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gestão dos recursos hídricos
2008-09-04

As sociedades humanas precisam reformar rapidamente sua administração dos recursos em água doce, sobre os quais pesam ameaças cada vez mais importantes. Caso mudanças não forem promovidas em tempo hábil, a segurança hídrica, alimentícia e energética de determinadas regiões do mundo, em breve poderá estar comprometida. Em substância, esta é a mensagem dos organizadores do 13º Congresso Mundial da Agua, que está sendo realizado em Montpellier, na França, de segunda, 1º a quinta-feira, 4 de setembro.

"Durante muito tempo, o recurso da água esteve disponível, em grande quantidade, e apresentando boa qualidade. Ela era considerada como inesgotável", resume Cecilia Tortajada, a presidente da Associação Internacional dos Recursos Hídricos (IWRA), e co-organizadora deste congresso. Mas está situação já foi alterada, e nós estamos agora nos aproximando dos limites. "O nosso objetivo é de gerar conhecimentos a respeito desta questão, e de incentivar os tomadores de decisões a anteciparem os desafios que estão por vir", acrescenta.

Reservas de água: Em 2025, 8 bilhões de habitantes deverão compartilhar a mesma quantidade de água doce que existe atualmente. Estima-se que as reservas serão, em média, de 4.800 m3 por ano e por habitante, contra 7.300 m3 em 2000 e 16.800 m3 em 1950.

Água disponível: A América do Sul dispõe da quarta parte da água disponível em todo o mundo, embora ela abrigue apenas 6% da população. No extremo oposto, 60% dos habitantes do planeta vivem na Ásia, que não dispõe mais do que um terço dos recursos em água existentes.

Penúria de água: Atualmente, 30% da população mundial dispõe de menos de 2.000 m3 por ano e por habitante. As regiões mais expostas à penúria de água são o Sahel (no oeste da África), o Mediterrâneo, o Oriente Médio, o sul dos Estados Unidos e a Ásia.

O congresso de Montpellier, cuja abordagem predominante é científica, está sendo realizado alguns meses antes da reunião do Fórum Mundial da Água, que está agendado para março de 2009 em Istambul (Turquia) e que reunirá lideranças políticas, industriais e organizações não-governamentais (ONGs). Cerca de 260 comunicações deverão ser apresentadas no congresso de Montpellier. Elas abordarão as questões da evolução da vazão dos rios oeste-africanos, o impacto do aquecimento climático sobre a irrigação do arroz na China, e a administração dos conflitos entre usuários na Espanha, entre outras.

Todas elas exploram as múltiplas facetas de uma mesma realidade: no momento em que a população mundial não pára de crescer, a água vem se tornando cada vez mais rara. A principal causa deste desequilíbrio é o aquecimento climático. À medida que a temperatura segue aumentando, a evaporação da água dos rios e de todos os cursos de água em geral torna-se mais importante. Com isso, a quantidade de água disponível no meio-ambiente vai diminuindo. Uma vez que o regime das chuvas também está sendo prejudicado por este fenômeno, as disparidades entre as regiões do mundo, que já eram consideráveis, deverão continuar se acentuando.

Exploração excessiva
O segundo grande fator de rarefação da água é o crescimento das formas de poluição de origem urbana, industrial e agrícola. "Raros são os países que efetuam corretamente o saneamento das suas águas usadas", constata Cecilia Tortajada. "Na Cidade do México, o principal curso de água encontra-se poluído de tal forma que a municipalidade é obrigada a captar a sua água potável a quilômetros de distância".

A salinização das águas doces, que é provocada pela exploração excessiva dos lençóis freáticos costeiros ou dos rios, as torna igualmente impróprias para o consumo. Com isso, elas não podem ser aproveitadas sem custosos processos de saneamento prévios.

Ora, as necessidades de água vêm aumentando sem parar. O crescimento da população mundial, que ocorre essencialmente nas grandes metrópoles, vem concentrando a demanda em determinadas regiões, o que complica o abastecimento de água potável. Contudo, e principalmente, são os volumes necessários para garantir a alimentação da população mundial num futuro próximo que causam preocupação. Atualmente, uma proporção de 70% em média do volume total de água doce utilizada em todo o mundo é destinada ao setor agrícola.

"As culturas irrigadas proporcionam um rendimento que revela ser duas a três vezes mais efetivo em relação ao das culturas pluviais", explica Michel Jarraud, o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM). "A irrigação deverá ser desenvolvida, mas a sua eficiência no que diz respeito à utilização da água também deverá ser aprimorada". Além disso, a escolha das plantas a serem cultivadas deverá igualmente levar em conta a menor disponibilidade de água, acrescenta Jarraud.

Além do mais, os aumentos dos preços das fontes de energia e a luta contra as emissões de gases de efeito-estufa incitam os Estados a desenvolverem o aproveitamento dos recursos alternativos, os quais incluem não só a hidroeletricidade, como também as centrais térmicas ou nucleares, que necessitam enormes volumes de água para o seu resfriamento; ou ainda os biocombustíveis, que por sua vez também são grandes consumidores de água.

Essas evoluções obrigam a encontrar novas respostas para enfrentar as mais diversas situações. É preciso aprimorar-se os conhecimentos em relação aos recursos, planejar a criação de infra-estruturas de armazenamento e de saneamento das águas usadas, dominar e controlar o consumo e as formas de poluição, reexaminar as políticas agrícolas, e implantar novos métodos de arbitragem entre os usuários, na medida em que estes mais em mais entrarão em conflito...

Os participantes do congresso de Montpellier martelaram as seguintes recomendações: essas respostas devem ser elaboradas pelos Estados, pelas coletividades locais e os usuários que enfrentam esses problemas. "Em matéria de água, cada situação é um caso particular. Além disso, diferentemente do petróleo, a água não pode ser transportada por longas distâncias", lembra Pierre Chevallier, o diretor do Instituto de Pesquisas sobre a Água e o Meio-Ambiente (cuja sigla em francês é IDEE), com sede na região de Languedoc, e presidente do comitê de organização do congresso. "A correspondência adequada entre as quantidades disponíveis e as suas diferentes formas de aproveitamento só pode ser encontrada no nível local".

(Por Gaëlle Dupont, Le Monde, UOL, 04/09/2008)


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