Investimentos na área florestal criam necessidade de mais profissionais qualificados no campo ou nas fábricas que processam madeira
Boom favorece jovens
Joabel Barbieri viveu a infância em meio à plantação de fumo, junto à pesada lida da lavoura: produzir mudas, preparar o solo, plantar, cortar a planta a facão, secá-la no galpão, fazer os fardos. A família levava – e ainda leva – uma vida simples no interior de Pinhal Grande, Região Central, mas não faltou dinheiro para dar um computador ao filho, quando ele tinha 15 anos, nem estímulo à educação.
Ao terminar o Ensino Médio, Barbieri concluiu que havia dois cursos aos quais se adaptaria: agronomia e engenharia florestal. A decisão foi tomada quando empresas de celulose anunciaram investimentos no Estado. Hoje, aos 24 anos, o engenheiro florestal, formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), não se arrepende. Logo após a formatura, no início deste ano, foi contratado pela Stora Enso, por um salário de cerca de R$ 2 mil. No trabalho, associa o conhecimento de campo ao de informática, produzindo mapas florestais no escritório de Rosário do Sul.
Por conta dos investimentos em silvicultura, as alternativas para quem quiser seguir os rumos de Barbieri aumentaram. Nos últimos dois anos, o Rio Grande do Sul, que tinha apenas um curso de engenharia florestal, em Santa Maria, passou a ter mais dois: um na Unipampa, em São Gabriel, e outro no Centro de Ensino Superior Norte da UFSM, em Frederico Westphalen. As vagas abertas por vestibular e outros processos seletivos passaram de 44 em 2003 para 176 em 2006, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Além disso, surgiram outros cursos ligados à área como o de engenharia industrial da madeira, da Universidade Federal de Pelotas. De acordo com a Associação Gaúcha das Empresas Florestais, as formações em engenharia agronômica e biologia também devem ser fortalecidas. O presidente da entidade, Roque Justen, também destaca a necessidade de mais profissionais de nível técnico, nas áreas florestal, agrícola, agropecuária e de gestão ambiental.
– À medida que se desenvolverem os projetos em médias e pequenas propriedades, com integração agrossilvipastoril (lavoura, gado e florestas), aumentará de forma geométrica a necessidade de técnicos com foco em sustentabilidade – diz.
Nascido em Unistalda e formado em engenharia agrícola pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões em Santiago, Gilson Atarão não imaginava que conseguiria emprego para nível superior na terra natal. Desempregado desde outubro de 2006, ele negociava uma vaga com uma empresa de Não-Me-Toque, distante 350 quilômetros de casa, quando se instalou em Unistalda um escritório da Reflorestadora Nativa.
– Levei o currículo (na Reflorestadora Nativa) e, em 10 minutos, estava contratado – lembra o encarregado de operações da empresa.
De bandeja
Jean Lander repõe no bufê a batata frita, serve refrigerante. Quem vê a intimidade do garçom com a bandeja pensa que o ofício é rotina para o garoto de 19 anos. Mas não. O futuro de Jean aponta para fora do comércio dos pais, na beira da estrada que leva a Cerrito, Zona Sul do Estado.
Ele só trabalha ali quando está de férias da faculdade de Engenharia Industrial Madeireira, curso escolhido quando os investimentos em florestas começaram a movimentar as estradas da região.
(Por Sebastião Ribeiro, Zero Hora, 27/08/2008)