O "oba oba" em torno do futuro petróleo que será extraído da camada pré-sal recebeu um banho de água fria do diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella. Ele afirmou nesta segunda-feira que o processo está apenas começando e, apesar de indícios promissores, não há como estimar o volume de reservas que o Brasil pode conter na sua costa e nem se tudo faz parte de um mesmo reservatório.
"Não temos bases para estimar isso", afirmou. "Todo mundo está falando, mas nós que somos da companhia temos dados e informações e sabemos que estamos apenas começando", complementou.
Ele explicou que também não é possível dizer se todo o reservatório do pré-sal está interligado, o que demandaria uma unitização da área e poderia atrasar a produção.
"Legalmente não é possível produzir sem haver unitização (se as áreas estiverem interligadas), mas para saber se tem unitização temos que perfurar mais, e temos dois anos e meio para fazer isso", explicou, ressaltando que uma pequena produção pode ser feita, como está prevista para março de 2009 em Tupi, na bacia de Santos.
Tupi inicia o Teste de Longa Duração em 2009 e o plano piloto em 2010, com produção de 100 mil barris diários de petróleo e 3,5 milhões de metros cúbicos diários de gás natural.
Sem querer comentar sobre as várias declarações que estão sendo feitas em torno do pré-sal, Estrella afirmou não temer que a Petrobras perca importância no cenário econômico nacional e garantiu que todos os demais projetos da companhia continuarão a ser tocados normalmente.
"O governo é o acionista controlador da Petrobras e não vai querer prejudicar a companhia...É do maior interesse do governo ter a Petrobras forte", afirmou Estrella a jornalistas na véspera da cerimônia de extração que vai marcar o início da produção da camada pré-sal no país.
Ao ser perguntado sobre as declarações do senador Aluizio Mercadante (PT-SP), que na sexta-feira passada disse que a Petrobras quer o fim dos contratos de concessão, Estrella limitou-se a dizer: "Mercadante tem estudado o assunto e está pronto para participar dos encaminhamentos do governo federal", afirmou, sem dar detalhes.
A discussão sobre a participação da Petrobras na exploração do pré-sal está sendo avaliada junto a outros temas por uma comissão interministerial, que também discute possíveis alterações no modelo de exploração no país, atualmente sob o regime de concessão, em que os investidores adquirem as áreas e pagam impostos sobre a produção ao governo.
Segundo Mercadante, por este modelo a Petrobras não teria como explorar todo o pré-sal --que segundo estudos do UBS pode demandar de 600 bilhões a 1 trilhão de dólares, valor que a Petrobras considera superestimado.
(Por Denise Luna,
Reuters, 01/09/2008)