A poluição nos bairros Jardim Camburi e Jardim da Penha, em Vitória, praticamente dobrou os casos de asma, comparados à prevalência esperada da doença. Jardim Camburi é o mais afetado pela poluição industrial, produzida pelas usinas de pelotização da Vale e pelas siderúrgicas da ArcelorMittal Tubarão.
Poluição do ar é o tema da próxima Terça Científica, realizada uma vez por mês pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Informa a Sesa que se trata de um encontro para debater temas cotidianos relacionados à saúde e que sejam de interesse tanto da população quanto de profissionais e estudantes da área.
Na próxima terça-feira (2), a partir das 14 horas, no auditório do Laboratório Central (Lacen), o tema será “Prevalência de asma e sintomas respiratórios no município de Vitória: comparação entre duas áreas com diferentes fontes de poluição atmosférica identificadas através de biomonitoramento”.
Informa a Sesa que a palestrante será a doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e engenheira química da prefeitura de Vitória, Dione da Conceição Miranda.
A Sesa informa que o conteúdo central da palestra é a pesquisa de doutorado que Dione Miranda desenvolveu esse ano, baseada em um trabalho feito com crianças de sete a 12 anos, estudantes de escolas dos bairros Jardim Camburi e Jardim da Penha.
Segundo a secretaria, Dione Miranda afirmou que “o trabalho visou a identificar qual a fonte poluidora predominante nesses bairros. Em Jardim Camburi é a industrial, mas em Jardim da Penha não. Na pesquisa foi possível constatar que a asma apresenta uma prevalência bem acima do esperado nessas regiões – praticamente o dobro”.
Os participantes da palestra poderão conferir os dados levantados durante o estudo.
As poluidoras - A ArcelorMittal Tubarão (antiga CST) opera suas duas primeiras usinas sem uma unidade que faça a dessulfuração. Funcionam assim há mais de duas décadas e esta unidade de dessulfuração não foi construída apenas por economia. Assim, os gases derivados do enxofre, que são altamente poluentes, são lançados direto no ar e caem sobre os moradores.
E não é só: com um licenciamento ambiental feito a toque de caixa - uma regra do governo Paulo Hartung, aliado da empresa - está em construção mais um forno de reaquecimento de placas do Laminador de Tiras a Quente (LTQ). Com este equipamento, as duas usinas antigas passam a produção de 2,8 milhões para 4 milhões de toneladas de bobinas anuais.
No ano passado, a ArcelorMittal Tubarão inaugurou sua 3ª usina, com a participação do principal acionista da empresa, o indiano Lakshmi Mittal. Na ocasião, foi apontado por ambientalistas que a poluição produzida pela ArcelorMittal Tubarão e a Belgo, do mesmo grupo, causaram doenças aos moradores da Grande Vitória que custaram R$ 1.670.000.000,00 para tratamento.
Com sua 3ª usina, a ArcellorMittal Tubarão passou sua produção de 5 milhões de toneladas anuais de aço para 7,5 milhões de toneladas anuais (podendo chegar a 8,3 milhões). A empresa produz apenas semi-acabados de aço no Espírito Santo, na forma de placas e bobinas, laminados a quente.
A maior das poluidoras da Grande Vitória é a Vale. Sua primeira usina foi inaugurada em 1969, com a remontagem de uma velha usina comprada nos Estados Unidos, com capacidade para produzir 2 milhões de toneladas anuais. As doenças causadas pelos poluentes da Vale têm custo anual médio de R$ 65.000.000,00, o que totaliza R$ 2.470.000.000,00, nos seus 38 anos de produção.
Cada morador da Grande Vitória paga um tributo às poluidoras para tratar as doenças provocadas por elas de R$ 100,00 por ano, valor médio. E muitas das doenças causadas pela poluição não têm cura, como alguns tipos de câncer.
Ao todo, são 59 os tipos de gases lançados, sendo 28 altamente nocivos. Tais poluentes podem causar além de vários tipos de câncer, doenças que destroem o sistema imunológico, alérgicas, respiratórias e genéticas.
Não estão computados nestes cálculos as lesões permanentes no trabalhador, ocorrências com agravamentos drásticos na população e doenças provocadas pela poluição hídrica, entre outros.
A CVRD e a ArcelorMittal Tubarão e Belgo provocavam 50% da poluição do ar na Grande Vitória, segundo dados apurados pelo Instituto de Física Aplicada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), antes do aumento de produção de suas usinas. A pesquisa apontou nessa ocasião que a CVRD respondia por 20-25% dos poluentes do ar, a ArcelorMittal Tubarão por 15 a 20% e a Belgo por 5-8% das 264 toneladas/dia de poluentes, 96.360 toneladas/ano de poluentes.
Além da expansão da ArcelorMittal Tubarão, a Vale também está aumentando sua produção de pelotas em 45%, com reformas de velhas usinas e da instalação da VIII pelotizadora. Serão produzidas 39,3 milhões de toneladas ano de pelotas de ferro em Tubarão.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 26/08/2008)