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rincao gaia josé lutzenberger
2008-09-01

Cercada de lavouras por todos os lados, uma área de 30 hectares do município de Pantano Grande se sobressai pela vegetação abundante, pela água cristalina e pela fauna diversificada. Mas este paraíso perdido no meio do nada nem sempre foi assim. Duas décadas atrás, o lugar era um terreno árido, degradado pela exploração de basalto. Foi esse ambiente semimorto que o ecologista José Lutzenberger escolheu para sediar o Rincão Gaia, há 21 anos.

Lutz, como era conhecido, morreu em 2002 acreditando que seu trabalho na Fundação Gaia (entidade que criou para cuidar do Rincão e que hoje também é responsável por manter vivo o legado do engenheiro agrônomo) poderia ajudar as gerações futuras a perceberem que é possível evitar a destruição total do meio ambiente. Seu pensamento nem sempre encontrou eco, mas fez com que pelo menos algumas pessoas fossem tocadas e dessem continuidade a esse processo.

"Quando construiu o Rincão, ele quis também nos mostrar que não existe ambiente que não possa ser recuperado. Escolheu uma área completamente devastada e fez um trabalho incrível para recuperá-la", afirma o coordenador cultural da Fundação Gaia, Christian Goldschmidt. A evolução desse trabalho pode ser percebida em uma seqüência de fotos tiradas pelo próprio Lutzenberger que estavam perdidas em seus arquivos e são publicadas com exclusividade nesta edição do Jornal do Comércio. A fotografia da pedreira também foi registrada pelo ecologista, entre os anos de 1983 e 1984, em uma das primeiras vezes que visitou o local.

A história do Rincão Gaia é curiosa. Lutzenberger estava de passagem por Pantano Grande, onde conhecia um pecuarista. Visitando a fazenda do amigo, a 120 quilômetros de Porto Alegre, percebeu que nas cercanias existia um terreno desmatado e abandonado de 15 hectares. Quando descobriu que a prefeitura local e até mesmo administrações de outras cidades disputavam a área para utilizá-la como depósito de lixo, não teve dúvida: pagou, do próprio bolso, a quantia necessária para ficar com a pedreira. Arnaldo Gueller, o fazendeiro, doou os 15 hectares restantes.

"O lugar tem belas plantas, vários animais e ar puro. Lutz trabalhou com muito amor e carinho nesse projeto, deu um bom destino a uma área que estava inutilizada", comenta o ambientalista Augusto Carneiro. Um dos fundadores da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), ele diz que todos os espaços do Rincão foram idealizados pelo amigo, com exceção de um lago que já pertencia ao terreno doado por Gueller. Um detalhe interessante: Carneiro coloca no Rincão parte de seu lixo orgânico, para ser aproveitado como adubo. "Lixo, não; matéria orgânica. Quase tudo pode ser reutilizado de alguma forma", enfatiza o octogenário ambientalista.

Para conhecer o Rincão
As visitas ao Rincão Gaia podem ser agendadas por telefone. Para ir até o sítio, é preciso aguardar a formação de um grupo de pelo menos dez pessoas. Guiados por um monitor, os visitantes aprendem de que forma a jazida de basalto se transformou em uma área de preservação ambiental e recebem noções de agricultura regenerativa. Também é possível pernoitar no local, em uma casa que tem capacidade para 40 pessoas e onde os visitantes convivem em um ambiente semelhante a um albergue.

Mais informações pelos telefones (51) 3330.3567 e 3331.3105 ou no site.

Filhas tentam manter vivo o legado do ambientalista
De posse do terreno, Lutzenberger pôs em prática um desejo antigo, o de proporcionar a integração perfeita entre o ser humano e o meio ambiente. "A história do Rincão representa, de forma emblemática e inspiradora, o resultado prático da visão e ação dele na construção de uma relação mais harmônica entre o homem e a natureza", conta a bióloga Lara Lutzenberger, filha mais nova do ambientalista e hoje presidente da Fundação Gaia.

Para dar vida ao sítio, ele se utilizou de uma ciência até então muito nova, a restauração ambiental ou ecológica, hoje chamada de ecologia de restauração, como explica a bióloga Maria de Fátima Maciel dos Santos. Doutoranda em Ecologia Vegetal pela Ufrgs, ela passa um pouco de seus conhecimentos em manejo e conservação da vida silvestre aos visitantes do Rincão Gaia, onde atua como monitora. "Como o professor Lutzenberger era também especialista em solos, estudou cada cantinho para melhor desenvolver seu projeto, contando muito com a vontade de viver da natureza", afirma Maria de Fátima.

A bióloga ressalta que, em áreas carentes de nutrientes, o ambientalista optou por plantar leguminosas, como o feijão, capazes de restabelecerem a nutrição do solo. "A escolha de trabalhar com agricultura regenerativa foi perfeita também para trazer a camada vegetal arbustiva ao Rincão", observa.

A forma como Lutzenberger abasteceu o local de água também foi pensada sob a ótica da ecologia de restauração. Diversas crateras da jazida, abastecidas pelas chuvas, serviram de base para a criação de pequenos lagos, que além de irrigarem o terreno atraem a fauna silvestre. Os animais, por sua vez, dispersam sementes em outras áreas, mantendo assim a harmonia da natureza.

Preservar toda essa estrutura, porém, não é nada fácil. A exemplo do pai, Lara e sua irmã Lilly bancam entre 20% e 40% das despesas do Rincão Gaia. "A maior dificuldade que enfrentamos é justamente conseguir os recursos necessários para ir além da manutenção básica da nossa estrutura física e de pessoal e criar condições de potencializar e ampliar nossas ações", destaca Lara. Ela explica que o parque ambiental é viabilizado também pela receita obtida com atividades educativas, prestação de consultorias e outras iniciativas da entidade, além de doações.

Assim como a irmã, Lilly sonha em disseminar a idéia de Lutzenberger mundo afora. Só desse modo, acredita, é possível aumentar a consciência ambiental da população. Mas é possível criar outros rincões?

"Para isso são necessárias, mais do que tudo, percepção e sensibilidade. Percepção para enxergar novos rincões em inúmeros lugares degradados, especialmente pedreiras e minas, que acabam sendo simplesmente abandonadas ou transformadas em depósitos de lixo; sensibilidade para saber auxiliar e, principalmente, permitir à natureza se regenerar até transformar novamente o lugar em algo bonito, ecológico e sustentável", acredita Lilly.
 
(Jornal do Comércio, 01/09/2008)


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