Os aumentos dos preços dos fertilizantes e do petróleo, aliados à concessão de subsídios agrícolas, a problemas de ordem climática em países produtores, como a Austrália, e à redução de estoques de grãos forçaram o aumento dos preços dos alimentos em todo o mundo, inclusive no Brasil. A afirmação foi feita nesta terça-feira (09/09) pelo assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Marcelo Costa Martins, durante audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado destinada a debater a crise mundial da produção e dos preços dos alimentos.
Marcelo Martins afirmou ainda que a produção do etanol não pode ser apontada como a grande vilã pelo aumento dos preços dos alimentos no mercado nacional. Conforme explicou, enquanto a produção de grãos atinge 47 milhões de hectares, a produção de cana-de-açúcar - a principal matéria-prima para a produção de etanol - está restrita a 3,5 milhões de hectares, ou seja, a 0,41% da área total. Para o assessor, portanto, o etanol não compete com a produção de alimentos.
Sílvio Farnese, coordenador-geral de Cereais e Culturas Anuais da Secretaria de Política Agrícola do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que também tomou parte da reunião, informou que as principais commodities agrícolas tiveram substancial aumento de preço em todo o mundo de janeiro de 2006 a janeiro de 2008. O preço do arroz, um desses produtos primários, segundo observou, teve um acréscimo, no período, de 150%, e o do milho, de 155%.
O coordenador disse ainda que há uma "tendência efetiva" de consumo de alimentos no planeta nos próximos anos, especialmente na África e na Ásia. Mas adiantou que já existe uma baixa de preços das principais commodities em todo o mundo - incluindo milho, soja e trigo - em decorrência da entrada de capital especulativo que passou a investir nesse mercado.
Farnesi destacou ainda o crescimento, no país, da produção de carne bovina e de frango (o Brasil é o segundo maior produtor de carne de frango no mundo), ao mesmo tempo em que apontou dois problemas que, a seu ver, forçam a elevação dos preços dos produtos agrícolas e prejudicam o bolso do produtor: os altos preços dos fertilizantes importados e o aumento dos fretes.
(Por Cláudio Bernardo, Agência Senado, 09/09/2008)