(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
petrobras reservas brasileiras de petróleo
2008-08-26

Trabalhadores da Petrobras não estão animados com a possibilidade do governo federal criar uma nova estatal para gerir os megacampos de petróleo na camada de pré-sal. Para eles, o debate esconde questões mais profundas que deveriam ser reavaliadas pelo governo, como a inserção das empresas estrangeiras na Petrobras e na exploração das reservas de petróleo.

Em entrevista, o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo no Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), Antony de Valle, defende que ao invés de criar uma nova empresa, o governo reestatize a Petrobras. Ele também alerta que o recente interesse dos Estados Unidos em reativar a Quarta Frota de sua Marinha na costa latino-americana não é uma simples coincidência e prevê um aumento da tensão entre transnacionais e povo brasileiro pelo domínio do petróleo.

Por que o sindicato não concorda com a criação de uma estatal para gerir as reservas de pré-sal?
Antony de Valle -
Não é à toa, na nossa avaliação, que a Quarta Frota é reativada agora, justamente no momento em que é descoberto o pré-sal. É uma questão estratégica. Em relação à criação da nova empresa, considero que é um pouco ambígua. Temos uma campanha intitulada "O Petróleo tem que ser nosso", que tem três pontos principais de reivindicação: o primeiro é o fim dos leilões de petróleo e gás. O segundo, é a retomada das áreas já leiloadas. E o terceiro é a Petrobras 100% estatal. Na nossa avaliação, se isso acontecesse, resolveria essa questão toda. Porque o governo vem dizendo que será interessante a criação dessa nova empresa justamente porque garantiria fundos para o bem-estar do povo brasileiro, tanto para educação, saúde, transporte e moradia. O problema é que se o pré-sal fica na Petrobras justamente como está atualmente, em que a Petrobras não é 100% estatal muito pelo contrário, ela tem uma grande participação de capital privado estrangeiro, e sua lógica é mercadológica, diferentemente da de uma estatal. A gente considera que mesmo o pré-sal ficando na Petrobras do jeito que está hoje, não garantiria que os seus recursos fossem efetivamente aplicados para o bem do povo brasileiro. O fato de estar ventilada a idéia de uma nova empresa 100% estatal também esconde o debate sobre esses pontos que apresentamos em nossa campanha. Porque são os pontos centrais: se a gente acabar com os leilões, retomar as áreas já leiloadas e colocar a Petrobras 100% estatal resolveria o assunto.

Como o governo poderia reestatizar a Petrobras?
Antony de Valle -
Exatamente como o governo vai fazer é difícil dizer. Mas é necessário, antes de tudo, ter vontade política neste momento também e procurar aliados. O presidente da Petrobras, em uma audiência no Senado, defendeu que as áreas do pré-sal fiquem com a Petrobras. Isso não é uma solução, no nosso ponto-de-vista, porque se ficar com a empresa fica também co capital privado. O especulador George Soros comprou recentemente uma quantidade elevada de ações, cerca de US$ 811 mi na Petrobras recentemente. Então, quem são os donos efetivamente da Petrobras? Agora, para o governo fazer frente a essa investida das outras transnacionais - visto que a Petrobras também é transnacional hoje - o governo precisa decidir de que lado ele está. Porque qual é o projeto do governo? É realmente fingi que está resolvendo alguma coisa ou é acabar efetivamente com os leilões, retomar as áreas? É necessário primeiro definir o posicionamento para depois procurar o número máximo de aliados.

Por que consideras negativo a Petrobras não ser mais totalmente estatal?
Antony de Valle -
A gente viu agora há pouco tempo com a questão da Bolívia. Muita gente acha "ah, a Petrobras é brasileira, defende os interesses do Brasil" Mas e quais são os interesses do Brasil? O que a gente não concorda é que uma empresa como a Petrobras atue como se fosse a Shell, a Esso ou quaisquer outras dessas transnacionais, exercendo de alguma forma um sub-imperialismo. Isso é um primeiro ponto. Quanto à questão do povo brasileiro, não bastaria transformar a Petrobras em 100% estatal. Precisariam ser criados também mecanismos de controle social. Se ela for 100% estatal não garante ainda que os recursos chegarão efetivamente á população, porque tudo depende de que Estado a gente tem também. E hoje, ela sendo uma transnacional com ações na Bolsa de Nova Iorque, na verdade mostra que a lógica de atuação da Petrobras, embora não seja exatamente igual a das outras transnacionais já que tem alguns aspectos que a diferenciam, mas o princípio de funcionamento da empresa hoje é de mercado. E o mercado não tem como objetivo principal garantir o bem-estar da população, mas sim o lucro, cada vez maior. Principalmente para beneficiar os grandes acionistas. No dia-a-da da Petrobras é muito visível. Há inúmeros projetos voltados para se adequar cada vez mais às exigências da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Isso a gente considera que desvia completamente do que seria uma lógica de Estado.

Que benefícios diretos a reestatização da Petrobras traria ao cotidiano do brasileiro?
Antony de Valle -
De concreto, por exemplo, o preço dos derivados. A Petrobras até faz um certo controle dos preços. Não é exatamente como se fosse a Esso mas, se ela fosse efetivamente 100% estatal e com controle social, seria estudado de um modo muito mais em benefício da população como seriam definidos os preços. Por exemplo a gasolina, o gás de cozinha.

A partir de que momento a atuação das transnacionais do petróleo passou a ser mais recorrente no Brasil?
Antony de Valle -
Antes da quebra do monopólio durante o governo Fernando Henrique Cardoso já havia empresas transnacionais no Brasil. Já se via a Shell e a Esso, mas não na exploração das reservas. Elas existiam no Brasil, mas atuando em postos de gasolina, na distribuição, e não na exploração e produção. Com a quebra do monopólio, elas passaram a ocupar outros setores de produção da cadeia. O que acontece é que embora hoje as jazidas e as reservas ainda continuem com a União, as empresas que participam dos leilões e que ganham, portanto as áreas, têm o direito de exportarem tudo o que quiserem. E o pagamento que se dá ao mercado brasileiro é pequeno se comparado à média mundial. A Agência Nacional do Petróleo [ANP] foi criada neste modelo e defende muito mais as transnacionais do que propriamente a Petrobras e refuta uma mudança no marco regulatório. O pagamento que é feito pelas empresas que exploram as áreas dos leilões é pequeno comparada à média mundial. Aqui vai até 40%, enquanto que em alguns outros lugares elas precisam pagar até 80%.

Por que é tão necessário acabar com os leilões?
Antony de Valle - São matérias-primas estratégicas, tanto o petróleo quanto o gás natural. A gente vê que muitas guerras acontecem no mundo devido a essas fontes de energia. E, se a gente tem, no Brasil esses recursos, eles têm que serem vistos de modo estratégico também. Ou seja, a gente vai deixar que os recursos sejam explorados pelas empresas Shell, Esso, Repsol etc e que sejam exportados ao invés de beneficiar o desenvolvimento do país? Esse é um ponto. Quais são os objetivos efetivos desses leilões? Dizia-se, quando houve a quebra do monopólio, que os leilões iriam trazer muito investimento e que assim seria possível trazer muitas indústrias do petróleo. Só que o que a gente alega é que a maioria dos investimentos é feita pela Petrobras. Se por um lado é verdade que a chamada auto-suficiência se ela aconteceu, não só com o que a Petrobras extrai de petróleo mas sim inclui o que é produzido no Brasil, incluindo essas outras empresas, mas na verdade não podemos esquecer que a maioria esmagadora é a Petrobras. E a auto-suficiência não aconteceu da noite para o dia e não ocorreu também com a quebra do monopólio pra cá. Isso foi desde a criação da Petrobras em 1953. Todo um trabalho de décadas que chegou ao o que é hoje. Por isso que a gente tem que saber para quem vai servir esse petróleo. E com esses leilões, acaba que esse petróleo serve apenas a interesses de empresas e não de interesse sobretudo do povo brasileiro.

(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 25/08/2008)


desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -