As alterações climáticas podem causar a morte a milhões de pessoas nos próximos 20 anos devido aos seus efeitos no agravamento da má nutrição e várias doenças, estimaram hoje especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) numa conferência interministerial sobre Saúde e Ambiente, em Libreville, Gabão.
“As alterações climáticas terão efeitos directos e indirectos na saúde das pessoas. Directos com os desastres naturais, as inundações e secas, mas também indirectos, com as doenças”, analisou a médica espanhola Maria Neira, directora do Departamento de Saúde Pública e Ambiente da OMS.
“De meados dos anos 1970 e o ano 2000, as alterações climáticas foram responsáveis por cerca de 150 mil mortos suplementares por ano. Segundo as nossas estimativas, este número deverá aumentar, ainda que apenas estejamos a levar em conta uma parte das causas (de mortos devido às alterações climáticas. Estamos a falar de uma ponta do iceberg”, afirmou Diarmid Campbell-Lendrum, especialista da OMS.
“A este ritmo”, o número de mortos causados directamente pelas alterações climáticas, vai cifrar-se em milhões, “dentro de 20 anos”, considerou, à margem da conferência que se realiza de 26 a 29 de Agosto.
Entre as doenças conta-se o paludismo que faz um milhão de mortos por ano. “Já temos um grande problema com o paludismo e as alterações climáticas vão torná-lo ainda maior. A temperatura influencia a sobrevivência dos mosquitos e parasitas (que transmitem o paludismo). Quanto mais calor, maior a taxa de infecção”, explicou Campbell-Lendrum.
As doenças diarreicas são outra fonte de preocupação. “Em numerosos casos, a bactéria que infecta a água ou os alimentos sobrevive melhor em temperaturas mais elevadas. Mas o aumento da frequência das inundações e das secas vai contaminar as fontes de água. Por exemplo, num período de seca, as pessoas armazenam água durante mais tempo ou lavam menos as mãos”, acrescentou.
“Mas um dos maiores problemas é a subnutrição, que mata 3,5 milhões de pessoas por ano”. Com as alterações climáticas, a produção alimentar deverá aumentar ligeiramente nos países ricos mas deverá baixar nos países próximo do Equador, onde as necessidades são maiores”.
(AFP, Ecosfera, 28/08/2008)