A prefeitura de Abaetetuba deve decretar hoje situação de emergência na cidade em função do acidente ambiental provocado pelo vazamento de trinta mil litros de óleo diesel marítimo nas águas do rio Pará, em conseqüência do rompimento dos cabos de aço que atrelavam o rebocador à balsa, que saiu do porto do Arrozal, em Barcarena.
A prefeitura de Barcarena requer a mesma providência, porém o executivo municipal ainda não se manifestou. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) aguarda manifestação oficial de decreto de estado de emergência para iniciar os trabalhos de auxílio aos moradores das cidades que vivem basicamente da pesca e captura de camarão, especialmente ribeirinhos.
Os técnicos de vigilância ambiental passaram o dia de ontem em Barcarena tentando entrar em contato com a prefeitura municipal, mas não conseguiram.
O rebocador da empresa de navegação J.F. de Oliveira (nome fantasia Navegação Passarão, filial da empresa com sede em Manaus) afundou na última quarta-feira (3), quando os cabos de aço romperam-se, desatrelando a balsa do rebocador, que perdeu a estabilidade de navegação e contaminou o rio Pará com óleo diesel marítimo, combustível mais denso que óleo tipo BPF, usado nas embarcações. O diesel marítimo é utilizado nas caldeiras navais. O óleo se espalhou ainda por nove praias entre Barcarena e Abaetetuba.
Continuam as buscas pelo corpo do comandante da embarcação, José Luis da Rocha. Uma equipe do Centro de Defesa Ambiental (CDA) da sede da Petrobras em Manaus chegou a Barcarena na última quinta-feira à noite para iniciar o trabalho de contenção da poluição do rio. Especialista na área de controle ambiental, a empresa montou estrutura com embarcações, balsas e equipamentos náuticos no porto da Vila do Conde para tentar frear o avanço do dano ambiental. A CDA foi a Barcarena por convocação do governo do Estado ao constatar a demora das providências que deveriam ter sido tomadas imediatamente pela empresa poluidora, mas, segundo os técnicos ambientais, a empresa está se recusando a tomar as referidas medidas de urgência.
Exames atestam contaminação do Rio Pará
A Sema acolheu o resultado prévio divulgado em nota técnica do Instituto Evandro Chagas após exame das primeiras amostras de água coletadas no rio Pará na sexta-feira (6). O laudo atesta que o rio apresenta resíduo de óleo diesel marítimo, colocando em risco a saúde dos moradores que consomem os alimentos oriundos da pesca e captura de camarão, principal fonte da economia local.
O rio Pará está com águas impróprias para uso humano, seja banho ou consumo. A vida e vegetação aquáticas estão comprometidas, assim como a região do mangue do município de Abatetetuba.
O Instituto recomendou a interdição das praias até que a estabilidade do rio seja normalizada pelos serviços de contenção da poluição, o que deve demorar de quinze a trinta dias, segundo informações da Sema.
O gerente de fiscalização da Secretaria, Célio Costa, afirmou que a contaminação do rio já se estende por nove praias, tornando impróprios o banho e o consumo dos alimentos marinhos como peixe e crustáceos no centro urbano e proíbe o consumo de água.
O prejuízo ambiental já comprometeu as praias de Sirituba, Boa Morte, Paraíso, Cuipiranga, Conde, Itupanema e as praias de Beja e Caripi, ambas localizadas em Abaetetuba, onde a região de mangue também foi afetada.
O acidente ecológico no rio Pará mobilizou a atenção da Petrobras e do governo do Estado que se reuniram ontem em Barcarena para declarar oficialmente para a população a interdição das praias do município.
O rio Pará sofreu impactos do transbordo da bacia de rejeitos da empresa Immerys Capim Caulim, em junho de 2007. Os índices de contaminação radioativa por cádmio resultaram na mortandade dos peixes no dia 22 de maio desse ano levando a intimação de quase todas as empresas do complexo industrial de Barcarena, cujo resultado oficial ainda não saiu.
(Por Bernadete Costa, Diário do Pará, 08/09/2008)