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movimentos sociais mst
2008-09-05

Um dia antes da 13ª Marcha dos Sem e do 14° Grito dos Excluídos, comandante da Brigada Militar divulga nota oficial "advertindo" movimentos sociais que "efetivos do policiamento ostensivo estão devidamente instruídos e dotados dos recursos necessários" para entrar em ação. Organizadores da Marcha denunciam tentativa de intimidação e preparam ato contra corrupção no Estado, supressão de direitos e criminalização dos movimentos sociais.

O comandante da Brigada Militar, coronel Paulo Roberto Mendes, divulgou nota oficial nesta quinta-feira (4), advertindo os movimentos sociais que organizam o 14° Grito dos Excluídos e a 13ª Marcha dos Sem, que os “efetivos do policiamento ostensivo estão devidamente instruídos e dotados dos recursos necessários para atuarem como força mediadora, capaz de harmonizar, no limite da lei, os interesses porventura conflitantes, não permitindo que direitos e garantias de uns se sobreponham aos de outros”. Traduzindo: a Brigada Militar reprimirá os manifestantes caso o coronel Mendes julgar que “direitos e garantias de uns estão se sobrepondo aos de outros”.

Expressando uma “inquebrantável tradição de respeito ao Estado Democrático de Direito”, o comandante da Brigada afirma seu “compromisso de garantir a lei e a ordem no Rio Grande do Sul, desejando que todos os eventos previstos transcorram dentro da normalidade”. O compromisso do coronel Mendes com o Estado Democrático de Direito parece ser seletivo, considerando suas recentes manifestações em defesa da execução de bandidos sem o devido processo legal.

Os organizadores do Grito dos Excluídos e da Marcha dos Sem, programada para esta sexta-feira, criticaram a nota, classificando-a como uma tentativa de intimidação. Para o presidente da CUT/RS, Celso Woyciechowski, a nota “é muito ruim para o processo democrático porque vem em um tom ameaçador”. “Primeiro vem a ameaça e depois a proposta de diálogo”, criticou.

A concentração para a manifestação começa às 13h desta sexta, na praça Pinheiro Machado, esquina com a avenida Farrapos. Os manifestantes seguirão até a Secretaria de Segurança Pública, onde será realizado um ato de protesto contra a “criminalização dos movimentos sociais”. Depois a marcha passará pela prefeitura da capital, Palácio da Justiça, Ministério Público Estadual e terminará com um ato em frente ao Palácio Piratini. Na agenda da Marcha dos Sem deste ano, destacam-se, entre outros pontos, a corrupção no Estado do Rio Grande do Sul, a violação de direitos e a criminalização dos movimentos sociais.

Quem é o coronel Mendes
Como subcomandante da Brigada Militar, o coronel Mendes notabilizou-se por comandar a repressão a protestos de professores e agricultores sem-terra no Estado. Nos últimos meses, quando houve alguma manifestação de protesto ou ação de movimentos sociais, a governadora Yeda Crusius (PSDB) acionou Mendes para a repressão imediata. Neste período, o coronel comandou ações de repressão violenta da Brigada em uma manifestação de professores no Centro Administrativo do Estado, na ocupação da fazenda da Stora Enso, em Rosário do Sul, na destruição de um acampamento de sem-terra em São Gabriel, entre outras ações. Defensor da pena de morte, o coronel Mendes é autor da frase: “Não tem jeito, tem que ir pro paredão”.

Em 2007, Mendes defendeu que a população deveria reagir a assaltos, contrariando a orientação da polícia para situações deste tipo. No mesmo ano, durante um debate televisivo, abordou-se o caso de um pedreiro morto pela polícia em Gravataí. Segundo a família, ele foi confundido com um assaltante e acabou morrendo em razão de surra que levou após ser preso. O comentário do coronel: “Às vezes, se preocupam com uma eventual pessoa que a polícia tenha matado”.

Ao nomeá-lo para o comando da Brigada, Yeda Crusius determinou ao coronel Paulo Mendes que reprimisse duramente manifestações de protesto contra a corrupção no governo estadual. E o coronel começou a colocar a orientação em prática na manhã do dia 11 de junho. Dezessete pessoas ficaram feridas e outras dezessete foram presas na ação da tropa de choque da Brigada Militar contra manifestantes que se dirigiam ao Palácio Piratini para protestar contra a corrupção no governo Yeda.

A ação violenta da Brigada Militar começou pela manhã quando integrantes de movimentos sociais, estudantes e sindicalistas iniciaram uma caminhada em direção ao Palácio Piratini. No trajeto, os manifestantes pretendiam fazer um protesto pacífico contra a alta dos alimentos no supermercado Nacional, do grupo Wal-Mart. A manifestação foi duramente reprimida com balas de borracha, bombas, gas lacrimogêneo e spray pimenta. O coronel Mendes classificou o incidente como uma "baderna provocada por gente desocupada".

Mendes vem usando os homens da PM2 (a “polícia secreta” da Brigada) para acompanhar os movimentos sociais e até mesmo fazer investigações ilegais. Cabe lembrar que o trabalho de investigação é de atribuição da Polícia Civil. Há policiais civis insatisfeitos com o procedimento da “polícia secreta” da Brigada que está realizando investigações à revelia da lei e às vezes até mesmo atrapalhando investigações da Polícia Civil, resultando, inclusive, em prisões ilegais. Os homens da PM2 estão acompanhando as manifestações e outras atividades dos movimentos sociais. O coronel Mendes conta com esse serviço de inteligência para antecipar movimentos e facilitar a repressão.

Genealogia da repressão
Confira algumas das últimas ações do comandante da Brigada Militar do RS:
8 de maio de 2008 - O governo Yeda Crusius deslocou um exército de 700 policiais militares para São Gabriel, com cavalos, cães, ônibus e até um helicóptero. O objetivo da heróica e estratégica missão: revistar um acampamento de 800 famílias de sem-terra, localizado na fazenda São Paulo II, área desapropriada em abril deste ano pelo Incra. o comando, coronel Mendes. Como não encontraram o objeto de sua busca, "materiais supostamente furtados da fazenda Southal”, a Brigada isolou os agricultores, proibindo a entrada de pessoas num raio de 4 km da área.

Os policiais rasgaram barraco a barraco de cada agricultor, colocaram pás de terra nas panelas com a comida cozida, inutilizando dezenas de quilos de arroz e de feijão. O restante da alimentação foi “confiscado” pela BM.

3 de junho de 2008 – A Brigada Militar, comandada pelo coronel Paulo Mendes, destruiu o novo acampamento organizado pelo MST às margens da RS-040, em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A área havia sido cedida às famílias sem-terra. Sem mandado judicial, um efetivo de mais de cem policiais militares e batalhão de choque destruíram os barracos que estavam sendo construídos pelas famílias. Os sem-terra foram divididos em grupos de homens e mulheres, identificados e revistados pela polícia. O acampamento estava recém sendo construído por famílias que trabalham temporariamente nas lavouras de arroz na região de Viamão.

10 de junho de 2008 - Cinco agricultores e agricultoras foram agredidas pela Brigada Militar e sofreram queimaduras com bombas de gás lacrimogêneo, durante uma manifestação na área da empresa Bunge, em Passo Fundo. A violência aconteceu no momento que os agricultores e agricultoras iniciavam a distribuição de alimentos produzidos pela agricultura familiar à população.

11 de junho de 2008 - A governadora Yeda Crusius determinou ao recém nomeado comandante da Brigada que reprimisse duramente manifestações contra o governo. E o coronel Mendes começou a colocar a orientação em prática no mesmo dia. Dezessete pessoas ficaram feridas e outras 17 foram presas na ação da tropa de choque da Brigada Militar contra manifestantes que se dirigiam ao Palácio Piratini para protestar contra a corrupção no governo Yeda. Os policiais lançaram bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha contra o grupo. No final da manhã, a Brigada cercou os manifestantes dentro do Parque da Harmonia, na área central de Porto Alegre, e proibiu que eles prosseguissem para protestar no Piratini contra a corrupção no governo do Estado.

(Por Marco Aurélio Weissheimer, CartaMaior, 04/09/2008)


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