Contexto Ambiental/Bioma Pampa foi o tema apresentado na manhã de segunda-feira (25/08) pela doutora Luiza Chomenko, bióloga da Seção de Conservação e Manejo do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do RS, durante a capacitação em Recuperação Ambiental nos Programas de Assentamentos do Bioma Pampa, promovido pelo Incra/RS e Tal Ambiental.
Luiza destacou que, dos seis biomas brasileiros, o Pampa é o único que se encontra em apenas um Estado. Os demais (Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado) têm que conciliar políticas de governo e reivindicações da cidadania. “Sendo único, o que se fizer só terá conseqüências nele, ou seja, aqui no Rio Grande do Sul”.
Para Chomenko, a questão ambiental passa por uma crise de civilização, que atinge a identidade cultural das populações envolvidas. “Se altera o solo e a vegetação, altera também a cultura dos povos e elimina as espécies”, observa. “Para a preservação da cultura é preciso preservar as vocações e valorizar os grandes vetores do desenvolvimento regional”, complementa.
Ameaça efetiva
Das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, apresentadas pelo Ministério do Meio Ambiente, o Pampa, um dos mais detalhados, “assustou pela ameaça efetiva”, analisa Chomenko. “Matas de espinilho e butiazais, que caracterizam o Pampa, não estão tendo reposição”, denuncia, ao questionar sobre quantos empregos são gerados por toda a cadeia produtiva da carne, do leite, do turismo e mesmo do setor coureiro-calçadista.
Chomenko defende a pecuária como a vocação natural do Pampa, porque conserva o ambiente, mantendo a biodiversidade e o homem no seu meio. Ainda durante sua explanação, a bióloga apresentou características que tornam o Pampa um bioma único no planeta.
O Pampa gaúcho é parte de uma importante região natural com cerca de 760.000 km², que cobre a metade sul do Rio Grande do Sul, o Uruguai e o nordeste da Argentina. Para a bióloga, o Pampa é pouco valorizado como região natural “porque normalmente o olhar humano associa a visão de natureza preservada a ambientes fartamente arborizados”.
Ecossistemas raros
No Pampa, diz ela, a paisagem se caracteriza pela predominância de campos, um conjunto de ecossistemas raros e extremamente frágeis. O bioma é caracterizado por um conjunto de diferentes tipos de relevo e solos, recobertos por vegetação campestre ou de savana, com predomínio de plantas herbáceas e arbustivas.
Das 136 ecorregiões do planeta, identificadas como exemplos da diversidade de ecossistemas do mundo, 35 são de campos e savanas. A região é uma das áreas do planeta com maior diversidade de espécies de gramíneas (capins e afins). Somente nos campos do sul do Brasil existem mais de 800 espécies diferentes de gramíneas e 200 de leguminosas (família do feijão), o que sobrepassa inclusive a riqueza de plantas encontradas em algumas selvas tropicais.
Aves e Mamíferos
12% de todas as espécies de mamíferos e aves do Rio Grande do Sul vivem somente em campos. Há várias espécies de animais e plantas endêmicas dos Pampas, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do planeta.
Estas incluem oito espécies de aves, mamíferos como o tuco-tuco da região de Alegrete, e numerosas espécies de plantas, incluindo dezenas de espécies de cactos que só ocorrem em nossos campos.
15% das 250 espécies ameaçadas de extinção no RS habitam somente campos, sendo seis mamíferos, como o veado-campeiro, o gato-palheiro e o lobo-guará, 25 aves, como a noivinha-de-rabo-branco, o veste-amarela, a águia-cinzenta, um réptil, três anfíbios e três espécies de abelhas nativas sem ferrão.
A substituição dos pastos naturais por pastagens artificiais, agricultura e silvicultura, além do pastoreio intensivo, tem reduzido o habitat de muitas espécies animais e vegetais. Também a incidência do fogo e a introdução de espécies exóticas têm levado algumas áreas ao processo de degradação e desertificação.
Ministro Carlos Minc
Num evento da Petrobras no Rio de Janeiro, há poucos dias, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que o Pampa é uma área com características próprias “também agredida que tem que ser preservada”. Segundo ele, o Pampa é um “ecossistema pouquíssimo conhecido, nem por isso menos importante e que merece todo interesse”.
Quando perguntado sobre o que o MMA propõe para reduzir a ameaça da monocultura de espécies exóticas no Pampa, por parte de multinacionais que pressionam o Congresso Nacional para reduzir a Faixa de Fronteira de 150 para 50 quilômetros, favorecendo as papeleiras, Minc declarou que “qualquer monocultura, pela sua homogeneidade, afeta o meio ambiente, ao contrário da biodiversidade, que dá riqueza ao ambiente”.
Mas afirmou ser “favorável ao plantio do seringal, do dendê, da mamona, do pinhão manso pra fazer biodiesel, do cedro, do eucalipto, desde que dentro de um zoneamento onde seja reflorestado com matas nativas os rios, as APPs”.
Zoneamento econômico e ecológico
Para ele, há certo preconceito com plantios de eucaliptos e outras espécies exóticas. “Por exemplo, se estipulam regras para o zoneamento econômico e ecológico. No campo você precisa de madeira pra tudo que é coisa, fazer casa, curral, cerca. Se não planta silvicultura econômica para tirar madeira, tira madeira do Pantanal, do cerrado, da mata atlântica, do Pampa”, analisou.
Minc enfatizou que a silvicultura econômica é essencial, desde que combinada com plantio das espécies nativas. “É nocivo para o meio ambiente milhares de quilômetros de uma única espécie plantada, sobretudo em áreas de preservação ambiental ou expandindo sobre áreas de produção de alimentos”.
“Se você preserva a produção de alimentos, os biomas originais e replanta as margens dos rios, não é mal ter espécies exóticas, comerciais, plantadas. O mal é quando essas espécies invadem biomas, APPs e áreas de produção de alimentos”, disse o ministro do Meio Ambiente.
(Por Adriane Bertoglio Rodrigues, EcoAgência, 26/08/2008)