Segundo defensores da demarcação em ilhas da Raposa/ Serra do Sol, em Roraima, adversários "pregam retrocesso"Indígena que é contrário às fazendas dentro da reserva afirma que "os melhores lagos para pesca estão hoje nas áreas dos arrozeiros"
O modelo de desenvolvimento econômico da terra indígena Raposa/Serra do Sol (RR) é o principal entrave entre índios favoráveis e contrários à demarcação contínua da região. É o que afirmam os lados envolvidos na questão, que tem como pano de fundo a presença de arrozeiros na reserva.
Para os defensores da demarcação em ilhas -nas quais os rizicultores poderiam continuar produzindo-, a atividade econômica seria fundamental para o desenvolvimento da área. Já os indígenas que lutam pela demarcação contínua afirmam que a terra é sagrada e de direito das cinco etnias que vivem no extremo norte de Roraima.
Os índios, que se dividem entre o CIR (Conselho Indígena de Roraima) e a Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima), têm quase os mesmos costumes e pertencem predominantemente à etnia macuxi, maioria na Raposa/Serra do Sol.
O CIR acusa a Sodiur de defender os interesses dos arrozeiros. A maioria dos índios ligados à organização trabalha -ou tem algum parente- nas fazendas de arroz ou em algum cargo ou secretaria da Prefeitura de Pacaraima, administrada pelo líder dos rizicultores, Paulo César Quartiero.
A Sodiur afirma que, caso os rizicultores sejam expulsos, os índios do CIR, "que prega o retrocesso", não terão "capacidade" para gerir as fazendas. Se isso ocorrer, diz José Brazão de Braga, responsável pela Sodiur na Vila Surumu (porta de entrada da reserva), sua organização deveria ter o direito de ocupar as seis propriedades.
O argumento do outro lado é o mesmo: falta capacidade administrativa aos índios da Sodiur. Segundo o índio macuxi Ricardo Mota, 36, os índios ligados ao CIR querem a demarcação contínua para terem liberdade. "Os melhores lagos para pesca estão hoje nas áreas dos arrozeiros", diz. Antropólogos simpáticos à Funai (Fundação Nacional do Índio), que defende demarcação contínua, dizem que índios ocupam a área ao menos desde o século 18.
(Por Lucas Ferraz,
Folha de São Paulo, 31/08/2008)