O Grupo alemão RWE assumiu semana passada o desafio de construir a primeira grande termelétrica a carvão do mundo que não emitirá CO2. Unindo o útil ao agradável, o presidente do grupo, Jürgen Grossmann, anunciou o projeto durante o lançamento da pedra fundamental de uma outra termelétrica fóssil na cidade de Hamm, estado de Nordhein-Westfalen, sede do RWE. A própria chanceler alemã, Angela Merkel, serviu de testemunha para o anúncio feito na sexta-feira (29/08).
Movida a linhito, a usina "CO2-free" será localizada próxima à cidade de Colônia, e terá capacidade para gerar 450 Megawatts de energia. Segundo o plano anunciado por Grossmann, o carbono produzido será enviado através de dutos para o estado de Schleswig-Holstein, no extremo Norte da Alemanha, onde será armazenado no subsolo.
A previsão é concluir a obra até 2014, com um investimento total, incluindo o sistema para transportar e armazenar o CO2, de 2 bilhões de Euros. Os executivos do grupo apostam nela como um meio para promover a aceitação pública do carvão.
Mas num país acostumado ao debate e à controvérsia tal missão não parece fácil. Mesmo para um gigante como o RWE, o quinto maior grupo empresarial da Alemanha, com um faturamento de 45 bilhões de Euros por ano. A começar pela forte oposição à construção de dutos para o transporte de gases e químicos dentro do próprio estado de Nordrhein-Westfalen. "As garantias técnicas para a segurança no funcionamento de tal estrutura são mínimas", critica o líder do Partido Verde (Grünen), Fritz Kuhn.
Entre os governos federal e estaduais também não há consenso sobre o apoio ao carvão. Fora a pressão climática, o setor carbonífero alemão viu seus subsídios drasticamente cortados desde a subida do Partido Verde ao poder federal em 1998. Hoje a produção doméstica do mineral ainda recebe cerca de quatro bilhões de Euros em subvenções anuais. Uma década atrás o valor era três vezes maior.
Com a segunda maior reserva carbonífera do planeta, atrás só da Rússia, a Alemanha encara o setor como estratégico para a segurança energética. Nessa lógica, a construção de usinas a carvão que não emitam CO2 é fundamental para garantir o abastecimento sem comprometer, ainda mais, as metas assumidas dentro da União Européia.
Tecnicamente, a proposta ainda é vista como mera promessa para o futuro. "Precisaremos de muitos projetos de grande porte para captura e armazenamento de carbono se quisermos viabilizar essa tecnologia até 2020", prevê o relatório "Coal Meeting the Climate Change" do Instituto Mundial do Carvão. Segundo a publicação, além do custo exorbitante da nova tecnologia, é necessário certificar a segurança e eficiência do processo. "Precisaremos de pelo menos 15 anos para tornar essa tecnologia comercialmente viável", admite Kurt Häge, membro do Conselho Tecnológico da Vattenfall Europe, outra gigante do setor de energia.
No curto prazo, a primeira usina serve, principalmente, como peça de propaganda para o setor carbonífero da Alemanha, nação que abriga nove das 20 termelétricas mais poluidoras da Europa.
(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 04/08/2008)