O nível do mar poderá subir entre os 0,8 e dois metros até ao final do século. Um estudo publicado na revista “Science”, teve em conta a velocidade com que a massa de gelos dos glaciares flui para o mar e concluiu que um aumento acima dos dois metros é fisicamente impossível.
“Mesmo um aumento de 20 centímetros durante este século tem implicações dramáticas. Este trabalho não quer de maneira nenhuma minar a seriedade das alterações climáticas, e a subida do nível do mar é algo com que vamos ter que lidar”, explicou à BBC News Shad O’Neel da Universidade da Califórnia nos Estados Unidos (EUA), um dos autores do artigo.
Existe uma grande amplitude de previsões passadas sobre este aumento. O documentário “Uma verdade inconveniente” de Al Gore, Nobel da paz em 2007, anuncia uma subida na ordem dos seis metros sem no entanto apontar nenhuma data.
O Painel Internacional para as Alterações Climáticas (IPCC) prevê, com base em diversos estudos, um intervalo entre os 22 e os 50 centímetros para o aumento durante este século. Mas exclui alterações na velocidade do movimento das principais massas de gelo da Terra, os glaciares da Gronelândia e da Antárctica.
Este estudo teve em conta as limitações geográficas da Gronelândia e da Antárctica que travam o movimento dos gelos para o mar, e os aumentos observados na velocidade dos glaciares. O glaciar de Jakobshavn, na Gronelândia, duplicou a velocidade em seis anos para doze quilómetros por hora.
A partir desta informação os investigadores fizeram previsões mais optimistas e pessimistas alterando a velocidade dos glaciares dentro do que consideraram ser razoável. Apesar da previsão máxima ser uma subida de dois metros, os investigadores dizem que é necessário haver uma grande aceleração na velocidade das massas de gelo para se atingir este valor.
“A importância deste estudo é que estas considerações físicas mostram que algumas das previsões mais graves são muito improváveis, não há forma do gelo ou água ir parar ao oceano de uma forma tão rápida”, disse em declarações Tad Pfeffer, outro autor do artigo e investigador no Institute of Arctic and Alpine Research, na Universidade do Colorado, EUA.
Os cientistas também tiveram em conta os gelos dos glaciares de montanha e o aumento do volume da água devido à subida da temperatura média do mar. Mas existem factores que ainda não foi possível considerar como a quantidade de água que vai ficar armazenada nas zonas terrestres.
Para os cientistas, a importância de se conseguir uma previsão mais apurada é que uma resposta dos países à subida do nível do mar que falhe por excesso ou por defeito vai ter consequências económicas e humanas muito maiores.
“Se planearmos as acções para uma subida de seis metros e só tivermos uma de dois metros ou vice-versa, podemos gastar milhões de euros a resolver os problemas errados”, explica Pfeffer.
A actividade humana aumentou a concentração de gases que provocam o efeito de estufa. Esta é a principal explicação para a subida da temperatura mundial que se tem testemunhado nas últimas décadas. A rapidez do degelo é consequência de um mundo mais quente. Actualmente, o nível do mar sobre três milímetros todos os anos.
(Por Nicolau Ferreira, Ecosfera, 05/09/2008)