As rondas de negociação para chegar ao sucessor do Protocolo de Quioto sobre alterações climáticas devem ser uma “oportunidade de ouro” para África, disse hoje Yvo de Boer, presidente do Secretariado das Nações Unidas para as Alterações Climáticas no Gana, perante representantes de 160 países. A Greenpeace defende a necessidade de acelerar as negociações.
Yvo de Boer apelou às nações africanas para defenderem os seus interesses no protocolo que vai suceder a Quioto, que termina em 2012, e que deverá ser acordado no final de 2009, em Copenhaga. “Este processo até Copenhaga é uma oportunidade de ouro para os países africanos, para garantirem que o próximo protocolo satisfaça melhor as suas necessidades”, declarou na terceira ronda de negociações de 2008, em Acra, de 21 a 27 de Agosto.
Os países africanos “precisam definir o que é essencial para eles, para que possam reduzir as emissões e adaptar-se aos impactos das alterações climáticas”, acrescentou.
Yvo de Boer salientou que África está a ficar para trás no que concerne à atracção de investimentos em tecnologia “limpa” e de ajuda para se adaptar a secas, inundações e subida do nível do mar. A China, Índia e o Brasil têm atraído muito mais investimentos do que os países africanos, no âmbito de um programa da ONU que incita os países desenvolvidos a desenvolverem projectos nos países em desenvolvimento de redução de emissões poluentes.
“África ainda não está a beneficiar dos instrumentos que temos”, lamentou. Mas um relatório apresentado ontem pela ONU disse que as coisas podem estar a mudar, dado que projectos de energias renováveis estão a proliferar em países como o Mali, Moçambique e Madagáscar.
Reunião em Acra conseguiu progressos nas florestas
Segundo De Boer, a reunião em Acra conseguiu progressos na definição de ajudas ao abrandamento da desflorestação tropical, fonte de cerca de 20 por cento das emissões de gases com efeito de estufa das actividades humanas. “Os países compreendem hoje melhor como querem lidar com a desflorestação, como querem premiar as pessoas pela conservação das florestas”, disse o responsável.
A organização ecologista Greenpeace, presente em Acra, também identificou progressos na reunião mas lembrou que ainda há muito por fazer até 2009. Em comunicado enviado ao PÚBLICO, a organização saúda o “anúncio da Coreia da definição das suas próprias metas de redução de emissões e o papel construtivo do México na criação de pontes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento”.
No entanto, ainda não existem propostas concretas sobre como será transferida a tecnologia limpa para os países mais pobres e sobre como estes serão ajudados a enfrentar os impactos do sobre-aquecimento global, notou. “Está a ser gasto demasiado tempo com detalhes processuais e tomadas de posição”, comentou Bill Hare, director da Greenpeace Internacional para a política climática.
“Esta é a terceira ronda de negociações desde que este processo de dois anos foi lançado em Bali no ano passado e por esta altura já devia estar a ganhar forma o acordo que será fechado em 2009”, acrescentou.
A comunidade internacional vai voltar a reunir-se em Poznan, Polónia, em Dezembro, para continuar as negociações. “Mas alguns Governos já começaram a baixar as suas expectativas de progressos em Poznan. Estes preferem deixar tudo para o último minuto, com a desculpa de que é assim a natureza das negociações internacionais”, observou Hare. “Estas negociações devem avançar rapidamente para dar ao mundo uma hipótese de evitar a catástrofe climática”.
(Reuters, Ecosfera, 27/08/2008)