Uma técnica alternativa ao uso de herbicidas contra plantas daninhas foi testada pelo agrônomo Marcos Roberto da Silva em tese de doutorado defendida na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp/SP. Trata-se da técnica de flamejamento, que consiste na exposição da planta ao calor por um curto espaço de tempo, promovendo a morte da planta daninha. O método, além de possuir baixo impacto sobre os recursos naturais, encontra aplicação tanto na agricultura orgânica como em culturas que não façam uso de controle químico ou biológico.
Um dos potenciais usuários da técnica pode ser prefeitura interessada em combater as plantas daninhas nas áreas urbanas. Como em muitos lugares o uso de herbicidas não é permitido, o flamejamento seria uma boa alternativa, principalmente em cidades praianas para se evitar uma possível contaminação de mananciais. Durante a pesquisa, Silva realizou aplicações também no combate a doenças, pragas e, ainda, no processo de dessecação da rama da batata – prática comum para se obter uma maturação homogênea do produto.
Marcos Silva foi orientado pelo professor Luiz Antonio Daniel em seu estudo, e contou com a parceria da empresa Antoniosi Tecnologia Agroindustrial, especializada em produção de máquinas agrícolas, instalada no município de Matão. O projeto teve o financiamento da Fapesp, por meio do programa de Pesquisa Inovativa na Pequena e Micro Empresa (PIPE). O agrônomo explica que a empresa produziu protótipos das máquinas flamejadoras e precisava de respostas sobre o comportamento da técnica em situações diversas.
O objetivo ao longo da pesquisa foi, justamente, entender os mecanismos para viabilizar a fabricação das máquinas em escala industrial. “No Brasil, pouquíssimos produtores aplicam essa técnica com eficiência, mas invariavelmente de forma artesanal e sem nenhum aparato de segurança. Por isso, a idéia de se entender o mecanismo para o credenciamento do produto”, esclarece.
As máquinas flamejadoras possuem basicamente um tanque de combustível GLP, componentes de controle e de segurança e um bico difusor (lança-chamas). Elas podem ser usadas em separado, em equipamentos manuais ou acopladas a um trator. Segundo Silva, não é necessária uma exposição demorada da chama para que a aplicação seja eficiente. “Uma simples sapecada leva à evaporação da água nas células e a conseqüente morte da planta sem produzir nenhum tipo de resíduo”, explica.
No Centro de Engenharia e Automação de Jundiaí, vinculado ao Instituto Agronômico de Campinas, onde foram realizados os testes, a estrutura para ensaios com semeadoras foi adaptada para o desenvolvimento dos ensaios com dois tipos de flamejadores, um de chama direta e outro de chama indireta (radiação infravermelha) e os tratamentos foram aplicados em quatro espécies de plantas daninhas, consideradas de importância econômica. Essas plantas se desenvolvem fora de lugar e, na lavoura elas geram preocupação, pois competem com as culturas por nutrientes, água e luz.
(Por Raquel Carmo dos Santos, Jornal da Unicamp, 09/08/2008)