O Governo do Brasil é réu em um dos casos a serem julgados pelo Tribunal Latinoamericano da Água (TLA) no próximo dia 11, em sessão a ser realizada na cidade de Antigua, na Guatemala. O TLA é um Tribunal Internacional ético e promove sessões de julgamento de conflitos na América Latina que envolvam danos aos recursos hídricos e a comunidades ribeirinhas, tradicionais e indígenas.
A denúncia contra a União foi apresentada pela Associação Kanindé de Defesa Etnoambiental, em virtude da “ameaça de danos irreparáveis à integridade física e territorial de índios e grupos indígenas isolados, representada pelos dois grandes empreendimentos hidrelétricos projetados para o rio Madeira, em Rondônia: as usinas de Santo Antônio e Jirau”.
Em Carta Aberta à População, a Associação Kanindé – com sede naquele estado - coloca que ambas “fazem parte do pacote de obras de infra-estrutura denominado como PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), lançado no ano de 2007, o qual traduz a política do Governo Federal de desenvolvimento a qualquer custo – social e ecológico”. E lembra que, no dia 11 passado, o Ibama liberou a Licença de Instalação da Usina de Santo Antônio.
“Nas áreas de influência direta e indireta da UHE Santo Antônio, existem grupos indígenas isolados reconhecidos pela Funai (Fundação Nacional do Índio). No entanto, os estudos de demarcação da Terra Indígena sequer foram iniciados, embora a área esteja interditada”, disse a AmbienteBrasil o advogado Rodrigo Siqueira, especialista em Direito Ambiental e um dos “defensores etnoambientais” responsáveis pela preparação do processo.
“No caso de início das obras, os danos serão irreparáveis, se estudos posteriores comprovarem a influência nos territórios dos grupos de índios isolados”, completa.
Segundo Rodrigo, tendo em vista a insatisfação da sociedade civil com os resultados de seus requerimentos perante o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), o caso foi apresentado ao TLA na expectativa de se criar um novo fato político. “As decisões do TLA não são obrigatórias, mas sinalizam princípios éticos que prejudicam a imagem de responsabilidade ambiental de governos e empresas que as desconsiderem”, diz ele.
A sessão de julgamento segue os ritos processuais de praxe. A Advocacia Geral da União foi oficialmente intimada e será responsável pela defesa do Governo brasileiro. A outra ré do pleito é a IIRSA, a Iniciativa de Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana, no âmbito da qual as hidrelétricas do Madeira foram concebidas.
A IIRSA é, oficialmente, um processo multisetorial que pretende desenvolver e integrar as áreas de transporte, energia e telecomunicações da América do Sul, em dez anos.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 29/08/2008)