Divulgação Científica
Formadas pela água
26/8/2008
Agência FAPESP – O italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910) foi um dos principais responsáveis pela idéia de que Marte seria habitado por seres inteligentes, que perdurou durante décadas e inspirou grande número de livros e filmes sobre alienígenas geralmente verdes e malignos.
O motivo é que o astrônomo julgou que as longas linhas que observou no planeta vermelho eram canais artificiais. A idéia de que teriam sido feitas por uma civilização inteligente foi expandida pelo norte-americano Percival Lovell (1855-1916), principalmente no livro Marte e seus canais, de 1906.
As observações e missões no século 20 derrubaram as crenças dos dois, ao mostrar a aridez da superfície marciana. Mas, recentemente, com as novas sondas enviadas e o projeto do governo norte-americano de enviar missões tripuladas ao planeta, a idéia de que Marte possa ter ou ter tido vida voltou à tona.
Não se trata mais de seres inteligentes, como queriam os dois astrônomos, mas pelo menos de micróbios, no que já seria a primeira comprovação da existência de vida fora da Terra. Para ter vida, julga-se necessário a existência de água. E exatamente essa valiosa substância foi identificada em Marte.
Agora, uma nova pesquisa traz de volta a lembrança de Schiaparelli e Lovell. Segundo James Head, do Departamento de Ciências Geológicas da Universidade Brown, nos Estados Unidos, e colegas o derretimento de geleiras foi o responsável pela formação de valas – naturais, e não artificiais – na superfície marciana.
Ou seja, segundo o estudo, Marte teve um dia muita água corrente. As valas foram identificadas em uma cratera com 10,5 quilômetros de diâmetro localizada dentro de outra formação muito maior, a cratera Newton, no hemisfério sul marciano.
Por meio de dados enviados por câmeras de alta resolução e radares altimétricos de sondas da Nasa, a agência espacial norte-americana, os pesquisadores identificaram as formações. Eles sugerem que nos locais existiram há milhões de anos geleiras, que foram submetidas a mudanças de temperatura resultando no derretimento das formações.
Nas depressões resultantes surgiram as valas, de maneira semelhante, segundo os autores, ao que ocorreu nos Vales Secos na Antártica.
A existência de água corrente em Marte tem sido um assunto controverso, uma vez que o planeta é atualmente seco demais para manter líquidos em sua superfície. Mas existe gelo, que sublima diretamente para a forma de vapor. Os cientistas estimam que no passado a órbita e inclinação diferentes teriam possibilitado a existência de água líquida em algumas regiões do planeta.
O artigo Formation of gullies on Mars: Link to recent climate history and insolation microenvironments implicate surface water flow origin, de James Head e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.
(Agência Fapesp, 26/08/2008)