Número de viagens passou de 160 mil em 1997 para 345 mil, segundo pesquisaApesar do crescimento, índice representa apenas 0,78% do total; a maior parte das viagens diárias não-motorizadas é feita a pé
As viagens diárias de bicicleta mais que dobraram em dez anos, segundo os dados da nova pesquisa OD (origem/destino) divulgados ontem pelo Metrô. Em 2007, 345 mil viagens por dia eram feitas de bicicleta, contra 160 mil em 1997.
O dado leva em conta as viagens em que a bicicleta é o meio de transporte principal. Os dados sobre o uso da bicicleta junto com outros meios, como o carro, em uma mesma viagem, só estarão disponíveis na pesquisa completa.
"Esse resultado confirma uma percepção que já é nítida nas ruas, de que as pessoas estão usando mais a bicicleta. Isso é muito visível em bairros da periferia", afirma o cicloativista André Pasqualini, que organiza as "bicicletadas", passeios semanais que costumam reunir mais de cem ciclistas.
Apesar do crescimento, o percentual de viagens de bicicleta ainda é tímido, 0,78% do total (era 0,52% em 1997). A grande parte das 12,6 milhões de viagens diárias não-motorizadas é feita a pé.
Engana-se quem pensa que a bicicleta é usada somente por esportistas -71% dos ciclistas usam a bicicleta para ir ao trabalho, enquanto só 4% dizem usar para lazer. A pesquisa mostra ainda que um terço das famílias têm ao menos uma bicicleta em casa, dado que não era pesquisado anteriormente.
Segundo o secretário dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portela, a pesquisa mostra que a falta de ciclovias na região metropolitana é apenas o sexto item na lista de problema dos ciclistas. O que tira o sono deles, segundo o secretário, é a falta de lugar para estacionar. Só 13% dos ciclistas estaciona em bicicletários, enquanto 82% guarda a bicicleta em casa ou em locais privados.
Segundo Portela, a secretaria irá priorizar o investimento em infra-estrutura para os ciclistas. Uma ciclovia de 12,2 km na Radial Leste deve ser inaugurada ainda neste ano, e um projeto de ciclovia na linha 12-esmeralda (Grajaú-Osasco) está em estudo pela pasta.
Há um ano e meio, a capital paulista aprovou uma lei que criou o sistema cicloviário municipal. Mas o Pró-ciclista, órgão da prefeitura responsável pela política de melhoramentos cicloviários, que possui um fundo de R$ 11,8 milhões para investir, não usa o dinheiro porque não tem autonomia para licitar e executar obras.
Viagens a péTodos os dias, 12,3 milhões de viagens são feitas a pé na região metropolitana, segundo a pesquisa. Porém esse tipo de deslocamento, que em 1997 representava 34,4% do total, caiu para 32,9% em 2007. Em valores absolutos, porém, o número cresceu 13,8%, pouco menos que o crescimento do total de habitantes (15%).
Segundo o secretário Portela, o dado corrobora o argumento de que o crescimento da demanda pelo transporte coletivo está ligado principalmente ao aumento do poder aquisitivo da população na RMSP.
A pesquisa mostrou ainda que a quantidade média de carros por família se manteve: 50% não têm carro, 38% têm um e 12% têm dois automóveis. "Isso mostra que essa história de que as pessoas compraram um segundo carro para fugir do rodízio é lenda urbana", declarou o secretário Portela.
(Ricardo Sangiovanni)
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Folha de São Paulo, 06/09/2008)