Anos atrás, ninguém pensava duas vezes antes de cortar a floresta tropical ao redor dessa pequena cidade no oeste da África. A terra foi limpa, coqueiros e palmas foram plantados e a pequena vila sobrevivia. Mas o vento começou a soprar cada vez mais forte, e chove mais do que os mais velhos possam se lembrar. "Antes, o tempo não era tão quente", diz o chefe do povoado, Nana Opare Ababio.
Afiaso, que tem 620 habitantes, fica na fronteira do Parque Nacional Kakum de Gana, a cerca de 200 quilômetros de Acra, onde a conferência preparatória para o COP 14 , na Polônia, discute como o desmatamento e a conservação se encaixam no novo tratado de mudança climática, que substituirá o Protocolo de Kyoto.
Uma área estimada em 13 milhões de hectares de floresta são perdidos para madeireiras, fazendeiros e queimadas todos os anos, de acordo com Food and Agricultural Organization (FAO, da ONU). A maior parcela disso está na Amazônia, no sudeste asiático e no oeste da África.
Queimar ou destruir as árvores dessas florestas libera dióxido de carbono, gás culpado, em grande parte, pelo aquecimento global. Cientistas estimam que cerca de 20% do carbono liberado na atmosfera provém do desmatamento. Negociadores de acordos climáticos têm brigado há anos sobre como monitorar e contabilizar o desmatamento, mas concordam que quaisquer esforços para conter o avanço da mudança climática será defeituoso até que o desmatamento seja contido.
Delegados concordam que países que consigam conter o avanço do desmatamento devem ser compensados, e esse deve ser um elemento chave no próximo acordo contra mudança climática. Em Acra, outro grupo de países, os que já tiveram suas florestas dizimadas, argumenta que eles deveriam ser recompensados por manter o pouco que sobrou de suas reservas, além de tentar aumentá-las.
Mas as delegações - e até mesmo organizações ambientalistas - estão divididas sobre como esses programas devem ser financiados e como seriam supervisionados. Negociadores do pacote de desmatamento devem passar todo o próximo ano discutindo, até a data prevista para a assinatura em dezembro de 2009, em Copenhague.
"Precisamos de um mecanismo de financiamento para criar incentivos para que os países conservem suas florestas e recursos naturais, para que tenham alguma alternativa a cortar suas florestas", disse Duncan Marsh, diretor de política climática de The Nature Conservancy. No entanto, segundo Emily Brickell, especialista em clima da WWF, o plano não funcionará se as comunidades locais não beneficiarem com o planejamento e o lucro. "O desmatamento é uma questão econômica", disse.
Mas vai levar tempo para essas ações chegarem a Afiaso. A vila não tem eletricidade ou esgoto e tem apenas um poço coletivo. "Até onde sei, nós não nos beneficiamos da floresta, além de alguns poucos em pregos para homens jovens", disse Ababio, de 47 anos. Ele acrescentou que não se arrepende de ter derrubado árvores para a agricultura, mas agora se dispõe a replantar a área degradada. Ele espera que mais mata traga mais turistas, complementando a renda da cidade.
(Estadão Online, AmbienteBrasil, 25/08/2008)