Uma plataforma de gelo com 55 quilómetros quadrados desprendeu-se no mês passado no Árctico canadiano e as restantes plataformas diminuíram a um ritmo “perturbador”, um sinal das alterações climáticas na região, alertaram ontem cientistas canadianos.
A plataforma Markham, uma das únicas cinco plataformas de gelo no Árctico canadiano, desprendeu-se da ilha Ellesmere no início de Agosto. Ainda segundo estes cientistas, outros dois pedaços de gelo, com um total de 76 quilómetros quadrados, desprenderam-se da plataforma de gelo Serson.
“As alterações são massivas e perturbadoras”, comentou Warwick Vincent, director do Centro para os Estudos do Norte na Universidade Laval, no Quebeque. Nas últimas décadas, as temperaturas em vastas áreas do Árctico subiram mais rapidamente do que a média global.
“Estas alterações são irreversíveis nas condições climáticas actuais e indicam que as condições ambientais que mantiveram estas plataformas de gelo em equilíbrio por centenas de anos deixaram de existir”, comentou Derek Mueller, especialista em plataformas de gelo no Árctico, da Universidade de Trent, Ontário.
Segundo Mueller, este Verão as línguas de gelo ligadas à ilha de Ellesmere perderam 134 quilómetros quadrados, mais de três vezes a área da ilha de Manhattan. Este número é dez vezes maior do que aquilo que os cientistas previam, em Julho. “As novas falhas registadas na maior plataforma de gelo restante, a Ward Hunt, significam que este se vai continuar a desintegrar nos próximos anos”, disse Luke Copland, da Universidade de Otava.
O primeiro sinal grave de erosão recente nas cinco plataformas surgiu no final de Julho, quando se desprenderam de Ward Hunt blocos de gelo com uma área total de 13 quilómetros quadrados. Desde então, a plataforma perdeu mais 14 quilómetros quadrados. Estas línguas de gelo são o que sobra de uma única plataforma com 5633 quilómetros quadrados na ilha de Ellesmere. Hoje restam apenas 483 quilómetros quadrados.
Segundo os cientistas, as plataformas de gelo – que albergam ecossistemas únicos que ainda não foram totalmente estudados – não podem ser regeneradas porque demoram muito tempo a formar-se. O degelo no Árctico canadiano preocupa Otava, que receia que navios estrangeiros naveguem pelas suas águas sem pedirem permissão prévia.
(Reuters, Ecosfera, 04/09/2008)