“A influência da humanidade no planeta Terra tornou-se tão significativa a ponto de constituir-se em uma nova era geológica”. Citando esta frase de Paulo Crutzen, ganhador do Prêmio Nobel de Química, em 1995, Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, abriu palestra sobre “Mudanças Climáticas” no Auditório Augusto Ruschi, na CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, nesta quarta-feira (3/9).
Apresentado pelo presidente da CETESB, Fernando Rei, Carlos Nobre é autor da tese de savanização da Floresta Amazônica como um dos resultados do aquecimento global. Para isso, o pesquisador acredita que basta a temperatura do planeta aumentar 4ºC. “Em apenas 200 anos, temperatura aumentou cinqüenta vezes mais rápido do que na passagem da última era glacial para a era atual”, disse.
Segundo Nobre, as primeiras pesquisas sobre o aquecimento global aconteceram no final do século XIX e foram vistas com otimismo, pois o aumento da temperatura poderia beneficiar países localizados próximos ao Pólo Norte. No entanto, o palestrante advertiu que é preciso considerar os diversos efeitos colaterais decorrentes do acúmulo de gases de efeito estufa, como o derretimento das geleiras na Groenlândia, elevação do nível do mar, aumento de furacões e grandes tempestades e períodos de estiagem mais intensos.
Um desses efeitos deverá ser observado sobre a biodiversidade, levando entre 10 a 15% das espécies a ser extintas, conforme as perspectivas mais otimistas. Outro grave problema seria o aumento do nível do mar como conseqüência do derretimento das geleiras. Para piorar a situação, o efeito estufa não é mais uma hipótese mas uma realidade, pois os gases já lançados permanecerão na atmosfera ainda por muitos anos. Para Nobre, o que é possível fazer é controlar as próximas emissões e para isso é preciso uma mudança cultural, política e tecnológica.
No entanto, o aumento das emissões de CO2 é sinal de que o “mundo está indo completamente na contramão do combate ao aquecimento global”. Além disso, o pesquisador complementa dizendo que “o consumismo é insustentável a longo prazo”.
Em relação às emissões brasileiras de CO2, afirmou que o Brasil é o maior emissor por habitante dentre todos os países em desenvolvimento e que 55% dessa emissão advém do desmatamento, principalmente na Amazônia.
Quanto às outras fontes de gases do efeito estufa, o pesquisador lembra que, ao contrário da maioria dos países do primeiro mundo, grande parte da energia brasileira advém de fontes renováveis e pouco poluentes. “Nenhum país do mundo tem tanto potencial natural”, afirma.
Comentando a descoberta recente de grandes reservas de petróleo, principalmente na área marítima dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, mostrou seu receio manifestando a expectativa de que “o pré-sal não nos tire do caminho das energias renováveis”.
(Por Júlio Vieira e Rene Alves,
Ascom Cetesb, 03/09/2008)