar as folhas e pontas da cana. Ele também esclareceu sobre o equívoco em se pensar que o etanol brasileiro quer competir com o etanol produzido nos Estados Unidos, por exemplo. Para Toledo, o etanol compete com o petróleo - cada vez mais caro e escasso e com emissões de CO2 90% maiores.
Alan Riddell, sócio da KPMG, disse que essa matriz se torna cada vez mais viável devido ao processo de retrofit, que vem substituindo as caldeiras antigas por outras mais modernas. No entanto, pode ser que, em alguns anos, com a produção de etanol celulósico, o preço da biomassa aumente. Pelo menos, foi o que alertou Mário Veiga, presidente da PSR Consultoria.
Os especialistas se dividiram sobre a viabilidade econômica da energia eólica, que, por enquanto, é considerada cara se comparada à biomassa, por exemplo. Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, devemos investir em energia eólica não porque ela é competitiva, mas por se tratar de uma tendência mundial. Mas, com a futura queda do ciclo da biomassa, provavelmente a energia eólica terá sua vez. Lauro Fiúza, presidente da Abeeólica – Associação Brasileira de Energia Eólica, é a favor da energia eólica como uma boa maneira de evitar o uso das térmicas, que são mais caras.
A partir de 2009, está previsto que a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica regulamente os leilões para concessão de 2.370 Megawatts de energia de biomassa e eólica.
Além das fontes renováveis mais conhecidas, existem outras que podem ser exploradas com sucesso daqui pra frente. Jerson Kelman, presidente da ANEEL, falou sobre incentivos para a produção de energia de biogás, a partir de dejetos suínos e da queima de lixo, já que essas práticas são consideradas de interesse público.
Laura Porto, diretora de desenvolvimento energético do Ministério de Minas e Energia, salientou a importância de se valorizar os potencias regionais e locais de produção energética e citou a Política Nacional de Resíduos Sólidos Urbanos, que prevê o reaproveitamento de cascas, madeira e outros resíduos para a geração de energia.
Hoje, o Brasil é o país que mais recebe investimentos privados no setor elétrico. Para Márcio Zimmermann, falta incrementar os investimentos do Estado, a motricidade tarifária, por meio de leilões, e a segurança energética. Ele também lembrou que o setor energético é o único que ainda não foi transformado em agência e precisa, urgentemente, de um marco regulatório. Leontina Maria Pinto, diretora executiva da Engenho Pesquisa, Desenvolvimento e Consultoria, também defendeu a necessidade de regras para o setor.
Sobre as questões relacionadas a financiamento de energia, foi consenso entre os especialistas de que ainda não há opção mais barata do que o BNDES.
(Por Thays Prado,
Planeta Sustentável, 09/09/2008)