O engenheiro civil paulista Roberto Dal Porto passou a maior parte da vida construindo prédios em Campinas (SP), onde mora, usando o dinheiro que ganhou para investir num sonho: salvar da cobiça criminosa de predadores uma área intacta de 496 mil hectares por ele adquirida em leilão do Banco da Amazônia, em 1989, na região do Alto Rio Iriri, em Altamira, no sudoeste do Pará. Dal Porto nunca derrubou uma árvore, denuncia quando alguém o faz, e quer explorar em projeto a biodiversidade da área em parceria com investidores privados. Uma de suas apostas é a pesquisa para descoberta de remédios capazes de curar graves doenças.
Em fase preliminar, o projeto já conseguiu criar medicamentos para combater com eficácia o herpes e a leishimaniose, ou calazar - doença transmitida pelo cachorro. O resultado dessa parceria, que já atrai interessados, seriam a bioprospecção - método ou forma de localizar, avaliar e explorar sistemática e legalmente a diversidade de vida existente em determinado local -, o extrativismo vegetal renovável e a geração de divisas como reserva de carbono pelo fato de a área não ter sido devastada.
Segundo Dal Porto, 90% da floresta dos seringais São Jorge da Direita e São Jorge da Esquerda, cortados pelo Rio Iriri, estão intactos. As madeireiras ilegais, ainda assim, conseguiram derrubar 10% da mata da região. Detalhe: não há invasões ou reservas indígenas nas duas áreas. Também nunca foi registrada a presença de índios isolados. A aldeia mais próxima fica a 200 km do local.
SegredosAs frentes de desmatamento para criação de pasto e extração ilegal de madeira, no entanto, começam a representar uma ameaça para os seringais por se expandir da região da Terra do Meio para áreas do Alto Iriri, onde se encontram as terras de Dal Porto. 'Temos de evitar que isso ocorra, porque aquela área, ainda não estudada pela ciência e que deve guardar segredos para a cura de inúmeras doenças no mundo, precisa ser preservada, custe o que custar', afirma o engenheiro.
Ele chama a atenção para o fato de que a floresta amazônica é uma exuberante reserva de carbono, que desperta estrangeiros de olho nesse tesouro. Estudo recente da revista científica 'Environmental Research Letters' diz que as reservas de carbono da Amazônia estariam na casa de 80 bilhões de toneladas, o que corresponde a quase um terço do estoque mundial. O Brasil pode se beneficiar disso, auferindo recursos sobre áreas a salvo da devastação.
Em 2002, o então governador do Pará, Almir Gabriel, declarou que o Estado não conseguiria se fazer presente nos próximos 20 anos na região do Alto Iriri. Inacessível por terra, distante 1.200 km de Altamira, ou uma hora e meia de avião bimotor, os dois seringais abrigam uma população de doze famílias. Elas vivem da extração de borracha e castanha-do-Pará, abundantes na região. O engenheiro costuma levar remédios e alimentos para essas famílias sempre quem vem ao Pará.
O aeródromo que construiu às margens do Iriri permite o pouso de aviões de pequeno porte e foi homologado pelo Departamento de Avião Civil (DAC). A pista tem facilitado o trabalho de fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Esta semana, por exemplo, um helicóptero do Ibama foi visto na região, monitorando o desmatamento e a retirada de madeira por empresas clandestinas.
Em 2006, o Instituto de Terras do Pará (Iterpa) ingressou com ação judicial, pedindo o bloqueio da matrícula das terras na Vara Agrária de Altamira, alegando que os seringais seriam propriedades do Estado. Dal Porto contestou a ação para remover o bloqueio. O caso ainda não foi julgado.
(O Liberal,
Amazonia, org.br, 08/09/2008)