No próximo sábado, dois alunos da Escola Parque – colégio na Gávea, bairro na Zona Sul do Rio de Janeiro – embarcam para o Ártico. Lá, vão se juntar ao barco da Cape Farewell, Ong inglesa criada em 2001 pelo artista David Buckland, que promove uma expedição por ano com cientistas e estudantes da Islândia ao Canadá. Durante o percurso de 14 dias, percorre-se também quase toda a costa da Groenlãndia. O objetivo desse roteiro no frio é conhecer a realidade de um dos lugares que mais sofrem com os efeitos do aquecimento global. Victor Curi e Amanda Bergman, os felizardos que vão realizar o sonho de nove entre dez ambientalistas, foram escolhidos após o capítulo do Conselho Britânico no Brasil convidar a Escola Parque para uma parceria.
No início do ano, cartazes e palestras nas filiais do colégio na Barra da Tijuca – Zona Oeste carioca – e na Gávea convocavam alunos entre 16 e 17 anos interessados em integrar um projeto chamado de “Global Warming”. Ao todo, cerca de trinta alunos se inscreveram e começaram a freqüentar reuniões semanais para entender um pouco mais sobre o tema. Além de leituras e filmes, o grupo também teve encontros com pesquisadores reconhecidos no país e convites para seminários sobre mudanças climáticas em diferentes estados do Brasil.
Com o conhecimento um pouco mais afiado acerca das causas e efeitos do aquecimento global, a turma aguçou seus ouvidos para uma pergunta do coordenador do projeto na escola, Giovanni Lima: “Quem gostaria de ir para o Ártico?”. Dos trinta jovens membros do projeto, vinte toparam a aventura. O passo seguinte foi gravar um vídeo de dois minutos com informações pessoais e uma breve revisão dos preceitos básicos das mudanças climáticas. A Escola Parque selecionou os dez melhores, com critérios baseados em desempenho acadêmico e assiduidade no “Global Warming”, e enviou para o Conselho Britânico canadense escolher os dois tripulantes brasileiros.
Com a passagem para o Hemisfério Norte garantida, Victor e Amanda se tornaram celebridades. Já deram palestras, entrevistas e marcaram presença em eventos organizados pelo Conselho Britânico nacional. Na última segunda-feira, eles se reuniram pela última vez na sede da escola com os companheiros de projeto, que agora são chamados de “Equipe de Terra”. O encontro serviu para ajustar os últimos detalhes do embarque e definir a freqüência com que enviarão informações para os colegas que permanecerão em solo.
Investigação científica
Os dois trabalhos científicos que os jovens deverão realizar no barco já estão definidos. Um deles é sobre oceanografia. A expectativa de Victor e Amanda é encontrar uma área de deserto marinho em pleno Ártico. Caso tenham sucesso, vão propor às autoridades locais que joguem pequenas quantidades de ferro e magnésio no local. “O plâncton tende a crescer com estes elementos, e como ele se desenvolve, seqüestra muito carbono e morre rápido, levando o gás para o fundo do mar, há boa chance de ser uma ação efetiva contra o aquecimento global”, afirma Victor. Enquanto isso, a equipe de terra coletará plânctons na Baía de Guanabara e analisará suas estruturas. Depois, será feito um paralelo de como reagem as espécies daqui e as de lá às mudanças climáticas.
O outro projeto engatilhado será uma investigação acerca da taxa de energia solar que chega à superfície terrestre, reflete e volta para a atmosfera – o chamado albedo. Neste caso, os alunos querem verificar o volume de absorção do calor em diferentes tipos de faces. “Vamos medir o albedo no gelo, na neve e no mar. Sabemos que o branco reflete muito mais energia do que a água, o que é bom para conter o aquecimento global. Mas, quanto maior o degelo, mais o fenômeno se retroalimenta”, explica Victor, uma vez que o volume de mar aumenta neste caso.
Esta iniciativa, no entanto, ainda causa dor de cabeça para os membros do “Global Warming”. Tudo porque o Cape Farewell ainda não conseguiu o albedômetro, aparelho responsável pelas medições. “Ele é muito caro e, a poucos dias da viagem, ainda não sabemos se vamos tê-lo”, diz uma aflita Amanda. A equipe de terra estará de prontidão para fazer análises nas florestas cariocas e comparar a reflexão de energia deste ambiente com os dados enviados diretamente do barco.
A expedição
Durante uma semana, Victor e Amanda ficarão no Canadá tendo aula sobre todos os equipamentos que terão à disposição no barco. No dia 7 de setembro, o Cape Farewell sai de um porto na Islândia com destino à cidade de Iqaluit, na Ilha de Baffin (Canadá). Os estudantes brasileiros terão a companhia de cientistas, artistas e estudantes do Reino Unido, Alemanha, Índia, México, Irlanda e Canadá a bordo. Com o auxílios dos colegas latinos, pretendem realizar um mini-documentário sobre a viagem e uma série de fotografias.
Será a sexta vez que David Buckland promove a expedição. Em primeiro lugar, sua intenção era levar celebridades do mundo inteiro para olharem de perto a realidade das calotas polares do Hemisfério Norte. Realidade diante dos olhos, eles poderiam exercer um bom papel de comunicadores sobre a urgência da preservação ambiental. Mas, no último ano, percebeu que também seria importante levar os jovens, futuros formadores de opinião, ao topo do mundo. “O Ártico é um barômetro do clima para o mundo inteiro. É muito bom, pela primeira vez, contar com brasileiros no projeto”, diz Raquel Solito, analista de projetos do Conselho Britânico e responsável pelo meio de campo entre o projeto de Buckland e a Escola Parque
(Por Felipe Lobo, OEco, 30/08/2008)