Na madrugada do dia 24 de agosto, um grupo de madeireiros armados invadiu novamente a terra Araribóia, do povo Guajajara - Tentehara, atirando contra casas de duas aldeias (Catitu e Buracão). Felizmente, nenhuma pessoa ficou ferida, pois elas já haviam percebido a presença dos invasores e se esconderam no mato. O ataque aconteceu algumas horas após o fim da 1ª Assembléia do Povo Guajajara, que ocorreu numa aldeia da mesma terra indígena, próxima do município de Amarante no Maranhão.
Segundo informação dos Guajajara, o grupo veio para buscar o motor de um caminhão madeireiro que estava abandonado próximo às aldeias. Eles teriam ouvido barulhos na estrada e, quando chegaram ao local, viram um caminhão Mercedes Bens, cor azul, cheio de homens armados. Quando os pistoleiros notaram a presença dos Guajajara, começaram a atirar. Os indígenas fugiram para a mata.
Em seguida, logo após resgatar o motor do caminhão, os invasores voltaram em direção ao município de Amarante. Ao passar pelas aldeias Catitu e Buracão, atiraram incessantemente contra as casas. Desde ontem, as duas aldeias estão abandonadas e o clima é de terror na região.
O caminhão abandonado é o mesmo que provocou a invasão da aldeia Lagoa Comprida, em outubro do ano passado, quando os madeireiros mataram o Sr. Tomé Guajajara, de 60 anos. Desde aquela época, os indígenas cobram da Fundação Nacional do Índio (Funai) a retirada do caminhão do local. Alertavam que a permanência do caminhão dentro da terra indígena poderia trazer novos conflitos. Apesar dos alertas, a Funai não retirou o veículo da área.
Na manhã de hoje, 25 de agosto, Pedro Henrique, Procurador da República no município de Imperatriz (MA), solicitou o envio de policiais para proteger a terra Araribóia. João Francisco, Secretário Estadual da Igualdade Racial, que esteve na terra durante a Assembléia, se comprometeu a executar as ações necessárias para
Alguns participantes da Assembléia acreditam que o ataque foi uma retaliação ao encontro, que mostrou a decisão dos Guajajara de lutar para acabar com a violência e perseguição que têm sofrido nos últimos anos.
Demarcação em ilhas
Os Guajajara são a quinta maior população indígena do Brasil, com 27 mil indígenas. Destes, 20 mil vivem no Maranhão. Em 1984, parte de suas terras foi homologada. Esta homologação, no entanto, ignorou aldeias localizadas em 62 mil hectares não titulados pelo Governo. A exclusão dessa área foi resultado de pressões da elite local e abriu espaço para a ação de invasores que atuam no corte ilegal de madeira, em carvoarias e no plantio irregular de soja, eucalipto e arroz.
A equipe do CIMI – MA acredita que os interesses desses invasores estão por trás dos atentados recentes. Este ano, a Justiça Global enviou um informe à Organização das Nações Unidas (ONU) denunciando a situação e solicitando apuração dos crimes cometidos contra os Guajajara. Segundo levantamento do Cimi, 10 indígenas foram assassinados neste estado em 2008.
(Cimi, 25/08/2008)