Levantamento do Imazon indica queda de 6% no ano, enquanto dados do Inpe mostram aumento de 64%O sistema de monitoramento independente do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) aponta queda na taxa de desmatamento da floresta amazônica em 2008, em comparação com o período anterior.
A avaliação ocorre poucos dias após o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostrar aumento do desflorestamento na região.
O desmatamento é medido de agosto de um ano a julho do outro. Segundo o SAD (Sistema de Alerta do Desmatamento), do Imazon, houve uma redução de 6% na área desmatada ao comparar os períodos de agosto de 2007 a julho de 2008 com agosto de 2006 a julho de 2007. Foram 5.030 quilômetros quadrados no primeiro -o equivalente a pouco mais de três vezes a área da cidade de São Paulo.
Já o Deter (sistema de detecção em tempo real), do Inpe, mostra aumento de 64% no desmatamento -foram 8.138 quilômetros quadrados entre agosto de 2007 e julho de 2008 contra 4.974 quilômetros quadrados no período anterior.
A principal explicação para a diferença é que o Imazon detecta só corte raso (remoção total da cobertura florestal), enquanto o Inpe também aponta a degradação florestal progressiva (perda parcial e contínua da cobertura florestal).
Para o Imazon, o Pará foi o líder de destruição da floresta neste ano, com 2.143 quilômetros quadrados desmatados (42,6%). Mas Mato Grosso vem logo atrás, com 41,8%.
Segundo Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon, muitos estragos puderam ser vistos perto da BR-163 e também na região de Carajás. Ele avalia que os desmatamentos no entorno da rodovia sejam "especulativos", feitos para garantir a posse sobre o terreno.
A região é justamente aquela onde o governo interveio em 2005 para garantir que a pavimentação da rodovia não trouxesse desmatamento.
Já no outro ponto, o motivo é a forte demanda por carvão vegetal extraído de florestas nativas para a siderurgia.
Segundo Veríssimo, a redução na taxa ocorreu em razão do conjunto de medidas duras do governo nos últimos meses, que incluiu aumento da fiscalização e corte de crédito para desmatadores ilegais. "Isso freou, pelo menos no curto prazo. Mas, se o governo afrouxar as medidas agora, o desmatamento pode crescer", disse.
Como exemplo, ele cita a possibilidade redução no aparato de fiscalização na área e a negociação sobre a reserva legal -o governo tem dado sinais de que pode reduzir a reserva legal na Amazônia a 50% em vez dos atuais 80%.
Dalton Valeriano, do Inpe, afirma que vai marcar uma reunião com o Imazon para entender a discrepância nos dados.
Segundo ele, há também diferença nos objetivos. "O nosso é dar ao Ibama capacidade maior de fiscalização, por isso incluímos as áreas de degradação florestal", afirmou.
(Por Afra Balazina,
Folha de S. Paulo, 05/09/2008)