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contaminação com agrotóxicos
2008-09-09
“Entre 2002 e 2003, houve um aumento considerável das lesões autoprovocadas voluntariamente (lesões ou envenenamento auto-infligidos intencionalmente e suicídios) no município de Santa Maria de Jetibá (ES). Os dados são semelhantes aos das regiões com mais altas taxas de suicídio do Brasil (Paty do Alferes, RJ e Venâncio Aires, RS)”.

Esse é um dos trechos do relatório de conclusão da pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), através da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Os pesquisadores são do Departamento de Endemias Samuel Pessoa (DENSP). O grupo estuda “Saúde dos Ecossistemas: Ambientes Modificados”

O estudo foi coordenado pela professora doutora Sandra Hacon.  Constituiu no “Desenvolvimento metodológico para a construção de indicadores socioecológicos e de saúde humana para o processo de gestão de recursos hídricos: Projeto demonstrativo para a micro-bacia Córregos dos Gonçalves: Alto Santa Maria - Santa Maria de Jetibá – ES’.

Outro trecho do documento, diz: “Efetivamente, um dos assuntos mais relevantes em função da sua recorrência nos inquéritos aplicados na comunidade de Alto Santa Maria diz respeito à tentativa de suicídio por alguém da família. 28% dos entrevistados disseram ter alguém na família que já cometeu tentativa de suicídio, desses casos metade resultou em óbito e a idade média foi de 39 anos. O suicídio foi estudado segundo a escolaridade, ao sexo, a faixa etária, a idade, a saúde referida, ao tempo que trabalha na roça, a renda e ao uso de agrotóxico. A única variável que se apresentou significativa foi o uso de agrotóxico”.

Formaram a equipe técnica que desenvolveu o projeto da ENSP/Fiocruz os pesquisadores Carolina Ornelas, Gabriel Schutz, Luciana Alvarenga, Ludmilla Viana, Roberta Argento, Sandra Hacon e Renata Gracie. E, do   Instituto Osvaldo Cruz/Departamento de Biologia, os pesquisadores Daniel Buss, Luciana Leda, Marisa Soares, Rodolfo A. da Cunha e Tatiana Figueiredo.

Também participaram: da Secretaria de Saúde de Santa Maria de Jetibá, Carmen Gums, Tatiane Berger; da Associação Amparo Familiar, a presidente Selene  Tesch, e do grupo de jovens, a líder Débora Tesch.

A política do governo Paulo Hartung tornou o Espírito Santo líder no consumo de herbicidas no país. O Estado  é, ainda, o segundo no total do consumo dos venenos agrícolas no Brasil.

Este elevado consumo de agrotóxicos no Estado, foi confirmado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através dos "Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - Brasil 2008".

Os herbicidas são usados para combater o que as empresas chamam de ervas daninhas nas lavouras. Em 2005, em cada hectare (área com 10 mil metros quadrados, equivalente a um campo de futebol) do Espírito Santo as empresas e os fazendeiros usaram 3,7 kg de herbicida. A quantidade tornou o Estado campeão brasileiro no uso de herbicidas.

Se são somados inseticidas, fungicidas e outros venenos agrícolas, o Espírito Santo, com o uso 4,7 quilos por hectare, fica atrás apenas de São Paulo, que consome 7,7 quilos por hectare, média de 2005. Neste ano, a média nacional foi de 3,2 quilos de agrotóxicos por hectare.

No país, venenos agrícolas matam 10 mil por ano - O IBGE explica no seu texto que "os agrotóxicos - produtos utilizados para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas - estão entre os principais instrumentos do atual modelo de desenvolvimento da agricultura brasileira, centrado em ganhos de produtividade".

E que "os agrotóxicos podem ser persistentes, móveis e tóxicos no solo, na água e no ar. Tendem a acumular-se no solo e na biota, e seus resíduos podem chegar às águas superficiais por escoamento e às subterrâneas por lixiviação".

Segue o IBGE esclarecendo que "a exposição humana e ambiental a esses produtos cresce em importância com o aumento das vendas. O uso intensivo dos agrotóxicos está associado a agravos à saúde da população, tanto dos consumidores dos alimentos quanto dos trabalhadores que lidam diretamente com os produtos, à contaminação de alimentos e à degradação do meio ambiente".

Os venenos usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano, e 10 mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Dos intoxicados por venenos agrícolas, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no País.

Os agrotóxicos castram os brasileiros (provocam impotência sexual e frigidez); provocam doenças genéticas; causam doenças que podem levar ao suicídio, e que deprimem o sistema imunológico, facilitando o desenvolvimento de um sem número de doenças; vários tipos de câncer, entre muitas outras.

As transnacionais do agrotóxico faturam muito e em escala crescente: uma receita de US$ 5 bilhões em 2007, contra US$ 3,9 bilhões em 2006, e US$ 4,6 bilhões em 2004. Com a demanda mundial por grãos aquecida, o consumo dos venenos agrícolas no Brasil também aumentará. Para 2008, a estimativa é que as vendas cresçam aproximadamente 10%.

Em 2005, o Brasil consumiu 365,5 mil toneladas de venenos agrícolas. O País é o quarto lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos. O astronômico lucro das empresas é que justifica a defesa do uso destes produtos químicos que contaminam e permanecem no ambiente poluindo o solo, o ar e a água, e a minimização dos riscos a que estão expostos os consumidores e agricultores.

As análises, como as do Para, não consideram que os venenos se potencializam mutuamente. A lei de agrotóxicos não preconiza a mistura dos venenos agrícolas para aplicação. Mas a mistura é comum, como nas capinas químicas realizadas pela Aracruz Celulose nos eucaliptais.

Após a publicação dos dados do IBGE foi criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Assembléia Legislativa. Há temor de que a CPI tenha sido criada com aval do governo Paulo Hartung. Suas conclusões seriam as de que o IBGE errou. No máximo, concluiria que os venenos agrícolas são só comercializados no Espírito Santo e consumidos em outros estados.

Um funcionário do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), órgão apontado com o principal responsável pela permissividade do uso dos venenos no Estado, foi colocado à disposição da CPI. A comissão tem reunião nesta terça-feira (9), a partir das 13 horas, no plenário “Dirceu Cardoso”.

(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário, 09/09/2008)

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