Quando setembro chegar, Belo Horizonte será palco das discussões em torno de um tema que está na agenda de preocupações mundiais. Trata-se do lixo e seu destino. A capital mineira sediará a 7ª edição do Festival Lixo e Cidadania, que neste ano une reflexões e discussões em torno da conjuntura socioambiental, humanização das relações na cidade e um olhar de valorização do campo às comemorações dos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O evento tem a parceria de órgãos públicos, entidades empresariais e do terceiro setor, universidades, catadores de materiais recicláveis e movimento da população de rua. Organizado pela Rede de Economia Solidária - Cataunidos, que reúne Associações de Catadores Recicláveis de diversos municípios, em parceria com os Fóruns Nacional e Estaduais Lixo e Cidadania, e apoio do Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável - INSEA. Com ampla programação, a atividade será realizada de 2 a 6 de setembro, no Centro Mineiro em Referência de Resíduos, na Av. dos Andradas, 7400 - Bairro Pompéia.
O humano no espaço público
O festival vem nos provocar um tratamento diferente com o território público, tendo a efetivação da cidadania e dos direitos humanos como centro do debate. A convocação é para que assumamos uma postura diante de toda forma de agressão presente em nosso cotidiano, que nos pedem respostas concretas. O desafio de ampliar a consciência é colocado quando se percebe que o lixo tem impactos multisetoriais. Da interferência humano-social, ele passa por significar reversão da pobreza ao gerar riqueza e renda no aspecto econômico e coibir o impacto ambiental produzindo menos poluição e mais qualidade de vida.
Se o lixo está para a coletividade; também estão, o ritmo, a correria e a desumanização fortemente presentes na radiografia das cidades. E todos, indistintamente, afetam o nosso dia-a-dia, configurando em novas formas de "lixos" urbanos. Neste sentido, as confluências dos temas estão a sugerir a construção de uma ordem social inovadora, ou seja, relações interpessoais mais respeitosas, menos poluidoras e menos tóxicas. E mais, ampliarmos a consciência de não descuido, e sim, de mais co-responsabilidade com o destino do descartável- o lixo. Configuram-se assim, um amplo convite para pensarmos e repensarmos nossa estreita ligação com todas as formas de vida. E destas, atentarmos para ameaças que atingem a todos.
Lixo e atitude cidadã
Precisamos, em outro aspecto, pensar nossa relação de consumo. Consumimos de forma indiscriminada, ao mesmo tempo em que poluímos demais. Um movimento que vai na contramão, ou seja, o homem como envenenador e destruidor do contexto onde vive e,conseqüentemente, de si mesmo.Numa caminhada pelas cidades, vamos ver lixo por toda parte. Uma constatação de que andamos pelas ruas, avenidas, estradas e rodovias, como se não fizéssemos parte delas ou como se elas não fizessem parte de nossa vida - de nosso cotidiano. A constatação dessa realidade é que somos capazes de jogar um papel de bala, palito de picolé, garrafa pet ou embalagem qualquer no chão, nos rios e córregos. Muitos agem de forma irresponsável, fazendo dos espaços públicos, depósitos dos entulhos que não lhes servem mais. Resultado, danos significativos na qualidade de vida urbana. Enfim, está passando da hora termos atenção e comportamentos devidos - aprendermos a coabitar.
Devemos pensar para além na dimensão conceitual estreita do lixo, como coisa que não gostamos, descartamos e abandonamos; mas, também, considerar a sua implicação cidadã. A proposta do Festival Lixo e Cidadania nos convoca a sermos proativos no exercício da cidadania. Eu e você devemos fazer diferença. Se para alguns, ele é mero descarte; para outros é reciclagem. Quando, em determinadas situações, ele é visto como sujeira e entulhos; outros o vêem como possibilidade de criatividade e beleza. Se ainda permanece um conceito negativo para muitos; para outros ele se torna fonte de empreendedorismo, trabalho e renda. A verdade dessa constatação traduz-se na separação, seleção e reaproveitamento dos materiais, resíduos e utensílios. Toda essa dinâmica vem influenciando um novo jeito do agir e do pensar as políticas de desenvolvimento. Estas focadas na cidadania, no fomento financeiro e a inclusão social.
De tudo isso, você pode estar se perguntando: como e onde posso fazer a minha parte? Em todos os aspectos preservar a ecologia integral - ser humano e meio ambiente, começa numa atitude individual. Esta que inicia em casa e amplia-se para condomínios, empresas, instituições sociais, escolas, repartições públicas etc. Como consumidor, você pode exigir da empresa na qual você compra, medidas ambientais em relação ao destino dos resíduos. Todos podemos fazer diferença com gestos concretos!
7 ° FESTIVAL LIXO E CIDADANIA EM BELO HORIZONTE
Informações,inscrições e acesso a programação: www.festivallixoecidadania.com.br
(Por Antônio Coquito *, Adital, 25/08/2008)
* Jornalista socioambiental com especialização em Marketing e Comunicação com ênfase em temáticas sociais -Terceiro Setor- Responsabilidade Social - Políticas Públicas. Também em Comunicação e Direitos Humanos com ênfase em Educação e Cidadania