Neste momento em que acabamos de comemorar o Dia do Trabalho (nos Estados Unidos e no Canadá a data é comemorada na primeira segunda-feira de setembro), estudantes congregam-se nas universidades não só para o começo do semestre letivo de outono, mas também, em alguns casos, para votarem pela primeira vez em uma eleição presidencial. Atualmente não existe questão mais importante nos campi universitários do que o meio-ambiente e a energia.
Ao me deparar com esta eleição, achei que - pela primeira vez - teríamos dois candidatos "verdes". Esta idéia não funciona mais - e os estudantes universitários (e todos os eleitores) precisam entender isso.
Com a escolha para vice-presidente de Sarah Palin, a governadora do Alasca que defende a exploração de petróleo no Refúgio Nacional da Vida Selvagem Ártica, e que não acredita que a humanidade esteja desempenhando um papel na mudança climática, John McCain concluiu a sua transformação, deixando de ser o republicano mais verde a disputar a presidência para tornar-se apenas mais um representante dos grandes interesses vinculados ao petróleo.
Considerando que McCain evitou deliberadamente votar em todas as oito tentativas de aprovação de uma lei no sentido de aumentar os vitais créditos fiscais e subsídios de produção para a expansão das nossas indústrias de energia eólica e solar, levando-se em conta o apoio dele à redução do imposto sobre a gasolina, em uma concessão irresponsável que só promoverá maior consumo de combustível e intensificará o nosso vício em petróleo, e considerando ainda o seu desejo de fazer do aumento de perfurações de poços de petróleo - e não da inovação no setor de energias renováveis - a peça central da sua política energética, em uma tentativa de enganar os eleitores, afirmando que as perfurações de hoje significarão preços menores nos postos de gasolina amanhã, McCain pode abandonar qualquer alegação de que é um candidato verde.
Assim sendo, por favor estudantes, quando McCain visitar as suas universidades e exibir alguns cartazes mostrando turbinas eólicas e painéis solares, perguntem a ele por que tem sido um omisso no que se refere ao apoio do Congresso a essas novas tecnologias.
"Em junho, o Partido Republicano laçou e reuniu as suas cabeças de gado", diz Carl Pope, diretor-executivo do Sierra Club. "Um dos bois não marcados - um envelhecido animal bravio chamado John McCain - foi finalmente laçado. A seguir eles o marcaram a ferro em brasa com o grande símbolo 'Lazy O' - a marca de George Bush, na qual o O é a inicial de "Oil" (petróleo, em inglês; "Lazy" significa "Preguiçoso"). Foi o fim do boi independente e bravio.
"Uma das últimas políticas independentes de McCain que o colocou em rota de colisão com George Bush foi a sua oposição à exploração de petróleo no Refúgio Nacional da Vida Selvagem Ártica", acrescenta Pope. "Mas ele agora escolheu uma companheira de chapa que se opõe a responsabilizar as grandes companhias petrolíferas e despreza a energia alternativa, focando o seu trabalho em mais perfurações de poços de petróleo em um refúgio da vida selvagem e ao largo das nossas costas. Embora a borda norte do seu Estado fique exatamente no Oceano Ártico, cujo nível está subindo, Sarah Palin diz: 'Ainda não se chegou a uma conclusão quanto ao aquecimento global' . É Palin que está adiando essa conclusão - e John McCain permitirá que ela faça isso".
De fato, os confrontos barulhentos de Palin com a indústria do petróleo foram motivados pelo desejo de embolsar mais lucros, e não pela vontade de encontrar uma forma de acabar com o nosso vício.
Barack Obama deveria estar se empenhando mais em promover a sua agenda verde, mas ele pelo menos teve a coragem, no calor de uma primária democrata, de tentar agradar os eleitores prometendo uma suspensão dos impostos sobre a gasolina. E embora tenha apoiado uma expansão limitada da exploração de petróleo no alto-mar, ele não ludibriou os eleitores dizendo que esta seria uma solução para os nossos problemas energéticos.
Eu não sou contrário a uma expansão limitada da nossa exploração de petróleo no mar. Mas isto é apenas um espetáculo distrativo. Ao afirmar constantemente aos eleitores que o seu foco na questão energética é "perfurar, perfurar e perfurar", McCain desvia as atenções voltadas para aquela que deveria ser uma das questões centrais nesta eleição: quem possui o melhor plano para promover uma inovação maciça focada nas tecnologias de energia limpa e na eficiência energética.
Por que? Porque as tecnologias de energia renováveis - aquilo que chamo de "ET" (sigla em inglês para tecnologias de energia) - constituirão na próxima grande indústria global. Elas serão tão importantes que provavelmente superarão a tecnologia de informação. O país que fomentar mais companhias de ET gozará de maior poder econômico, vantagem estratégica e elevação do padrão de vida. Precisamos garantir que esse país seja os Estados Unidos. Mas as grandes companhias de petróleo e a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) querem garantir que isso não aconteça.
"A escolha de Palin para candidata à vice-presidência e o desejo dela de perfurar poços de petróleo na reserva ambiental do Ártico fazem com que eu me lembre de um almoço que tive há três anos e meio com um dos adidos comerciais russos", disse-me o consultor de comércio global Edward Goldberg. "Após muito vinho, um cavalheiro me disse que o seu país estava muito satisfeito com o fato de o governo norte-americano querer perfurar poços de petróleo na reserva ártica. Na opinião dele, a quantidade de petróleo realmente possível de se extrair daquela região é desprezível em relação às necessidades. No entanto, isso significava que o governo Bush não pretendia fazer nada no campo da energia alternativa, o que, é claro, ameaçaria o crescimento econômico da Rússia".
Sendo assim, estudantes universitários, não deixem que ninguém lhes diga que a eleição não é importante para a questão ambiental. Ela é de uma importância vital, e as alternativas não poderiam ser mais contrastantes.
(Por Thomas L. Friedman, The New York Times, UOL, 04/09/2008)