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peixe-boi amazônia
2008-09-07
Pesquisador do Inpe instalou antenas transmissoras na cauda dos animais

Objetivo é determinar qual é o tamanho da área de que o mamífero precisa para viver, o que deve orientar políticas de conservação

O peixe-boi-da-Amazônia, que pode chegar a 450 kg e 3 m de comprimento, consegue se esconder muito bem nas águas doces e turvas da região amazônica. Mas a tecnologia tem ajudado a revelar a intimidade desse acanhado mamífero, tido como vulnerável na lista de animais ameaçados de extinção.
Uma pesquisa de doutorado do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) acaba de mostrar que o peixe-boi-da-Amazônia faz uma migração anual, o que deve auxiliar na proteção da espécie.
O estudo aponta que o animal deixa os lagos de várzea de Mamirauá, na planície de inundação do rio Solimões, quando as águas começam a baixar. E se refugia durante o período de seca nas águas pretas e mais profundas do lago Amanã -nessa área, fica um pouco mais protegido de caçadores e de jacarés. Com a chegada da enchente, o bicho viaja de volta aos lagos de origem.
A pesquisa é importante porque, ao descobrir por onde os animais se deslocam e qual é o tamanho da área de que precisam para viver, é possível tomar medidas para sua preservação -como a criação de novas reservas. "É como calcular a área de vida de uma pessoa, onde ela mora, onde trabalha, onde come", compara o autor do trabalho, Eduardo Arraut.
Na região estudada já existem duas reservas de desenvolvimento sustentável, Mamirauá e Amanã. A preservação do peixe-boi contou como argumento para a criação delas.

Para estudar a migração, dez peixes-bois receberam cintos com radiotransmissores -colocados na cauda dos adultos. Os jovens não podem usar o cinto porque são apertados pelo equipamento ao crescer.
Cada cinto possui uma antena que emite um pulso em VHF. São usadas antenas ligadas a aparelhos receptores para captar o sinal -quando a antena receptora aponta para a direção em que o animal está, o sinal fica mais forte.
A tarefa de capturar os animais e colocar o cinto, entretanto, não foi simples. Arraut lembra que levou um mês para conseguir pegar um dos peixes-bois da pesquisa -mesmo com a ajuda de 25 pessoas da comunidade, que conhecem bem a espécie e a região.
O peixe-boi não é violento. Porém, é muito forte e, para tirá-lo ou colocá-lo de volta no rio, foi preciso o empenho de seis homens.
Miriam Marmontel, do IDSM (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá), foi quem iniciou a observação da migração e teve papel fundamental no trabalho.

Segundo ela, esse tipo de estudo salienta a importância da manutenção de grandes áreas para preservação do peixe-boi, assim como a existência de uma variedade de ambientes, incluindo canais para deslocamento livres de ameaças.

Profundidade
Além de "seguir" os animais, também foram medidas as profundidades dos rios e lagos por onde os peixes-bois passaram. Uma sonda instalada num barco media e gravava as informações, e os dados eram colocados num sistema de informações geográficas. A partir disso, foram gerados modelos em três dimensões do ambiente aquático do peixe-boi. Isso ajudou a verificar que os animais migravam quando a água baixava.

Arraut diz que, como se sabe onde as populações humanas vivem na Amazônia, ao estudar o deslocamento do animal também é possível ter uma idéia de como as atividades dos homens têm influenciado a vida dos mamíferos. E, segundo ele, a situação da espécie parece ser pior do que se imaginava. "Além da redução populacional conseqüente da caça comercial histórica, soma-se agora o fato de os melhores habitats de água alta coincidirem espacialmente com as regiões mais populosas da Amazônia, onde a degradação ambiental é maior e a pressão da caça ilegal provavelmente mais intensa", afirma.
Marmontel pretende usar um sonar para contar quantos desses mamíferos ainda existem na região -o equipamento já foi testado por ela na Flórida.

A orientadora de doutorado de Arraut, Evlyn Novo, diz que o próximo passo é pesquisar o deslocamento dos peixes-bois em outras áreas, para comprovar o padrão de migração. E diz que está sendo desenvolvido um sensor para facilitar a "perseguição" do animal, que seria observado via satélite.

(Folha de São Paulo, 07/09/2008)

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