O governo do Estado não protege suas unidades de conservação do fogo. Foi essa omissão que permitiu a destruição de uma área tão grande - cerca de 450 hectares - da parte mais preservada do Parque Estadual Paulo César Vinha, em Guarapari. O incêndio é criminoso, e foi provocado neste final de semana. Há grande interesse de empresas imobiliárias pela área.
As denúncias são do presidente da Associação Capixaba de Proteção ao Meio Ambiente (Acapema), Freddy Montenegro Guimarães. Ele destaca que a área destruída pelo fogo é enorme, equivalente a 450 campos de futebol. O incêndio começou na tarde de domingo (7) e só foi dado como controlado pelo Corpo de Bombeiros Militar na tarde desta segunda-feira (8).
O fogo só atingiu essas proporções, segundo o presidente da Acapema, pela precariedade da estrutura da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (Seama) e do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema).
“Trata-se de uma estrutura que não considera as necessidades de defesa das unidades de conservação. As unidades têm de ter bombeiros dentro de suas áreas, para ação preventiva e, quando necessário, intervenção imediata de combate ao fogo”, diz Freddy Guimarães.
O presidente da Acapema entende que os bombeiros, por sua vez, têm de ser equipados com viaturas e outros recursos que permitam ações mais eficazes nas áreas de difícil acesso. “Os bombeiros têm de ir onde for preciso. O Estado tem de poder combater o fogo com uso de recursos como a aviação”, cobra o presidente da Acapema.
“A estrutura do governo estadual falhou, o que levou a uma perda tão grande numa área de tanta importância ambiental”, destaca o presidente da Acapema. Para ele, o Parque Paulo César Vinha é objeto permanente de interesses das empresas imobiliárias.
Freddy Guimarães observa que, se o governo do Estado não indenizou a todos os ex-proprietários, a situação é ainda mais complicada: o fogo praticamente descaracterizou a área como de preservação ambiental.
O presidente da Acapema não tem dúvidas de que o incêndio no parque Paulo César Vinha foi criminoso. Foram produzidos vários focos de incêndio, e a direção do vento permitiu a destruição da parte mais rica em vegetação do parque e de mais difícil acesso para os bombeiros. O próprio Corpo de Bombeiros considera a hipótese de que o incêndio foi provocado e informa que perícia esta sendo realizada.
O presidente da Acapema diz que é preciso saber se o governo vai atuar na recuperação da área destruída pelo fogo. Teme que abandone a área e deixe a recuperação “por conta da natureza”. A área total do Parque Paulo César Vinha, segundo o Iema, é de “cerca de 1.500 hectares, abrangendo aproximadamente 12 quilômetros de litoral”.
Segundo o governo do Estado, “para controlar as chamas foram necessárias 80 pessoas, entre bombeiros, polícia ambiental, funcionários do Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos) e até voluntários”. O governo diz que empregou ainda um helicóptero, dois tratores e três carros-pipa. Ao todo foram utilizados aproximadamente 80 mil litros de água. O Parque Estadual Paulo César Vinha foi criado em 1990.
O tempo seco aumenta a incidência de incêndios. Segundo os bombeiros, o homem provoca 92% dos casos. A unidade militar informou que de janeiro a agosto de 2007 a corporação atendeu a 495 ocorrências incêndios em vegetação, só na região da Grande Vitória. Em 2008, no mesmo período, foram registrados 608 incêndios, o que representa um aumento de 22%.
Veja o que é o parque, segundo o Iema - O Parque Estadual Paulo César Vinha contribui para a perpetuidade das belezas naturais protegidas proporcionando um contato direto das pessoas com um ambiente natural em bom estado de conservação. Foi criado com o intuito de preservar uma faixa contínua de restinga, um dos ecossistemas mais ameaçados da Mata Atlântica, contendo a grande pressão que sofria, na época, com as extrações ilegais de areia. Foi criado pelo decreto nº 2.993 – N de 05/06/1990, com a denominação inicial de Parque de Setiba. Em 1994, através da lei 4.903 de 16/05/94, passou à denominação de Parque Estadual Paulo Cesar Vinha (PEPCV), em homenagem ao biólogo Paulo Cesar Vinha, morto em 1993, por defender a preservação da restinga da região e denunciar as extrações de areia.
Possui cerca de 1.500 ha, abrangendo aproximadamente 12 Km de litoral. A visita é feita à pé, onde o turista contempla belas paisagens aliadas a informações turísticas oferecidas pelos monitores, em um trajeto de 2,5 Km da sede até a Lagoa de Caraís, sua principal atração.
O PEPCV é circundado pela Área de Proteção Ambiental de Setiba, Unidade de Conservação de Uso Sustentável, que funciona como a zona de amortecimento de impactos para o Parque.
O Plano de Manejo do PEPCV foi entregue em outubro de 2007, porém ainda não homologado, e será executado em 2008. O Conselho Gestor é formado por oito membros titulares e sete suplentes, sendo um único conselho para o Parque e a APA de Setiba. Seu regimento interno foi publicado no Diário Oficial em 20 de setembro de 2007.
Os recursos naturais do PEPCV sofrem fortes impactos principalmente devido ao trânsito de veículos não autorizados em área do Parque, caça, pesca nas lagoas, queimadas, retirada de vegetação e despejo de entulhos e carcaças de animais. Sua zona de amortecimento sofre intensa pressão devido à extração ilegal de areia, queimadas, atropelamento de animais, retirada de vegetação e ocupação desordenada.
Os maiores desafios do PEPCV são a regularização fundiária, o envolvimento das comunidades do entorno nos programas de manejo, implementação dos programas de educação ambiental, uso público e pesquisa.
O PEPCV promove ações de educação ambiental, recepção de visitantes, fiscalização, manejo e monitoramento dos recursos naturais. O Parque é uma das áreas mais pesquisadas no estado.
LOCALIZAÇÃOLocaliza-se no litoral sul do Espírito Santo, no nordeste do município de Guarapari. Confronta-se à oeste com a Rodovia do Sol (ES-060), à leste com o Oceano Atlântico, ao norte com o bairro Recanto da Sereia e ao sul com o bairro de Setiba. O acesso à sede é feito através da Rodovia do Sol, Km 37,5.
CARACTERÍSTICASA restinga do PEPCV possui diferentes fitofisionomias devido à existência de diversos ambientes como lagoas, lagunas, depressões entre cordões arenosos, planícies alagadas, que junto a outras variáveis, possibilitou que as espécies vegetais se agrupassem de maneira a construir diferentes comunidades como a Floresta Permanentemente Inundada, Floresta Periodicamente Inundada, Brejo Herbáceo, Brejo Arbustivo, Aberta de Clúsia, Aberta de Ericaceae, Formação de Palmae, Pós-praia, entre outros.
O Parque abriga espécies da fauna e da flora ameaçados de extinção como Jacquinia brasiliensis (pimenteira-da-praia), Pavonia alnifolia (algodoeiro amarelo), gato-do-mato (Leopardus tigrinus) e ouriço-preto (Chaetomys subspinosus), além de espécies endêmicas como algumas pererecas bromelícolas e libélulas.
TRILHASTrilha da Clusia, 150m a partir da sede do Parque.
Trilha Principal até a lagoa de Caraís, 2,5km a partir da sede do Parque.
CONTATOSPara visitar o parque é necessário agendar com antecedência de, no mínimo, 24 horas.
Telefone: (27)32423665 / (27)31363469 (fax)
E-mail: pepcv@iema.es.gov.br
(Por Ubervalter Coimbra
, Século Diário, 10/09/2008)