A negociação em andamento entre a Aracruz e a Votorantim Celulose e Papel (VCP) pode significar mais investimentos no terminal de escoamento de celulose que a empresa construirá em São José do Norte. O diretor-presidente da Aracruz, Carlos Aguiar, admite que é viável tecnicamente ampliar a capacidade de movimentação do complexo (1,8 milhão de toneladas por ano), se for necessário transportar também a produção da VCP - esta negocia participação majoritária na Aracruz.
"Essa questão, se houver a aquisição, precisa ser estudada", adianta Aguiar. O dirigente acrescenta que no seu entendimento, implementado o porto de São José do Norte, não haveria impedimentos para trazer ao município a celulose da fábrica que a VCP pretende instalar no Estado. A VCP já anunciou que sua planta deve ser situada em Rio Grande ou Arroio Grande, mas a confirmação da localização estava prevista para o primeiro semestre deste ano e até o momento não foi divulgada.
O projeto atual do terminal de São José do Norte prevê um investimento de R$ 120 milhões e a operação a partir de julho de 2010. O objetivo principal da estrutura é escoar o incremento da produção da Aracruz no Estado. Aguiar esteve ontem em Guaíba participando do lançamento da pedra fundamental de expansão da unidade da Aracruz Celulose.
O evento contou com a participação de vários empresários e políticos. Na estrada, entre Porto Alegre e Guaíba, já podiam ser vistos outdoors informando sobre a ampliação da fábrica da Aracruz. Com a iniciativa, que deve ser concluída até setembro de 2010, a empresa atingirá uma capacidade de produção de celulose de 1,8 milhão de toneladas anuais. A estimativa de investimento é de R$ 4,9 bilhões, o que contempla o aumento da produção de celulose, expansão de base florestal e implantação de um sistema logístico hidroviário. A governadora Yeda Crusius afirma que o investimento da Aracruz significa um novo ciclo de desenvolvimento para o Estado. A governadora compara a importância da confirmação da ampliação da Aracruz com o momento em que se decidiu pela implantação do Pólo Petroquímico no Rio Grande do Sul.
Yeda enfatiza que o governo sustentará o compromisso da segurança jurídica para o empreendimento. "A palavra não será mais medida pelo fio de bigode, mas pelo fio da sobrancelha que não diferencia se a palavra é de homem ou de mulher", discursou no evento a governadora. Ela também citou que o município de Guaíba, que atravessou fases negativas, está entrando agora em uma etapa positiva. Yeda enalteceu o trabalho "democrático e determinado" do secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, no regramento do setor florestal no Rio Grande do Sul. O planejamento prevê o cultivo de eucaliptos em 150 mil hectares e a preservação de mais 100 mil hectares.
O presidente do Conselho de Administração, Carlos Alberto Vieira, relata que a empresa tem a intenção de "criar raízes no Rio Grande do Sul". Segundo ele, o projeto, somado a outros investimentos no setor, poderão tornar o Estado o maior pólo de produção de celulose do Brasil. Indagado sobre a fusão com a VCP, Vieira disse que não podia comentar nada a respeito, porque é um assunto que está sendo discutido entre os acionistas.
Empresa contratará fornecedores gaúchos
Conforme o diretor-presidente da Aracruz, Carlos Aguiar, a companhia tem entre seus objetivos estimular os fornecedores locais. Ele informa que deverão ser desembolsados cerca de US$ 400 milhões em aquisições de equipamentos de empresas gaúchas, no espaço de dois anos. Esse montante foi redimensionado, pois em abril se calculava um investimento de cerca de US$ 300 milhões.
A Aracruz já adquiriu equipamentos da Demuth no valor de US$ 100 milhões. Além da empresa de Portão, Intecnial, Construtora Pelotense, entre outras, também prestarão serviços para a Aracruz. Outro ponto salientado é o número de postos de trabalho que serão criados com a ampliação da unidade de Guaíba. No pico das obras, em 2009, deverão ser gerados em torno de 7 mil empregos. Em parceria com o governo do Estado, a Aracruz deverá treinar 10 mil trabalhadores. Uma novidade, na fase de implantação da nova unidade, será o aproveitamento de mão-de-obra feminina na construção civil. Em toda a cadeia produtiva vinculada à planta de Guaíba, deverão ser gerados aproximadamente 50 mil empregos diretos.
O Rio Grande do Sul também deverá ser beneficiado ainda com a geração de US$ 800 milhões em divisas com exportações. A atividade da Aracruz, depois da ampliação, corresponderá a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho.
(Jornal do Comércio, 28/08/2008)