A joaninha é um inseto encantador para as crianças, o que leva a espécie a ser protagonista em desenhos animados. Na vida real, porém, trata-se de um voraz predador e, entre seus acepipes, se incluem pulgões, ácaros e cochonilas, três das mais danosas pragas agrícolas.
Transformar esse conhecimento em benefícios para a agricultura, por intermédio do controle biológico de pragas, é um desafio constante para a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O órgão, uma das 41 unidades de pesquisa da Embrapa, faz da natureza seu laboratório, nesse caso procurando uma alternativa aos agrotóxicos, notoriamente danosos não só ao meio ambiente, mas também à saúde de quem os aplica e acaba consumindo-os, residuais nos alimentos.
Nesse caminho, os desafios são vários e passam, muitas vezes, por questões culturais. O imediatismo é um entrave. “O agricultor, aplicando o agrotóxico, em meia hora vê o inseto morto. Com o controle biológico, isso pode demorar até dois dias”, explica a AmbienteBrasil o pesquisador Francisco Guilherme Schmidt, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia.
Ele ressalta, contudo, que o resultado na contenção dos danos à lavoura é rápido, ainda que menos visível. “A bactéria utilizada no controle biológico vai colonizar o aparelho digestivo da lagarta e ela vai parar de comer”. Ou seja, a praga deixa de causar prejuízos logo, mas demora um pouco mais a morrer.
Outro desafio é que os agrotóxicos têm, de modo geral, maior potencial de combate às pragas do que os predadores naturais. Em termos simples, o que mata a lagarta do milho pode não matar a da soja, o que não deixa de ser vantajoso para o meio ambiente. “O produto biológico tem um espectro mais seletivo, por isso é menos impactante do que o produto químico”, diz Francisco Guilherme.
Um outro desafio é fazer a produção dos inseticidas biológicos em escala. Além do bom desempenho no campo, o produto deve ter durabilidade em prateleira e não requerer muitos cuidados no acondicionamento – não precisar ficar em geladeira, por exemplo.
De qualquer forma, existem restrições. “O agricultor tem que ser mais objetivo na programação dele, aplicar de imediato o produto e não guardá-lo, pois sua vida útil é menor”, explica Francisco Guilherme.
Tais dificuldades vêm sendo transpostas, para alívio do meio ambiente. Inseticidas feitos a partir da bactéria Bacillus thuringienses israelensis (Bti) já são vendidos normalmente. Matam larvas do mosquito transmissor da dengue e da febre amarela (Aedes aegypti) e dos chamados borrachudos (Simulium Spp.). Uma boa alternativa já adotada por Prefeituras no combate à dengue, em lugar dos venenos utilizados num passado recente.
“A utilização do Bti é recomendada pela Organização Mundial de Saúde”, diz o portal da Bthek Biotecnologia, que desenvolveu a tecnologia em parceria com a Embrapa Recursos Genéticos e foi a primeira empresa brasileira a registrar e vender esse tipo de produto.
A empresa Bug Agentes Biológicos, com sede no estado de São Paulo, cria e vende o tricograma (Trichogramma pretiosum), uma minúscula vespa parasitóide que coloca seus ovos dentro dos ovos de mariposas e lagartas. “Na prática, ele combate a praga antes mesmo que o agrotóxico o conseguisse”, diz Francisco Guilherme.
Os controles biológicos de pragas se dividem em dois ramos – conservativo e inundativo. No primeiro, o ser humano apenas ajuda a manter o equilíbrio no ambiente agrícola de modo que, com manejos adequados, as pragas sejam eliminadas por seus predadores naturais. No inundativo, como o nome sugere, a plantação é cheia de predadores naturais de uma determinada praga – o que se consegue com os inseticidas biológicos.
Parte dessas pesquisas ora em andamento na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia esteve exposta ao público neste final de semana, na 105ª Feira Botânica do Shopping CasaPark, em Brasília (DF).
(Por Mônica Pinto
/ AmbienteBrasil, 01/09/2008)