Programa antipoluição prevê metas mais leves para motocicletas do que para automóveisA partir de janeiro de 2009, motores de motos terão padrões de emissão de poluentes que os de carros adotaram em 1997
Mesmo após a redução dos níveis de emissão de poluentes prevista para 2009 pelo Ministério do Meio Ambiente, motores de motos continuarão poluindo muito mais que os de carros. A partir de 1º de janeiro, a última etapa do Proconve (Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores) deixará os motores das motos com padrões que os carros adotaram em 1997.
Mantido o ritmo atual de crescimento da frota de veículos, em dez anos a de motos ultrapassará a de carros em emissões das principais substâncias poluentes na região metropolitana de São Paulo.
A projeção, feita pela consultoria EnvironMentality, especializada em tecnologias não-poluentes, considerou a manutenção do ritmo de crescimento e de renovação da frota da capital dos últimos 50 anos.
O estudo aponta que, a partir de 2018, motos devem superar carros nas emissões de material particulado (semelhante à fumaça do cigarro), que causa inflamação pulmonar, bronquite e doenças de coração.
No caso do monóxido de carbono (CO), que agrava alergias, e dos hidrocarbonetos (HC), que têm efeito cancerígeno (aldeídos) e agravam o efeito estufa (metano), as motos já superam os carros atualmente. E a diferença tende a crescer.
Desde 1997, os padrões para os automóveis já sofreram duas reduções. Para as motos, porém, não há nova etapa prevista após 2009. "As mudanças até agora não resolveram. O estudo é um alerta para um problema futuro, que irá acontecer se nada mais for feito", diz o consultor Gabriel Branco, coordenador da EnvironMentality.
Criado em 1986, o Proconve só fixou metas para motos a partir de 2003, 14 anos após os primeiros limites para carros.
"Antes disso, o percentual de motos era insignificante, não havia necessidade", argumenta a secretária de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente, Suzana Kahn.
Para o pesquisador da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva, a alta procura pela moto é "filha" de dois processos: "a falência do transporte coletivo e a "lentificação" do trânsito" nos últimos anos.
"A moto passou a ser a grande alternativa para se andar em uma cidade congestionada. Aí passou a contar", diz Saldiva.
A meta para 2009 reduz em mais da metade a tolerância para emissões de CO e em um terço as de HC para motos populares novas (de até 150 cc; 79% do mercado). Hoje, uma moto emite até sete vezes mais HC que um automóvel.
A partir de janeiro, mesmo com a redução, cada moto produzirá até 16 vezes mais HC na comparação com os veículos de quatro rodas, cuja redução será ainda mais radical. A tolerância ao CO, hoje quase três vezes maior para motos, se iguala à adotada pelos carros em 1997.
(Por RICARDO SANGIOVANNI,
Folha de São Paulo,10/09/2008)