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transgênicos soja transgênica
2008-08-29
A Amaggi, empresa de esmagamento e exportação de soja do Grupo André Maggi, iniciou este ano um projeto-piloto inédito para ampliar a entrada da soja transgênica no mercado europeu. O grupo, da família do governador do Mato Grosso Blairo Maggi (PR), criou padrões de cunho social, ambiental e trabalhista que deverão ser aplicados pelos fornecedores como forma de minimizar as críticas em relação ao produto. A soja transgênica, que já compete com a convencional no Brasil, é altamente rejeitada na Europa.  

Cerca de 300 dos 800 fornecedores da Amaggi aderiram voluntariamente ao programa, representando quase 70% do volume de soja entregue ao grupo.  

A soja transgênica "sustentável" está inserida no Programa Amaggi de Soja Responsável. Mas nada mais é que a colocação em prática das leis brasileiras e internacionais - preservação de cobertura vegetal mínima, o manejo correto de agrotóxicos, do solo, da água e a garantia de que nenhuma fazenda emprega crianças ou mão-de-obra análoga à escravidão, entre outros pontos.  

Por ser geneticamente modificada, essa soja não pode ser certificada. Isso porque a certificação tem como premissa que o produto não prejudica o homem nem o ambiente, o que ainda não é comprovado cientificamente nos alimentos transgênicos.  

Para contornar esse problema, o grupo Amaggi contratou a certificadora européia Cert ID, no Brasil sediada em Porto Alegre, para fazer a "verificação" de seus fornecedores de soja. A verificação apenas atesta que as fazendas estão (ou não) seguindo padrões determinados pela empresa.  

A alemã Kleffmann, que atua na área de pesquisa agropecuária, será responsável pela coleta, processamento e análise dos dados recolhidos com os produtores. Segundo Lars Schobinger, CEO da empresa, as fazendas começarão a ser auditadas no mês que vem. "Até outubro teremos os dados processados", diz o executivo.  

Procurada pelo Valor, a Amaggi afirmou que o projeto é incipiente e, por esse motivo, prefere não comentá-lo "por enquanto".  

A estratégia do grupo de promover a soja transgênica "sustentável" tem como foco as exportações. É uma resposta à pressão de um mercado comprador cada vez mais avesso a escândalos, sejam eles ambientais, sociais ou trabalhistas. "É como dizer: se você aceitar comer soja transgênica, pelo menos fique sabendo que ela foi plantada direitinho, dentro de todas as normas", diz uma fonte do setor que prefere o anonimato.  

O projeto-piloto terá de passar por uma prova de fogo: a aceitação do mercado comprador. Algumas organizações ambientais, como a Solidariedad, já armam protestos na Holanda, a porta de entrada de vários produtos agrícolas para a Europa, contra a chegada de farelo transgênico no continente.  

"Essa verificação não vai ajudar em nada no mercado europeu, pelo contrário", diz Gabriela Vuolo, da campanha contra transgênicos do Greenpeace Brasil. Ela lembra que recentemente a Alemanha aprovou a lei de rotulagem positiva, segundo a qual o produtor pode informar que seu produto é livre de transgênico. "Dizer que a soja não tem impacto ambiental e plantar transgênicos é muito conflitante. Eles estão descobrindo um santo para cobrir outro".  

Mas outro termômetro importante que garantirá o sucesso do projeto é a adesão dos fazendeiros. Para isso, a Amaggi iniciará um ranking entre os produtores que incluirá de produtividade a custos com mão-de-obra e terá como objetivo incentivá-los a melhorar sua performance e, assim, aderir ao projeto. "Será um benchmark mundial inédito", diz Schobinger, da Kleffmann.  

A Amaggi tem hoje 125 mil hectares plantados com soja. O grupo não divulga, porém, quanto de sua produção é de soja convencional e quanto de transgênica.  

(Por Bettina Barros, Valor Online, 29/08/2008)

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