Cerca de 350 funcionários da Aracruz Celulose estão impedidos há uma semana, segundo a empresa, de retirar eucalipto em uma área de 11 mil hectares em Aracruz (92 km de Vitória) que pertencia à empresa e foi declarada terra indígena em agosto do ano passado.
Na última terça-feira (19), um protesto que reuniu aproximadamente cem índios guaranis e tupiniquins interrompeu a retirada de madeira prevista num TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado entre a Aracruz, os índios e a Funai.
Com a manifestação, a companhia desmobilizou pessoal e equipamentos que se encontravam na área de colheita.
O termo prevê que a empresa tem direito a retirar a madeira do local, num prazo de 120 dias --contado a partir de 17 de julho-- como forma de indenização. Somente após a conclusão desse trabalho é que os índios podem "assumir" a área.
Os índios protestam contra a interrupção do repasse de verbas do governo federal para a implantação de projetos na área, que corresponde a 13,2 mil campos de futebol.
Segundo Maria de Fátima Oliveira, do posto da Funai na região, a suspensão ocorreu porque os índios supostamente gastaram de maneira incorreta o primeiro R$ 1 milhão destinado. Faltam R$ 2 milhões.
De acordo com o cacique Cesenando Tupiniquim, da aldeia Caieras Velhas, os índios gastaram a verba conforme a Funai recomendou. "Eles não quiseram aprovar a prestação de contas. Disseram que havia dinheiro para consumo, outro para bens permanentes", diz.
A Aracruz, que no primeiro mês estima ter colhido 27% da madeira, afirma que interrompeu a retirada por haver "insegurança" e para evitar conflitos. Diz que, se a situação não for resolvida em breve, as máquinas terão de ser retiradas do local "para evitar furtos", numa operação que, estima, pode custar R$ 4 milhões.
"Já estamos tendo prejuízo cortando árvores de três anos que levariam sete para atingir o ponto ideal. Agora fomos surpreendidos pela suspensão dos trabalhos, porque os índios disseram que não podíamos continuar lá. Não queremos criar conflito e saímos da área", diz Carlos Alberto Roxo, diretor de sustentabilidade da Aracruz.
A Funai em Brasília não se manifestou na segunda-feira (25).
(Por Matheus Pichonelli e Cintia Acabayaba,
Agência Folha, Folha Online, 26/08/2008)