De 1953 a 1995, o Brasil, como resultado da campanha do "Petróleo é Nosso", teve o monopólio estatal da exploração e produção do petróleo - também do refino, fornecimento de derivados às distribuidoras, importação e exportação.
Foi esse monopólio exercido pela Petrobras que nos permitiu descobrir petróleo e formar um corpo técnico capaz de desenvolver a tecnologia para explorar essa riqueza, primeiro em terra, depois em águas rasas e em seguida em águas profundas.
O país fez bem em não dar ouvidos aos representantes das multinacionais que repetiam à exaustão: "o Brasil não tem petróleo".
Tanto empenho da parte de corporações pouco dadas à filantropia em nos poupar de um esforço inútil dava para desconfiar. E só os analfabetos políticos não perceberam que por trás do jargão estava o interesse do cartel das Sete Irmãs em manter o nosso petróleo debaixo da terra, como reserva estratégica sua, já que dispunha de outras áreas mais lucrativas para pintar e bordar.
Em 1995, no auge da nefasta onda neoliberal, o governo FH conseguiu quebrar o monopólio estatal e impor, em 1997, a lei 9.478.
A alegação era a de que a Petrobras não tinha recursos para pesquisar, descobrir e explorar o petróleo no ritmo que o país necessitava.
Foi criada a famigerada Agência Nacional do Petróleo, cujo primeiro diretor-geral proclamou às multinacionais presentes à sua posse, para que não pairasse nenhuma dúvida: `O Petróleo é Vosso!.
A Petrobras foi transformada numa qualquer, que deveria disputar com as multinacionais, em leilões organizados pela Agência, o direito de pesquisar e explorar as áreas oferecidas.
Mais. Foi canibalizada, enfraquecida e desfigurada, como preparação para sua privatização. Até outro nome lhe tentaram imputar: Petrobrax.
Mas a Petrobrás resistiu a tudo. E foi arrematando a quase totalidade das áreas apresentadas nos leilões. Em diversos casos, menos pelo interesse imediato despertado por elas e mais pelo objetivo deliberado de evitar que nossas reservas passassem às mãos dos capitais externos.
Graças a esse esforço e ao apetite ainda mediano das multinacionais em relação ao nosso petróleo, a Petrobrás levou o Brasil a manter seu controle sobre as reservas, a conquistar a auto-suficiência e a iniciar, em 2005, a perfuração do pré-sal.
As multinacionais, também durante este período, não realizaram uma única descoberta notável de petróleo no Brasil.
O governo Lula, muito acertadamente, deteve o processo de desmonte da empresa. Porém, foi surpreendido pelo punhal de Brutus sacado pela ANP, na 8ª rodada de leilões, realizada em 2006. Ao nomear o sr. Haroldo Lima para a direção-geral da Agência, o governo esperava estar colocando no posto um velho nacionalista e não aquilo em que ele se tornou.
Engrossada por um diretor da Halliburton, que outra coisa não fez na vida além de sabujar patrões estrangeiros, a ANP estabeleceu no edital do leilão que nenhuma empresa - leia-se, a Petrobrás - poderia arrematar mais do que 11% das áreas oferecidas. E no pacote foram incluídos dez lotes da borda do pré-sal.
O corpo técnico da Petrobrás recorreu ao Clube de Engenharia, que conseguiu suspender o leilão na Justiça.
A ANP voltou à carga. Na 9ª rodada, em 2007, enfiou dezenas de lotes do pré-sal no edital. Os lotes foram retirados do leilão por determinação do próprio presidente Lula, após uma operação que precipitou a revelação pública da descoberta das gigantescas jazidas do pré-sal.
É evidente que depois desta descoberta o apetite das multinacionais, por um petróleo fino e sem risco exploratório, passou a ser outro.
Diante disso, o que se espera de um governo comprometido com o Brasil é que restabeleça o monopólio estatal da exploração e produção de petróleo, pelo menos do pré-sal, devolvendo-o à Petrobrás e retirando da ANP o direito de transferi-lo a terceiros.
O governo tem base parlamentar para dar este passo, mudando a atual lei do petróleo.
As quatro irmãs que restaram no comando do cartel, e seus acólitos, dirão o mesmo que disseram para obter a quebra do monopólio: os investimentos são muito altos e a Petrobrás não tem como arcar com as despesas.
Mas se teve, antes de presentear o Brasil com esta espetacular descoberta, por que deixará de tê-lo agora?
O fato é que a Petrobrás tem todas as condições de dar conta da exploração do pré-sal em perfeita sintonia com os interesses nacionais, como já demonstrou ao longo de sua história.
Já as multinacionais não têm a mínima condição de fazer o mesmo. Se o pré-sal lhes for franqueado, seja através do absurdo regime de concessões, ou dos contratos de serviço, vão fazer tudo o que estiver ao seu alcance para expulsar a Petrobrás de lá, porque é da natureza desses tipos de monopólios privados agir assim - como aliás já mostraram ao manipular a ANP à luz do dia.
Há quem creia que a melhor solução para o pré-sal seja a criação de uma nova empresa 100% estatal.
Se fosse para que essa empresa contratasse a Petrobras para realizar a exploração e produção, ela seria apenas um estorvo.
Se fosse para contratar outras empresas para fazer o trabalho da Petrobras, seria uma nova ANP.
Mas a Petrobrás tem muitas ações na Bolsa de Nova Iorque, dizem os nacionalistas de última hora.
É verdade, mas por que eles querem nos fazer crer que um governo que não se furtou a deter o desmonte da Petrobrás iria se negar a fortalecer gradualmente o papel do Estado brasileiro dentro de sua maior empresa, quando estão em jogo tantos interesses estratégicos?
Afinal, qual obra precisa ser completada: a de Getúlio ou a de FH?
(Hora do Povo, AEPET, 05-08/09/08)