A elevação dos preços dos alimentos prejudica de forma mais acentuada a população mais pobre, tendo impactos menores sobre as classes mais ricas. A afirmação é do secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Onaur Ruano. Ele participou de debate realizado nesta terça-feira (09/09) pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado.
- Para a população que tem renda média de R$ 380, a inflação dos alimentos chega a 35%. Já para as famílias na faixa de renda de R$ 2.700, o impacto da alta de preços está em torno de 22% - afirmou Ruano, ao lembrar que a população carente destina cerca de 70% do orçamento doméstico para a compra de alimentos.
De acordo com o secretário, é essencial que a análise das conseqüências da alta dos preços de alimentos leve em consideração as desigualdades de renda existentes no país. Nessa perspectiva, observou, as maiores dificuldades a serem superadas pelo país não estão relacionadas à produção de alimentos, mas sim ao acesso da população a uma alimentação adequada.
- Mesmo com a melhoria das condições de vida no país, verificada nos últimos anos, 4,7% da população brasileira ainda vive em situação de insegurança alimentar grave - alertou ele.
No mesmo sentido, Arnoldo Campos, diretor do Departamento de Proteção da Produção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), ressaltou que a crise de alimentos apresentou maiores conseqüências nos países pobres e que não mantêm políticas de segurança alimentar.
Para exemplificar, Arnoldo Campos citou o baixo impacto da crise no Japão e nos países da União Européia, os quais, apesar de importadores de grãos, adotam políticas de estoques de alimentos e valorizam a diversificação produtiva e a agricultura familiar. Ao contrário, disse, a alta dos alimentos resultou em graves impactos para mais de 40 países em desenvolvimento, em especial na África, que não desenvolvem políticas de proteção para suas populações.
- O Brasil está no grupo do meio, onde o problema não foi maior devido aos estoques existentes, que não eram grandes, mas foram suficientes para superar a crise, como ocorreu com o arroz - disse, ressaltando também a existência de políticas de incentivo à agricultura familiar e o reforço a políticas de transferência de renda, como o Programa Bolsa Família.
Para o diretor, o país deve adotar uma política mais ativa de estoques reguladores, reduzindo a dependência da importação de alimentos. Ele também defendeu o aumento de incentivos para as unidades familiares de produção.
- O agricultor familiar pode contribuir para aumentar a produção de alimentos por meio da elevação da produtividade, sem a necessidade de abertura de novas áreas. Pequenos investimentos em conhecimento e tecnologia podem resultar em grandes aumentos de produtividade e produção para o abastecimento das cidades - frisou.
Especulação
Para o representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Isidoro Revers, a crise mundial de preços dos alimentos estaria sendo gerada pela especulação de grandes grupos econômicos.
- Existem setores que só querem ganhar por meio da especulação financeira. Esses que especulam não produzem nada, ganham com especulação em cima do alimento e em cima da fome. Quarenta empresas transnacionais determinam o cardápio da Humanidade, controlando a tecnologia de produção na agricultura - afirmou ele.
Revers alertou para o poder das grandes empresas que controlam o conjunto de tecnologias utilizadas no campo, destacando as corporações produtoras de sementes e insumos agrícolas, que também dominam o sistema de comercialização de commodities.
- O modelo de desenvolvimento da agricultura trabalha na perspectiva do lucro, da produção de mercadoria, sem a preocupação com a qualidade do alimento e a segurança alimentar - opinou ele.
(Por Iara Guimarães Altafin, Agência Senado, 09/09/2008)