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eucalipto no pampa silvicultura
2008-08-26

Não é sem questionamentos que as florestas plantadas ganham espaço no Estado. A discussão ecológica, a oposição dos sem-terra e a legislação sobre a atuação de empresas estrangeiras no país tornaram-se obstáculos para o desenvolvimento da atividade no Rio Grande do Sul.

Impacto ambiental

Vizinho de uma área onde a Votorantim Celulose e Papel (VCP) trabalha no plantio de eucaliptos em Capão do Leão, o agricultor Ciro Vasconcelos não cogita implantar florestas em sua pequena propriedade, na qual mantém 50 cabeças de gado e planta quatro hectares de milho. Tem medo que as árvores “sequem as vertentes” e terminem com a produção de alimentos na região.

José Luiz Lucas, de Cerrito, pensa diferente. Parceiro da papeleira desde 2005 e produtor florestal modelo, sempre indicado pela empresa para demonstrar à imprensa e a clientes as virtudes do eucalipto, Lucas é um apaixonado pela atividade. Na sua área, as árvores foram plantadas espaçadamente para permitir consórcio com criação de gado. É lá que ele estufa o peito para mostrar o banhado contíguo às árvores e dizer que a floresta não afastou animais silvestres, como gato do mato, de suas terras.

Difícil encontrar no campo quem não tenha opinião sobre eucaliptos. Nos confins rio-grandenses, encontra-se argumentos a favor e contra o plantio - fruto da guerra de

reuniões realizadas no interior do Estado tanto pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra quanto pelas empresas de celulose.

Ambientalistas e alguns pesquisadores alegam que o eucalipto consome muita água e podem secar banhados e rios, que as grandes áreas plantadas impedem a circulação da fauna nativa, que as árvores bloqueiam o crescimento da vegetação rasteira nativa do Pampa.

– O problema é a transformação de uma paisagem de campo, criada pela natureza, em uma densa cobertura arbórea - afirma o professor do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Ludwig Buckup.

Representantes de empresas florestadoras e outros pesquisadores dizem que as áreas de preservação, de aproximadamente um hectare para cada hectare plantado, compensarão a alteração da paisagem. Que o eucalipto seqüestra carbono do ar, combatendo o efeito estufa. E que as folhas que caem das árvores sob a sombra enriquecem o solo.

– A área de plantio de eucalipto no Estado é relativamente pequena para modificar o ecossistema do Pampa – afirma o engenheiro florestal José Mariano da Rocha, professor da Universidade Federal de Santa Maria.

Algumas constatações são inevitáveis ao se visitar um mato de eucalipto. Se a quebra na paisagem do Pampa causada pela árvore exótica, oriunda da Oceania, é perceptível por quem cruza pelas florestas à beira das estradas, fica mais evidente ao se adentrar o bosque. Debaixo das árvores há um mundo à parte, onde reina o silêncio. Não há barulho de pássaros ou de outros animais silvestres. A falta de sol impede o crescimento de vegetação rasteira.

Visualmente os efeitos das florestas não vão além do espaço ocupado pelas árvores. Ao lado do mato, já crescem gramíneas. O impacto sobre a água não é gritante.

Em duas fazendas visitadas por Zero Hora, os produtores fizeram questão de mostrar áreas inundadas ou encharcadas ao lado e dentro da floresta.

Os efeitos a longo prazo, no entanto, só o tempo demonstrará. Até lá, o mineiro Joaquim Pereira, que há 18 anos trabalha na implantação de florestas em diferentes partes do país, acredita que o bate-boca ambiental diminuirá:

– No início, sempre há discussão. Depois, passa.

Racha no MST
Às margens da rodovia que liga Pinheiro Machado a Piratini, na zona sul do Estado, uma velha placa com a insígnia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lembra que a região é crivada de assentamentos. O que não impede que aflorem matos de eucaliptos.

A introdução do florestamento nos domínios do MST causou um racha na organização, que sempre teve posição contrária à cultura e chegou, no início de 2007, a cortar matos recém-plantados por assentados. Dos cerca de 650 hectares cultivados por cem beneficiários da reforma agrária, em parceria com a VCP, cerca de metade foi cortada em ações de protesto. Do que restou, uma parte está em bom estado e outra em más condições de conservação ou mesmo abandonada.

– Em função da pressão do MST e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), alguns pararam de cuidar, outros abandonaram os lotes – afirma o engenheiro agrônomo da Emater Rodolfo Perske.

Outra parte resistiu. Foi o caso de Jocelito Moura, que se desligou do MST. No seu lote de 44 hectares em Piratini, oriundo de reforma agrária promovida pelo governo estadual, fez 20 hectares de floresta, que hoje também serve de abrigo para ovinos

Contrário às grandes empresas do agronegócio e defensor da produção de alimentos em pequenas propriedades, o MST saiu fortalecido após o Incra ter decidido a proibição do plantio nos assentamentos, tolerando, porém, a manutenção das florestas até o primeiro corte, em sete anos (o contrato com a VCP previa dois cortes).

– O Incra, que é proprietário da terra (o assentado tem a concessão de uso), não foi notificado sobre o plantio e as licenças ambientais não permitem implantação de florestas – explica Mozar Dietrich, superintendente regional do Incra.

Procurado por Zero Hora, o MST não se manifestou sobre a polêmica.

Nacionalidade conta na fronteira
Enquanto a lei que impede estrangeiros de comprar terra na faixa de fronteira sem autorização do Conselho de Defesa Nacional ameaça os investimentos da Stora Enso no Estado, os trabalhos da empresa na implantação de eucaliptos estão acelerados nos campos gaúchos.

Somente neste ano, a papeleira deve concluir o plantio de 10 mil hectares de terra, atingindo um total de 18 mil hectares cultivados entre 2006 e 2008. O diretor de operações da empresa, João Carlos Barrichelo, explica que, mesmo com a suspensão das compras, há trabalho no campo garantido até metade do próximo ano com plantio de mais 2 mil hectares e manutenção de florestas.

– A partir de julho de 2009, se o problema não for resolvido, haverá redução de pessoal – afirma.

Até agora, a Stora Enso, por meio de sua subsidiária Derflin, tem 45 mil hectares no Estado, divididos entre 93 fazendas, muitas das quais responsáveis por uma transformação radical no panorama rural gaúcho.

Adão Santos é um dos 507 trabalhadores envolvidos no plantio para a Stora Enso. A nova cultura veio em boa hora para o gaúcho. Entre 1992 e 2006, ele trabalhou tirando leite na sua chácara, em São Francisco de Assis, e vendendo na cidade. Abandonou a atividade quando aumentou o cerco contra a venda do produto cru. Em 2007, foi contratado pela empresa mineira Plantar, que presta serviços florestais.

– A gente precisa trabalhar, a panela tem de ferver – diz.

(Por Sebastião Ribeiro, Zero Hora, 26/08/2008)


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