Os países do Golfo Pérsico, ou Arábico, ricos em petróleo e agora beneficiados por seu alto preço no mercado internacional, procuram não ficar para trás no desenvolvimento de fontes alternativas de energia renováveis, um objetivo perseguido em todo o mundo. A energia produzida a partir de combustíveis fosseis representou 79% do total consumido em 2006, mas o fato de a quantidade oriunda de fontes renováveis ter aumentado para 18% é um claro indicador da tendência, segundo “REN 21: Informe mundial do status das energias renováveis”.
O estudo “Tendência de energias alternativas e conseqüências para os países do Conselho de Cooperação do Golfo” (CCG), realizado pelo Centro de Pesquisa do Golfo, com sede em Dubai, analisou a situação. “O alto custo dos combustíveis fósseis junto com os avanços tecnológicos e os menores custos das crescentes economias de escala jogarão a favor das fontes de energia renováveis, que se converteram em uma indústria que terá de ser levada em conta, que tem maior apoio governamental e se vê incentivada pelas preocupações vinculadas ao aquecimento global”. Há um enorme potencial técnico nas energias renováveis, que já supera várias vezes a demanda atual, segundo especialistas.
O consumo mundial de eletricidade em 2050 poderá ficar entre 113 e 167 exajoule, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). A tecnologia vinculada à energia renovável, excluindo a biomassa, tem um potencial de produção de eletricidade de quase 2.500 exajoules por ano. “O investimento sustentado em energia renovável foi de US$ 79,9 bilhões em 2006, aumento de 43% em relação a 2005”, disse à IPS Eckart Wortz, chefe de programa do Centro de Pesquisa do Golfo. “Os setores onde se registra o grosso do investimento são os da energia eólica, solar e biocombustíveis, o que reflete maturidade tecnológica, políticas de incentivos e apetite por investir”, acrescentou.
O investimento nas nações em desenvolvimento têm um papel menor comparativamente, mas, aumenta rápido e já é considerável no Brasil, na China e Índia. Este último país produz 4.300 megawatts por ano, seguido da China com 765 megawatts. Segundo a tendência global, o interesse nas energias renováveis aumenta em Omã, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos, o que se traduz em grandes investimentos e em vários projetos notáveis. “OS países do CCG eram reticentes a adotar energias renováveis. Têm condições favoráveis, mas sua atitude era a de que estavam sentados em um mar de petróleo e gás que duraria para sempre e por isso não havia necessidade de contemplar outras fontes alternativas”, disse Woertz.
Um indício da mudança de atitude é que os Emirados, que têm a sexta reserva de petróleo com cem bilhões de barris, assinou em janeiro passado acordo com uma companhia francesa para construir dois reatores nucleares. Bahrein e Kuwait também prevêem a construção de usinas nucleares. Muitos acreditam que esses países e a Arábia Saudita perseguem planos de energia atômica como salvaguarda contra o programa nuclear do Irã, mas, com segurança, seus objetivos são maiores. A nova ênfase posta na energia renovável também tem a ver com a conscientização de que o petróleo é finito.
Por isso, agora contemplam conservar e prolongar a duração e a validade dos hidrocarbonos, especialmente porque é possível que aumente a demanda mundial por combustíveis de origem fóssil e porque os preços provavelmente continuarão altos.
Também acreditam que, com a enorme liquidez que têm, poderão desenvolver com sucesso fontes de energia renováveis com fizeram com a indústria petroleira. Mas, o mais importante é que aumenta a escassez do fornecimento interno pela crescente demanda nas nações do CCG e em muitos deles já falta.
O ministro saudita do Petróleo, Ibrahim Al Naimi, disse que seu país aumentará a importância da energia solar entre suas fontes energéticas. Ao elogiá-la como “abundante, limpa e disponível para todos”, afirmou que a Arábia “dará atenção especial a esse tipo de energia”. Esse país também prevê construir usinas que transformem dejetos perigosos, tóxicos e orgânicos em energia vendável. Em Omã, foi traçado um plano para o desenvolvimento fontes de energia renováveis. A construção de grandes usinas térmicas e uma fazenda eólica de 750 megawatts no sul do país são alguns dos projetos previstos.
A Autoridade de Eletricidade e Água de Dubai, um dos Emirados Árabes Unidos, estuda a construção de uma fazenda eólica de US$ 1 bilhão para cobrir 10% da demanda energética local. Também existe o ambicioso projeto Masdar, nos Emirados, que se propõe construir uma cidade no deserto que será a primeira a não emitir dióxido de carbono no mundo, com investimento de US$ 22 bilhões e outros US$ 15 bilhões para um projeto de energia renovável na nova localidade.
Para promover sua nova imagem criou o Prêmio Zayed de Energia Futura, no valor de US$ 1,5 milhão, para incentivar inovações no campo do desenvolvimento sustentável e de energias limpas. Um júri ilustre, liderado pelo prêmio Nobel da Paz R. K. Pachauri, escolherá o ganhador em janeiro. No contexto desse projeto também se realiza um estudo para construir uma unidade de energia solar com capacidade de 500 megawatts, cujo custo chegaria a US$ 500 milhões. Também se estuda a viabilidade de outra, à base de hidrogênio, no valor de US$ 100 milhões.
“Segurança energética, mudança climática e desenvolvimento sustentável exigem participação e compromisso coletivo para investir e construir um futuro melhor e mais seguro”, diz uma declaração do sultão Al Jaber, chefe de Masdar, que pode ser lida no site da companhia. “Com Masdar queremos desempenhar um papel importante no desenvolvimento de soluções que respondam aos desafios atuais. Não somos simplesmente uma iniciativa de energia renovável, nossas pretensões estão muito acima. Cremos realmente que podemos marcar uma diferença”, acrescenta.
“Este é, no momento, um dos projetos mais significativos em matéria de energias renováveis no CCG”, destacou o economista Woertz. “Parece que Abu Dhabi deu às iniciativas da Arábia Saudita dos anos 80 uma dimensão muito maior, com a finalidade de aproveitar o avanço tecnológico e a melhora econômica nas fontes de energia renováveis registrados desde então”, acrescentou Woertz.
(Por Meena Janardhan, Envolverde, IPS, 26/08/2009)