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desmatamento da amazônia passivos do agronegócio inpe
2008-09-02

A pergunta é: o desmatamento da Floresta Amazônica está diminuindo ou aumentando? Quem apostou na primeira opção acertou a resposta, mas quem escolheu a segunda também não está errado. Quando se trata dos dados sobre o desmatamento divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), tudo depende de como se analisa os números.

Segundo as imagens transmitidas pelos satélites do sistema Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real) desenvolvido pelo INPE, o índice de desmatamento na Amazônia Legal em julho caiu 62,87% em relação ao mês anterior. Com o baixo nível de nebulosidade sobre a floresta e 81% de visibilidade da região, o Deter apontou uma área desmatada em julho de “apenas” 323 quilômetros quadrados, o que confirma a tendência de queda iniciada em abril (1.124 km2) com continuidade em maio (1.096 km2) e junho (870 km2).

O Inpe também divulgou o resultado anual do desmatamento da Amazônia, igualmente realizado pelo sistema Deter. Obedecendo a critérios meteorológicos, a medição acontece do começo de agosto de um ano até o final de julho do ano seguinte. Se analisarmos os dados do INPE sob essa ótica, o resultado é desanimador. Entre agosto de 2007 e julho de 2008 foram desmatados 8.147 km2 de floresta na Amazônia Legal, quase o dobro do registrado entre agosto de 2006 e julho de 2007 (4.820 km2).

Ou seja, a divulgação dos dados do INPE deixou no governo e no movimento socioambientalista a impressão de que o desmatamento da Amazônia cresceu, mas está diminuindo. Ou será que diminuiu, apesar de estar crescendo? Para o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tudo deve ser tratado com cautela: “O resultado de julho é significativo, pois foi uma queda recorde. Mas, o desmatamento ainda é grande”, disse o ministro, que atribui a diminuição da devastação a medidas como o aumento das ações do Ibama nas cidades campeãs do desmatamento e a resolução do Banco Central que restringiu o crédito aos proprietários considerados desmatadores.

O Greenpeace, por sua vez, divulgou nota na qual admite que “se olharmos para o cenário micro, é motivo de comemoração”, mas alerta que “o quadro geral não é dos melhores, muito pelo contrário”. Segundo a organização ambientalista, é preciso zerar o desmatamento da Amazônia até 2015: “O Brasil deve adotar uma política consistente para derrotar o desmatamento, assim como foi feito no caso da inflação. Para reduzir drasticamente a inflação, o país adotou metas anuais e não hesita em tomar medidas duras quando elas ameaçam sair do controle. Com isso, o país pode se desenvolver de forma sustentável e segura", diz o diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace, Paulo Adario.

Em busca do diálogo
A relação entre o movimento socioambientalista e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) andou estremecida por conta do que as ONGs classificaram como concessões feitas pelo ministro Carlos Minc aos setores ligados ao agronegócio. Entre as medidas mais criticadas, estão a que permite a recuperação das áreas degradadas na Amazônia com espécies exóticas e a que permite o plantio de cana-de-açúcar em algumas áreas do Pantanal.

Numa tentativa de restabelecer o diálogo com os ambientalistas, Minc recebeu na semana passada representantes de organizações como Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA), WWF Brasil, Conservação Internacional, The Nature Conservancy (TNC), Instituto Socioambiental (ISA), Amigos da Terra e Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam), além do próprio Greenpeace. O ministro desmentiu a informação de que haverá plantio de cana no pantanal e usou os dados da redução do desmatamento da Amazônia em julho para pedir paciência aos interlocutores.

Grupo de Trabalho
Foi anunciada durante a reunião a proposta de criação de um Grupo de Trabalho que será coordenado pelo MMA e terá a participação das organizações ambientalistas, de parlamentares da frente ambientalista e da bancada ruralista, e de representantes da Confederação Nacional de Agricultura e Agropecuária (CNA).

O objetivo do GT é acelerar as negociações que permitam o fim do desmatamento aliado ao desenvolvimento econômico da região. Ao final do encontro, o ministro se disse feliz pela retomada do diálogo: “Algumas questões estavam circulando pela imprensa sem que houvéssemos conversado”, disse.

(Por Maurício Thuswohl, Carta Maior, 01/09/2008)


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