O Escritório Regional para América Latina e Caribe da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação divulgou, na última sexta-feira (29), um informe sobre o aumento dos preços dos alimentos da América Latina e no Caribe. O estudo afirma que essa situação pode ser uma oportunidade para impulsionar a agricultura da região.
A heterogeneidade existente na América Latina e no Caribe é um dos pontos de destaque do estudo. Por causa disso, o impacto da alta dos preços dos alimentos acaba afetando os países de forma diferente. Os mais vulneráveis são aqueles que importam alimentos e energia. De acordo com o estudo, o principal risco associado à inflação do preço dos alimentos seria o agravamento da distribuição desigual de renda.
Segundo o informe, a alta dos preços representa um estímulo, principalmente para que o setor de agronegócios aumente sua produção, já que dispõe das capacidades e incentivos para expandir sua participação no mercado internacional. Sobre o setor de agronegócios, o estudo enfatiza que ele tem liderado a dinâmica do crescimento agrícola na região, voltado em geral para a exportação, com base tanto em suas capacidades de adoção de tecnologia como de acesso aos mercados financeiros e não financeiros.
O estudo também ressalta como a inflação geral e a de alimentos têm-se tornado uma das principais preocupações na região. Em 2007, a inflação foi de 6,3% em média, enquanto que, em julho de 2008, chegava a 8,7% e em vários países da região já alcança dois dígitos. "Essas altas taxas superam até em três e quatro vezes as metas de inflação que vários países haviam estimado no início do ano", assinala o informe.
Além disso, o informe relaciona a alta de alimentos a um maior índice de pobreza: "Na América Latina e no Caribe, não há problemas de oferta alimentar, e, no entanto, mais pessoas terão menos acesso aos alimentos básicos. A região produz quantidade suficiente de alimentos para toda sua população, o que explica em grande medida que não tenha havido, nem se prevê que haverá, crise de desabastecimento, com exceção do caso específico do Haiti e zonas localizadas de países nos quais tenham existido desastres naturais".
O informe traz ainda números do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e do Banco Mundial. Segundo o BID, o número de pobres na região poderia ser de mais de 26 milhões de pessoas como resultado do aumento dos preços, passando de 38,5% para 46,1% da população total da América Latina e Caribe.
Já a Cepal, estima que tanto a pobreza como a indigência na região poderiam aumentar em três pontos percentuais em relação à situação de 2007 a partir de uma hipótese de aumento de 15% no preço dos alimentos e rendas constantes. Isso implicaria que 15 milhões de pessoas a mais não poderiam ter acesso a uma cesta básica de alimentos. O Banco Mundial calcula que o aumento de preços e processo inflacionário aumentaria em pelo menos dez milhões de novos pobres na região.
O informe lista alguns desafios para aproveitar as oportunidades potenciais que surgem com a alta dos preços de alimentos. Entre eles, está o estímulo à pequena agricultura, associando o crescimento agrícola com a redução da pobreza e o manejo sustentável dos recursos naturais: "Os pequenos produtores que, por um lado, concentram os maiores índices de pobreza e indigência nos países da região, produzem, por outro, os alimentos para consumo interno, que constituem até 80% do consumo de energia e de fonte de proteínas vegetais dos lares de baixa renda na região, como o milho para consumo humano, o feijão, a macaxeira, a batata, etc".
(Adital, 01/09/2008)